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domingo, outubro 29, 2006

quarta-feira, outubro 18, 2006

Nu com a minha música


Caetano Veloso


Penso em ficar quieto um pouquinho

Lá no meio do som

Peço salamaleikum, carinho, bênção, axé, shalom

Passo devagarinho o caminho

Que vai de tom a tom

Posso ficar pensando no que é bom

Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor

Vertigem visionária que não carece de seguidor

Nu com a minha música, afora isso somente amor

Vislumbro certas coisas de onde estou

Nu com meu violão, madrugada

Nesse quarto de hotel

Logo mais sai o ônibus pela estrada, embaixo do céu

O estado de São Paulo é bonito

Penso em você e eu

Cheio dessa esperança que Deus deu

Quando eu cantar pra turba de Araçatuba, verei você

Já em Barretos eu só via os operários do ABC

Quando chegar em Americana, não sei o que vai ser

Ás vezes é solitário viver

Deixo fluir tranqüilo

Naquilo tudo que não tem fim

Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim

Vaca, manacá, nuvem, saudade

Cana, café, capim

Coragem grande é poder dizer sim

A sabedoria do Oriente - Meditação, reflexões e próvérbios

Não pode ser explicado.
Não pode ser desenhado.
Não pode ser admirado.
Não pode ser sentido com os sentidos.
É o teu verdadeiro Eu;
que não pode esconder-se.
Com o mundo destruído,
ele não será destruído.
Tradução: Paulo Mendes Campos
Seleção adaptada: Ellen Kei Hua


















(arquivo google, s/referência autor)
Álvaro de Campos
Quanto mais eu sinta,
quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente,
estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso,
dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro afora (...)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Gabriela Azevedo
(...) O viajante percorre um caminho longo ou curto. A história do viajante é menos a viagem e mais o que ele relata da sua viagem, o viajante requer um conto, uma narrativa, um manuscrito, uma crônica, uma memória ou um tratado. Ele pode ser um flâneur nas ruas do Rio de Janeiro, ele pode ser um metropolitano na colônia brasileira, ele pode ser um grego se perdendo nos mares, ele pode ser um cavaleiro em busca de honra e aventuras em florestas inóspitas ou pode ir passear sozinho na Antártida. Mas ele nada será se não houver quem saiba por onde andou e o que viu. Assim, ele pode ser João do Rio, Odisseu, Gabriel Soares de Sousa, Ivain, o cavaleiro do leão ou Amir Klink, desde que ele se lembre de relatar o que viu, o que pensou que viu ou o que quer que pensem que viu. A partir da compreensão da essência, sem perder a contextualização das distâncias (...) O olhar do viajante - cronista é o que vê as miudezas, relata as impressões e contradições. Não é à toa que João do Rio é o cronista do Rio de Janeiro...

sexta-feira, outubro 13, 2006

Cláudia Éfe
mas não está nada fácil, a vida
se eu soubesse,
alguma idéia,
lampejo,uma estratégia,
um relâmpago...
tarde demais, faria antes.

Dos poemas desnecessários

Cláudia F.


Mando meus desmantelos
meu coração intranqüilo
minhas faltas de data
minha pouca memória
e o melhor de mim

mando o que me navega
e os outros tráfegos
mando o que foi escrito com pressa
e outras urgências
mando o louco, o torto, o cético, o romântico

mando o explícito e desvairado
mando a música, a mais bonita
mando a orquestra, a banda
e uma voz rouca e outra ainda silenciosa

digo que você me atravessa
como uma lança
e se aloja nos meus sentidos

sábado, outubro 07, 2006

TEMPO AFORA (no CD "Vagabundo" com Ney Matogrosso, Pedro Luís e a Parede

(letra e música) Fred Martins e Marcelo Diniz
Onde mora a ternura
Onde a chuva me alaga
Onde a água mole perfura
A dura pedra da mágoa
Eu tenho o tempo do mundo
Tenho o mundo afora
Quando o carinho acontece
Quando a garoa é macia
E se cura e se esquece
A dor num canto vazio
Eu tenho o tempo do mundo
Tenho o mundo afora
Onde a alma se lava
Aonde o corpo me leva
Onde a calma se espalha
Onde o porto me espelha
Eu tenho o tempo do mundo
Tenho o mundo afora
Quando me lembro de tudo
Quando me visto de nada
E me chove e descubro
Quanto você me esperava
Eu tenho o tempo do mundo
Tenho o mundo afora
Onde mora a ternura...

quinta-feira, outubro 05, 2006

dos inéditos (ou quase)

Paulo Leminski
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade eu e você
caminhando junto

ENCHANTAGEM

Paulo Leminski

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei tarde demais
como uma lágrima

de tanto fazer tudo parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade

quarta-feira, outubro 04, 2006

TARSILA DO AMARAL


O Abaporu

Devolução

Cláudia F.

a noite de hoje me sugere que eu devolva
por imensos motivos
tão ásperas palavras.
Não mais nos atordoem
as horas
nós
desvairados, sem motivo, sem razão.
Não quero para o instante único
a racionalidade da lâmina
o corte ácido do tecido morto
Prisão, eu as tenho: engendradas
Constituída da própria carne e do próprio osso
A alma é outra coisa

Desenho de Almada Negreiros

terça-feira, outubro 03, 2006

POEMA EM LINHA RETA

Álvaro de Campos



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo.

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

domingo, outubro 01, 2006

Dos poemas desnecessários

Cláudia Efe

nesse instanste
meus sentimentos
são seus
e são meus
derramados
sou terra. sou pele.
não te direi:
o poema é esse lugar desnecessário
uns lugares por onde e andarei
aqui, estás comigo