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terça-feira, maio 15, 2007


xilogravura/fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4d/Casal_de_retirantes.jpg/260px-Casal_de_retirantes.jpg


a voz de Dona Maria: "Cantá, vivê, é assim desde que nasci, desde que mundo é mundo".

(a Dona Maria é presente da Célia Demézio...)

domingo, maio 06, 2007

quando amanhece

foto: arquivo Google s/referência autor

Cláudia Efe

um par de remos como arma
vez por outra âncora
acorde, cais
e um bom par de asas
para a vida dentro d'água

quinta-feira, maio 03, 2007

CELEBRAR A VIDA

Diário de Bordo
Oscar Quiroga

Data estelar: Mercúrio e Saturno em quadratura, Lua cheia mais importante do ano será vazia das 3h43 às 19h49, horário de Brasília.

Enquanto isso, aqui na nave Terra hoje nossa humanidade tem licença cósmica para se despreocupar, e através desse exercício celebrar a vida que a anima, na qual se movimenta e vivencia seu ser. O universo é um ser absolutamente vivo e em franca evolução, e na infâmia generalizada que se traveste com o nome de normalidade, nossa humanidade abandonou a mais importante obrigação cotidiana, que é a de honrar a vida logo depois de acordar e no instante em que vai dormir, e de preferência, fazê-lo também no momento do poente.

Por que isso? Ora! Porque todo o resto depende desse exercício de respeito e culto. Agora, hoje especificamente, em que maior luz espiritual foi derramada sobre a Terra, e que a Lua é Vazia, é propício tomar um bom tempo para despreocupar-se e celebrar a vida.

domingo, abril 29, 2007

SERRA DO LUAR (fragmento)

foto: arquivo Google s/referência autor

Letra e Música: Walter Franco

(...)

Viver é afinar um instrumento

De dentro pra fora, de fora pra dentro

A toda hora, a todo momento

De dentro pra fora, de fora pra dentro


Tudo é uma questão de manter

A mente quieta

A espinha ereta

E o coração tranqüilo

sábado, abril 28, 2007

É PROPÍCIO ABRIR A MENTE

arquivo Google s/referência autor

Oscar Quiroga

Data estelar: Vênus e Júpiter em oposição, Marte e Urano em conjunção, Lua será vazia das 16h15 às 18h46, horário de Brasília.

Enquanto isso, aqui na nave Terra é propício abrir a mente, tornando-a receptiva a informações que, à primeira vista, pareceriam saídas de literatura de ficção científica, mas que, pensando melhor, logo se notaria que fazem o maior sentido, pois essa informação vem de dentro mesmo, do centro do coração, plenamente capacitado a compreender sua participação ativa na inefável coreografia cósmica que significa a Lua Cheia do próximo dia 2 de Maio.

Não apenas é propício abrir a mente para acolher essa informação como também preparar-se devidamente para participar ativamente dessa coreografia, através da despreocupação, da prática da verdade, da tomada de atitudes corretas e, também, do esforço despendido em torno do comportamento não violento.

quarta-feira, abril 25, 2007

ELAS CONTAM



Lançamento de coletânea de contos com témática lésbica promete movimentar Porto Alegre

“Elas Contam”, será lançado no próximo dia 05 de maio, às 20 horas, no Café Concerto Mário Quintana, na rua dos Andradas, 736, 7º andar, Centro, Porto Alegre. A obra, que tem o selo da Editora Corações e Mentes e 160 páginas, poderá ser adquirida no lançamento, nas livrarias ou pelo site www.elascontam.com.br

A cantora, colunista e ativista lésbica, Vange Leonel assina a orelha do livro. A apresentação é da pesquisadora e escritora Lúcia Facco, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), autora dos livros “As heroínas saem do armário” e “Lado B”. “Elas Contam” é inteiramente ilustrado por Lara Lunna.

“Tivemos, ao organizar este livro, a preocupação em trazer à luz não textos que seriam escolhidos apenas por terem sido escritos por lésbicas, com temática lésbica”, explica Lúcia Facco, que também participa como organizadora da coletânea. Segundo ela, a proposta foi mostrar uma produção literária ainda desconhecida. Facco, que começou sua trajetória como contista em 2003, com o livro “Todos os Sentidos” - uma coletânea de contos eróticos escritos por mulheres, organizada pela professora Cyana Leahy (UFF) e publicada pela CL Edições - afirma que os trabalhos inseridos na coletânea “Elas Contam” não são apenas uma versão homoerótica daquelas historietas de amor, que podem ser compradas nas bancas de jornal. “Nem tampouco são meros panfletos que dizem ‘como é bom ser lésbica’. Nada disso. Desejamos mostrar que eles podem ser muito mais do que isso. Podem ser textos saborosos, bem feitos, com excelente qualidade literária. Textos que realizem uma das principais características de um texto literário: subverter o pensamento, provocando reflexões profundas nos leitores. Os textos desta coletânea fazem exatamente isso", relata a escritora.

“Elas contam” reúne trabalhos de 15 autoras, dos mais diferentes pontos do país, entre elas uma gaúcha, e tem como uma característica a diversidade, conforme se pode perceber na apresentação da obra: “Glória Azevedo, a poesia em prosa; Paula Marinho, o reencontro; Naomi Conte, o impressionismo; Mariana Cortez, o humor fino; Helena Fontana, o encontro; Lara Lunna, a aventura; Lúcia Facco, a crença no “irreal”; Andréa Ormond, a angústia e a esperança; Hanna-K, a melancolia; Jackie Rodrigues, a entrega; Carol, o sado-masoquismo; Lavínia Motta, o amor que se basta; Laisa Mackenna, o mítico; Danieli Hautequest, o perdão e Laura Bacellar, convidada especial, fundadora do selo GLS no Brasil, a certeza, confiança”.

O Lançamento em Porto Alegre busca fazer com que a diversidade do livro seja também expressa numa divulgação nacional. Porto Alegre é um dos principais pólos culturais do Brasil e carrega ainda simbolismo de ter excelentes escritores gays.

SERVIÇO

Lançamento do livro “Elas Contam” (160 p., R$ 26,00), Editora Corações e Mentes.
Dia 05 de maio, às 20h, no Café Concerto Mário Quintana, na rua dos Andradas, 736 – 7º andar.

* Com a presença das autoras Glória Azevedo, Naomi Conte, Lara Lunna e Helena Fontana
* Música com Aline Costa
* Venda de comidas e bebidas no local.

Informações: (51) 8114 – 9708 – Rose
(51) 9125 – 2592 - Ulisses

O Dialeto da Internet

fonte: PINHO, J.B. Jornalismo na Internet (páginas 13 a 30)

A World Wide Web (WWW) é uma ferramenta da Internet que possui características multimídia, permitindo a exibição de diversos tipos de recursos (som, imagens, animação) em uma única tela. A intuitividade gerada pelos recursos multimídias e o fato de possuir uma linguagem que pode agregar diversas outras ferramentas disponíveis na rede, como o correio eletrônico e os "bate-papos" virtuais, tornaram a Web sinônimo de Internet.

No vocabulário da Internet, o termo home page é utilizado para definir uma página de informações, codificada em HTML (HyperText Markup Language,a linguagem específica para desenvolver documentos com recursos de hipertexto para a Web. A página criada poderá conter, além de textos, elementos gráficos, sons, imagens, vídeos etc., além de oferecer acesso a outros serviços da rede, como envio de correio eletrônico (e-mail)e salas de bate-papo (chats).

Um site (sítio, em português) seria o agrupamento de diversas home pages sobre um mesmo assunto ou de uma mesma instituição. Para visualizar as home pages,entretanto, é necessário possuir um browser, o programa que exibe as páginas codificadas em HTML. O Browser é também conhecido como navegador pois permite navegar pelos hipertextos ou "surfar na rede". Os browsers mais utilizados atualmente são o Firefox (variação do software livre Mozila), o Netscape Navigator, da Netscape e o Internet Explorer, da MicroSoft.

Pelo fato de existirem milhões de home pages disponíveis na Internet e para ser possível localizar exatamento a que se deseja, cada home page possui um nome único, como um endereço. O endereço completo de uma home page é conhecido como URL (Uniform Resource Locator) e através dele o browser consegue localizar exatamente a informação desejada.

De acordo com Márcio Chleba, a composição do endereço de um site Internet tem quatro identificadores, no seguinte formato: www.domínio.tipo.país. (CHLEBA, 1999, p.110). O primeiro é um nome qualquer, geralmente utilizado para informar o tipo de serviço oferecido, como www (world wide web). O segundo é o nome do seu domínio, que fica registrado em um diretório geral de domínios. O terceiro nome identifica o tipo de site: .com para site comercial, .gov para governamental, .edu para instituições de ensino etc.. O quarto identifica o país: .br para Brasil, .ar para Argentina etc.. Se não houver identificação, o site é norte-americano, privilégio obtido pelo fato de ter sido os Estados Unidos os criadores da Internet.

GLOSSÁRIO

Agregador - Leitor de arquivos RSS. Pode ser instalado no computador ou ser baseado na web.

ARPAnet - Primeira rede de computadores distribuída, da ARPA (Advanced Projects Research Agency), que deu origem à Internet.

Blog
- Site atualizado regularmente com estrutura cronológica. O nome vem da contração de duas palavras em inglês, Web (world wide web) e log, que significa registro.

Browser - (navegador) Programa utilizado para exibir as páginas de um site, permitindo a navegação pelo hipertexto.

Chats - Programas utilizados para conversas sincrônicas na rede em tempo real. A forma de login é dinâmica e seu acesso é geralmente realizado através de salas públicas.

Download - Transferir dados ou programas de um servidor para um computador. Em português diz-se "baixar" da Internet, ou seja, buscar algo que está online, no ar, e trazer para o computador pessoal. O oposto de Upload.

E-mail - É o correio eletrônico, um mode de trocar correspondência entre equipamentos conectados à Internet.

Flog - Contração de fotoblog ou fotolog. Um blog que traz fotos nos posts.

Home page - A página de abertura de um site.

HTML - (HyperText Marku Language). Linguagem específica para desenvolver documentos com recursos de hipertexto para a Web.

Internet - Rede mundial formada a partir da interconexão de computadores por meio de um protocolo de comunicação chamado de IP (Internet Protocol). A world wide web é uma parte da Internet.

iPod - Tocador de arquivos digitais de áudio e vídeo da Apple.

Mensagens Instantâneas - Programas utilizados na rede para troca de mensagens em tempo real. É necessário a instalação de um programa para a troca de mensagens e também o cadastro de um login e senha de acesso. A troca de mensagens ocorre entre usuários cadastrados pelo programa.

Online - Diz-se de algo que está disponível na Internet ou de alguém que está conectado à rede mundial de computadores.

Página - Arquivo contendo informações textuais ou aidiovisuais, geralmente codificada em HTML. Outras linguagens mais avançadas também podem ser utilizadas, como ASP, PHP, DHMTL etc..

Podcast - É um meio de distribuir arquivos digitais pela Internet. Os arquivos ficam hospedados em um endereço na Internet e, por download, chegam ao computar pessoal ou tocador. A divulgação do pdcas é feita pelo RSS.

Post - Cada um dos textos inseridos em um blog.

RSS - Sigla para "Really simple Syndication" (divulgação muito simples) ou "rich site summary" (sumário rico de site). Formato de arquivo com padrão mundial que funciona com linguagem XML. Usado para distribuir informações na Internet.

Site - (sítio) É uma publicação digital sobre um determinado assunto, contendo várias páginas de informações. Pode disponibilizar conteúdo institucional, informativo, publicitário, além de oferecer a comercialização de produtos e serviços.

Upload - Transferir um arquivo para um servidor na Internet. Costuma-se dizer jogar na rede, colocar no ar ou subir um arquivo. O Contrário de download.

URL - Sigla para Uniform Resource Locator. É o endereço ou domínio de um site na Internet.

Vlog - Abreviação de videoblog ou videolog. Um blog feito com vídeos.

Wiki - Tipo de site criado especialmente para a escrita colaborativa e que permite aos usuários facilmente adicionar ou editar conteúdos.

www - Sigla para world wide web, que significa grande teia mundial. É um espaço virtual onde é possível visualizar e adicionar conteúdos por meio de equipamentos conectados à Internet. É a interface gráfica da Internet. Também chamada de web.

quarta-feira, abril 18, 2007

PRIMEIRO PRENÚNCIO


Alberto Caeiro

Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
Da trovoada de depois de amanhã?
Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
Ter certeza é não estar vendo.
Depois de amanhã não há.
O que há é isto:
Um céu de azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
Com um retoque de sujo embaixo como se viesse negro depois.
Isto é o que hoje é,
E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.
Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
Mas se eu não estiver no mundo.
O mundo será diferente
—Haverá eu a menos
—E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.

presente da Célia Demésio para o Automóveis

terça-feira, abril 17, 2007

NOVA OFICINA DE MÍMICA

foto: arquivo Google, s/referência autor
com JIDDU SALDANHA




21 de abril, sábado
Inscrições e Informações
: (21) 3435 7257
ou atendimento@alternativadesign.com.br
Local : Rua Cosme Velho, 599 - Cosme Velho
Investimento: R$ 80,00 à vista.
Forma de Pagamento: Depósito no Banco Bradesco,
Favorecido: Alternativa Produções Culturais Ltda.,
Conta Corrente: 0007660-0, Agência: 02789-8.

MÍMICA TEATRAL



A oficina tem como objetivo melhorar o desempenho na técnica de atuar, ampliando os conhecimentos do aluno na arte do gesto.

Programa:

• Mímica - abordagem contemporânea

• Interpretação gestual

• Pantomima e roteiro

• Improvisação

• A Mímica no Brasil e no Mundo

• Sugestões bibliográficas


Público-Alvo

Artistas e interessados em geral a partir de 14 anos.


Jiddu Saldanha é ator com especialização e dedicação na arte da mímica. Com 17 anos de experiência já se apresentou em importantes teatros de capitais e cidades do interior do Brasil. Com carreira consolidada, Jiddu agora se dedica também à pedagogia, ensinando sua técnica para artistas profissionais e amadores. Seu trabalho também é bastante solicitado na educação e em cursos voltados para executivos, entre outros.


Lembretes importantes:

1. A oficina poderá ser cancelada ou alterada a data de início caso não consiga atingir o número mínimo de alunos que viabilize a sua realização.

Caso isto ocorra, a inscrição poderá ser devolvida.

2. Só será aceito o cancelamento de inscrições com 72 horas úteis de antecedência à data de início do curso.


terça-feira, abril 10, 2007

HIPÉRBOLE

Cláudia Éfe

Tem gente bem
Tem gente que não vai nem vem
e só o meu lado tosco escreve pra isso
Gosto, por preferência ou desespero
de saber que há
o
Tem gente do bem
Tem gente vento tempestade cometa
tem gente eixo em outro planeta
tem gente meio seixo meio fio
tem gente encruzilhada
tem gente arrepios
tem gente em berros uivos por outra gente
tem gente avessos revirados pra ser gente
e tem gente por outra gente meio calada
tem gente que desarruma uns sentidos

mas quando escorremos
viramos uma mesmo quase água
estando lânguidos
ou amotinados

quinta-feira, abril 05, 2007

DA POLÍTICA

Cézar Sanchez

O Homem trabalhou a vida toda.
Acordou cedo, pegou o ônibus, pagou a conta.
Viveu assim anos a fio.
Queria mais mas não podia.
Tentava e não conseguia.
Valente corria corria...
A fome batia
As vezes açoitava mesmo que dia.
Até quando a mulher paria.
E isso aconteceu todo santo dia.
Na vida do outro foi diferente.
Acordava cedo para estudar.
Um novo dia... vou sonhar.
Aprendi mais cálculos... vou somar.
Cresci, mãe vou me mandar.
Amigos da escola me separar.
Novos amigos vou trabalhar
Mas como foi fácil chegar lá.
Um pouco de lábia pra enganar
E o seu voto consegui ganhar.
Que mesmo com fome, me ouviu falar.
E nessa noite eu vou jantar.
Amanhã vou viajar.
Depois eu vou transar, festas realizar.
Com a sua fome eu vou lucrar.
Pois pra mim você vai trabalhar.
Assim de manhã você vai chorar.
Pois o teu filho não terá o leite para tomar.
Venci.

segunda-feira, abril 02, 2007

A LUCIDEZ PERIGOSA

imagem "capturada" do bonito www.miscelaneavanguardiosa.blogspot.com/ - sem referência autor
Clarice Lispector

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito do qual,
no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que: que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

PRECISÃO


Clarice Lispector


O que me tranquiliza é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte
do que existe com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

sábado, março 31, 2007

Por enquanto

John Hummel - arquivo Google

Cláudia Éfe

Você é o desconhecido
eu me pretendo
pular páginas
mergulhar em vírgulas
fumo em continuidade

e outras reticências

afinar o limite
até provocar o bastante
para decompor-se
melodicamente
no quanto

quinta-feira, março 29, 2007

CIBERDEPENDENTE


Célia Demézio

No lugar dos óculos
Ponha o escuro.
No lugar do azul,
Acenda a luz.
No lugar da cama,
Ponha a mesa.
No lugar do inferno,
Ponha fogo.
No lugar dos olhos,
Ponha lentes.
No lugar do um,
Ponha coisas.
No lugar do nada,
Ponha espelhos.
No lugar do dez,
Apanhe no horário.
No lugar de segredos,
Ponha falas.
No lugar da música,
Ponha os dedos.
No lugar da festa,
Ponha estrelas.
No lugar da rua,
Ponha diz que não.
No lugar da dor,
Não há remédio.
No lugar das falhas,
Ponha medalhas.
No lugar da frente,
Ponha o medo.
Num lugar ilusionista,
Aperte o botão.
No lugar do dia,
Ponha neblina.
No lugar da vida,
Ponha boa noite querida.
No lugar afinal,
Ponha a cabeça sobre o cobertor.

quarta-feira, março 28, 2007

UM NOVO CICLO DE RIQUEZAS

Oscar Quiroga


Data estelar: Mercúrio e Urano em conjunção no signo de Peixes, Lua cresce em Leão.

Enquanto isso, aqui na nave Terra um novo ciclo de riquezas materiais e espirituais anda se decidindo em tempo curto, resultando disso uma sensação de urgência que informa as almas humanas de não ser propício continuar perdendo tempo em tolices, preocupações ou aspectos periféricos.

O assunto agora é participar ativamente da decisão, pois o ciclo de riquezas significará prosperidade ou miséria, dependendo do objetivo e do método assumido para conquistá-lo. Por isso, aqui vai a dica, o método da competição desenfreada tem produzido, ao longo da história, desgraça e miséria, e agora se coloca à disposição de nossa humanidade a idéia de usar outro método, o da colaboração mútua, só que ainda ninguém sabe como fazer para aproveitar esse caminho.

em 28 de março de 2007

sábado, março 24, 2007

RE-SEIOS

Célia Demézio

Em cima da mesa ponho.
Debaixo da mesa guardo.
Limpo o pó de todo brilho.
Escolho o feijão que vou plantar olhando a noite germinar.
Ligo o ventilador e saio voando.
Passo férias de duas horas em Paquetá.
Então me lembro que esqueci a chave.
Volto mexendo os dedinhos como fossem nadadeiras no ar.
É hora de trabalhar!
Um prato apoiado no livro.
Sedas vazias.
Palitos apagados.
Um nó no fio da televisão.
Reviro gavetas atrás de sutiãs.
Procuro inspiração.

MÚSICA

Eduardo Sterzi

a musa voluptuosa
pede passagem

e lhe damos –
prosa:

qualquer imagem
vale mais

que a floração sentimental de uma
rosa:

gás lacrimogêneo,
luto, melancolia,

estrofe,
catástrofe,catarse:

deposita-se, linear
(limpa e suja como um verso)
pela praia pedregosa da palavra
- esta espuma.

(Do livro “Prosa”, publicado em 2001. Porto Alegre, Instituto Estadual do Livro.)

quinta-feira, março 22, 2007

COMO É POR DENTRO...

Fernando Pessoa

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

(1934)

NÃO ENTENDO

Clarisse Lispector


Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

segunda-feira, março 19, 2007

Sobre um certo Mário Quintana

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

O texto acima foi escrito pelo poeta para a revista Isto É de 14/11/1984.
Mário Quintana faleceu no dia 05/05/94.

A CARTA

Mário Quintana

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

(foto: arquivo Google, sem referência autor)

domingo, março 18, 2007

DIÁRIO DE BORDO

(ilustração: arquivo Google sem referência autor)


Oscar Quiroga


EM NOME DA EVOLUÇÃO

Data estelar: Mercúrio ingressa no signo de Peixes, e a Lua atinge sua fase nova nesse mesmo signo.


Enquanto isso, aqui na nave Terra, a partir de agora, e em nome da urgente contribuição que nossa humanidade deve prestar ao processo evolutivo do qual é parte integrante, cada dia há de tornar-se motivo para roubar um minuto daqueles que normalmente seriam displicentemente dedicados às preocupações. Esse minuto roubado diariamente há de ser consagrado ao esclarecimento, à elevação espiritual, pois de pouco em pouco nossa humanidade precisa contribuir ativamente para fechar a porta cósmica onde o Mal entra livremente, invadindo a sociedade humana com miséria.


Nossa humanidade é parte integrante e agente ativa desse mal, contribuindo com pensamentos nefastos, todos consagrados a deprimir-se e amargar-se. Esse panorama pode, e deve mudar, o quanto antes.


18 de março de 2007
http://www.astrologiareal.com.br/

SOBRE CAFÉS E CIGARROS


Fernando de Castro

Prometi não falar mais de cigarro. Pega mal. Parece apologia. Também já prometi tentar parar de fumar. Ainda nem tentei. É sabido que o cigarro é o pior de todos os vícios. Falar de cigarros talvez seja o segundo pior, hoje em dia. É difícil soprar a fumaça a seco, fuzilado por olhares saudáveis, sem poder contra-argumentar com qualquer coisa positiva. O cigarro fede às narinas evoluídas, e não adianta forjar considerações que ressaltem a noção de aroma. Não existe safra de tabaco. Ninguém pede um maço de Marlboro vermelho ano 63. A fumaça escurece pulmões alheios. Somos assassinos de nós mesmos e de uma legião de futuros triatletas. O estado de acuamento é quase justo e reforça a impressão de que não duraremos muito tempo. Todo cigarro tem sabor de último cigarro. Nosso destino é a extinção, assim como aconteceu com o Minister Extra Mild e a ética petista.

Comecei a fumar em 1996. Foi um ano e tanto para o Brasil. O frango virou herói nacional. FH nos chamou de caipiras. Morreram Renato, Russo, Mamonas Assassinas e PC Farias. Maluf elegeu Celso Pitta prefeito de São Paulo. Em Ipanema, a moda eram os apitos nas rodas em que se fumava maconha, para avisar que a polícia se aproximava. Não me lembro do meu primeiro cigarro, mas sei que não foi em Ipanema e que ainda não se fazia necessário usar um apito antes de acendê-lo. Não era caso de polícia.

O início dos anos 2000 pareceu uma época extremamente promissora para os novos tabagistas. Mal sabíamos que era o apagar das guimbas. Na Alemanha, fumava-se até em supermercado. Em Barcelona, em bares como o delicioso Oveja Negra, provocava-se: “Aceitam-se não-fumantes”, dizia a placa, numa versão bem mais politicamente incorreta do que a dos cafés portugueses da Ribeira, no Porto, onde as placas acusavam a proibição de se estudar no local. Foram nossos anos JK. Devíamos ter previsto que a dívida que nos esperava seria praticamente impossível de pagar.

Certa vez o Zuenir, com toda a sua elegância, ao me ver acendendo um cigarro, sugeriu que eu fazia besteira. O Zuenir sabe das coisas. Tentei ser espirituoso, que é a forma mais honrada de se falar asneiras e justificar fraquezas. Disse que apostava na medicina. No fundo, fazia um bem para a sociedade. A ciência precisava de tipos como eu. Só assim alcançaríamos a cura para as doenças potencializadas pelo consumo do cigarro. Não pretendia uma placa ou estátua quando esse dia chegasse. Nada de monumentos em homenagem ao fumante desconhecido. Tragava pelo bem da humanidade. Eu era assim, um abnegado. Zuenir riu. O Zuenir é um ex-fumante elegante.

O golpe definitivo contra nossa espécie foi essa lei que proíbe o consumo de cigarros em cafés, bares, restaurantes, farmácias ou qualquer outro estabelecimento que venda produtos de necessidade fundamental ao ser humano, como café, chope, bife à milanesa e desodorante. Foi o primeiro passo rumo a nossa anti-sociabilidade definitiva. Nosso prazer hoje está nos pequenos momentos. Aqueles em que nos vemos autorizados a desviar da lei, com a conivência indireta dos nossos inimigos – ou seja, os não-fumantes inveterados, a espécie que mais cresce no Brasil.

Meu único grande momento se deu há algumas semanas. Teve como palco um dos melhores cafés-restaurantes-livrarias da Zona Sul, cujo rigor da lei se faz enxergar nas diversas placas espalhadas por todas as suas dependências. Já recusava o endereço há algum tempo, pelo óbvio motivo de que não se podia mais fumar ali. Até que certa noite eu encontrei o Antônio Torres na porta. Chamou-me para um café, ao que fiz menção de recusar, mas o bom senso me avisou que um café com o Torres seria agradável até sem as necessárias doses de nicotina que o líquido exige.

Casa lotada, mesa central, o Torres não tardou dois minutos para acender um cigarro. Esperei pela reação dos outros clientes, convicto de que as primeiras queixas não demorariam. Mal sabia eu do prestígio do grande escritor. Sempre que alguém acusava o gesto de irritação, espiava a origem daquela fumaça e, permissivo com o vício do autor de Meu querido canibal, recolhia-se ao seu prato, numa das maiores manifestações de respeito que já vi um não-fumante praticar. Foi lindo. Fui de carona, no prestígio do Torres. Fumamos à beça, feito dois Cunhambebes entre tantos colonizadores. E, contrariando toda história recém-escrita, saímos de lá como vencedores.

(Artigo publicado no Jornal do Brasil, em 18 de julho de 2006
foto: www.diamang.com/diamang/Lunda/povo/ocupacoes/...)

sábado, março 17, 2007

SINAIS

letra e música: Cláudia Éfe

Baque solto na noite
Pulsamos na mesma cidade
De um lado, é claro
Do outro, é só futuro
Triste festa na aldeia
Meninos passeiam nus
Nossas caras lavadas a lua presenciou
Gemidos nos seus porões
para sempre
incêndio no meu país
Ferida aberta é a fome
saindo dos seus sinais
rumo à fronteira da nossa indiferença
Sonharão com dias melhores?
Futuro que nunca amanhece
eterno dia seguinte
sangrando a nossa arte
Poema concreto absurdo
Vanguarda em cima dos muros
para sempre

quarta-feira, março 14, 2007

LIVRE PARA FRACASSAR...

Hilda Hilst

O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus.
Tentou na palavra o extremo-tudo
E esboçou-se santo, prostituto e corifeu.
A infância
Foi velada: obscura na teia da poesia e da loucura.
A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito
Tempo-Nada na página.
Depois, transgressor metalescente de percursos
Colou-se à compaixão, abismos e à sua própria sombra.
Poupem-no o desperdício de explicar o ato de brincar.
A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo.
O Caderno Rosa é apenas resíduo de um "Potlatch".
E hoje, repetindo Bataille:
"Sinto-me livre para fracassar".

terça-feira, março 13, 2007

DESEJOS

Naomi Conte

Um dia ela ainda
se solta
perde os brios
a pose
o medo
e nesse dia
há de me deixar à deriva

domingo, março 11, 2007

Não te rendas jamais

Eduardo Alves da Costa

Procura acrescentar um côvado à tua altura.
Que o mundo está à míngua de valores
e um homem de estatura justifica a existência
de um milhão de pigmeus a navegar na rota previsível
entre a impostura e a mesquinhez dos filisteus.
Ergue-te desse oceano que dócil se derrama sobre a areia
e busca as profundezas, o tumulto do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes.
Não te rendas jamais, nunca te entregues,
foge das redes, expande teu destino.
E caso fiques tão só que nem mesmo um cão venha te lamber a mão,
atira-te contra as escarpas de tua angústia e explode em grito, em raiva, em pranto.
Porque desse teu gesto há de nascer o Espanto.

Sobre um certo poema no caminho...


O poeta Eduardo Alves da Costa garante que Maiakóvski nada tem a ver com o tema, assim noticia a Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003, na íntegra:
"Um Maiakóvski no caminho"
Foi resolvida graças à novela das oito uma confusão de 30 anos. Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, 67, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era (quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930).Em "Mulheres Apaixonadas", Helena (Christiane Torloni) leu um trecho do poema, dando o crédito correto. Foi o suficiente para reavivar a polêmica -resolvida dois capítulos depois, em que a autoria de Costa foi reafirmada- e, de quebra, fazer surgir uma proposta de reeditar o poema, para aproveitar a exposição no horário nobre.Livro combinado, a noite de autógrafos será na novela. "Pedi que apresse e me mande até o dia 10. Quero lançar aqui", diz Manoel Carlos, autor de "Mulheres". Eduardo Alves da Costa falou à coluna:Folha - Você se arrepende de ter posto Maiakóvski no título?Eduardo Alves da Costa - De maneira nenhuma! Tanto que vou usar o mesmo título para o livro que sai agora.Folha - Durante mais de 30 anos acreditaram que o poema era dele. Isso não o incomoda?Costa - Era uma enxurrada muito grande. Saiu em jornais com crédito para Maiakóvski. Fizeram até camisetas na época das Diretas-Já. Virou símbolo da luta contra o regime militar.Folha - Como surgiu o engano?Costa -O poema saiu em jornais universitários, nos anos 70. O psicanalista Roberto Freire incluiu em um livro dele e deu crédito ao russo e me colocou como tradutor. Mas já encomendei da França a obra completa do Maiakóvski. Quando alguém me questionar, entrego os cinco volumes e mando achar o poema lá.
"Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada"
Trecho do poema de Eduardo Alves da Costa atribuído ao russo Vladimir Maiakóvski.
Leia agora o poema inteiro
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti,
Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,aprendi a ter coragem.
Tu sabes,conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,matam nosso cão,e não dizemos nada.
Até que um dia,o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,porque não estou amedrontado
a ponto de cegar,
que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortinal
ançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,no plantio.
Mas ao tempo da colheitalá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos laresmas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condiçãode falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,o coração grita - MENTIRA!

sábado, março 10, 2007

insanidades

foto: arquivo Google, sem referência autor
Gabriela Azevedo & Cláudia Éfe



Vaõ-se as penas

ficam os poemas

sábado, março 03, 2007

REFERENDO EM PORTUGAL

DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO EM PORTUGAL: A CONFIANÇA NA DECISÃO DAS MULHERES
(Texto enviado pelas Historiadoras
Alcilene Cavalcanti e Gabriela Azevedo)

A sociedade portuguesa, no último 11 de fevereiro, deu um basta ao obscurantismo e aos grupos fundamentalistas e conservadores que se opunham ao livre exercício da cidadania e aos direitos individuais, por conseguinte opunham-se à democracia. Mulheres e homens de Portugal votaram Sim pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez, por opção da mulher, até a 10ª semana, em estabelecimento regulamentado pelo Estado. Aproximadamente 59% dos/as votantes expressaram a confiança na capacidade que as mulheres têm de tomar decisão com base na ética e na moral.
Católicas pelo Direito de Decidir colaborou com essa conquista para a Democracia, logo, para os Direitos Humanos das Mulheres, apresentando, juntamente com católicos/as mandatários/as de diferentes movimentos pelo Sim, em oito cidades portuguesas (Angra do Heroísmo, Ponta Delgada – Açores –, Serpa, Porto, Braga, Viseu, Coimbra e Lisboa), argumentos que servissem de subsídios para crentes e não crentes – para usar expressão muito pronunciada em Portugal – votarem a favor de as mulheres terem o direito de decisão e, com isto, de não serem penalizadas e humilhadas.
Quando uma mulher decide abortar – seja por qual motivo for – ela analisa suas próprias condições de vida e o que poderia ofertar para uma futura criança. Trata-se de um gesto de grande responsabilidade e de difícil decisão, no qual a mulher faz uso de sua consciência. Ao contrário, pressupor algo diferente disto, implicaria considerar as mulheres irresponsáveis, insanas e desvairadas. Infelizmente, essa visão sobre as mulheres ainda é presente em certos segmentos sociais que defendem a criminalização do aborto, ignorando os desdobramentos do aborto inseguro para a saúde da mulher e manifestando descaso para com a maternidade e a paternidade responsáveis – ao menos foi o que se ouviu em diferentes pronunciamentos daqueles que fizeram campanha pelo Não, em Portugal, e que encontram equivalência também no Brasil.
A propósito, foi espantoso acompanhar a manipulação de informações empreendida pelos mandatários que defendiam o voto Não: aquelas pessoas alegavam a defesa incondicional da vida – mas defendiam apenas o embrião –; criaram a maior confusão acerca da idade fetal, como se não houvesse diferença alguma entre as denominações embrião, feto, criança, filho; médicos/as pesquisadores/as apresentaram ultrassonografias de gravidezes de 20 semanas como se fossem imagens de 10 semanas; apresentaram ecografias e audios de batimentos cardíacos referentes a idade fetal de 18 semanas ou mais como sendo relativos a 10 semanas; os conteúdos de cartazes, panfletos e outdoors eram absolutamente apelativos, o que procurava inviabilizar diálogos com base na razão.
Além disso, tais grupos argumentavam que a alteração da lei geraria aumento da demanda de mulheres para abortar e isto acarretaria a implosão da rede de saúde, tornando necessário aumentar os impostos dos contribuintes para se arcar com os custos desse tipo de serviço. Ora, primeiro, ignoraram que toda política social, principalmente, que implica redução de danos, tem uma demanda maior em um primeiro momento; segundo, suscitaram que as mulheres são irresponsáveis; terceiro, desconsideraram o custo que o Estado já tem devido ao aborto clandestino: afinal, centenas de mulheres são internadas anualmente, em hospitais portugueses, por complicações de abortos inseguros.
Mas, apesar dessa tentativa de criar confusão, os portugueses e as portuguesas não se deixaram manipular: votaram Sim pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez, por opção da mulher, até a 10ª semana – configurando uma diferença de quase 20% a mais dos votos em relação ao Não.
Há ainda três aspectos a sublinhar: o primeiro, refere-se ao fato de que a população de Portugal (11 milhões de habitantes) é menor do que a da capital de São Paulo, não sendo o voto obrigatório sequer nas eleições para parlamentares; em segundo lugar, a sociedade civil portuguesa envolveu-se diretamente no referendo, expondo-se publicamente por meio de agrupamentos específicos que envolviam médicos; parlamentares de diferentes partidos; religiosos; operadores do direito; professores; jovens; artistas; intelectuais; mídias, organizações sociais; enfim, homens e mulheres.
O último aspecto. O referendo foi a saída que o governo português encontrou para superar os entraves dos segmentos sociais que não se dispunham a compreender a relação entre direitos reprodutivos e democracia, bem como guardavam uma visão bastante estereotipada sobre as mulheres. Contudo, interromper ou não uma gravidez, além de ser algo de foro íntimo, o que deve ser resguardado, no máximo regulamentado em regimes democráticos, consiste em direitos reprodutivos que, como tais, não configuram matéria de referendo ou plebiscito. Acrescente-se, ainda, que a criminalização do aborto não reduz a prática, ao contrário, transforma a matéria em problema de saúde pública.
Desse modo, enfrentar honestamente a problemática do aborto – presente em diferentes sociedades – exige, em nosso caso, não um referendo ou um plebiscito, mas que nossos/as parlamentares descriminalizem o aborto e regulamentem sua prática e, assim, alinhe o Brasil aos demais países democráticos.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007


Amigos, o poeta Zeca de Magalhães remanescente do movimento URBANA e também um dos fortes nomes da poesia marginal, faleceu no dia 24 de fevereiro.
Ele foi vítima de uma queda acidental e sofreu traumatismo craniano.

Nossa saudade e homenagem ao Amigo e Poeta

paixões
não são
inflamáveis
quando duram,
infláveis
quando
muito
palpáveis
quando
nada
um pouco
é tudo.

(Zeca de Magalhães)
poema extraído do livro do autor"O NOME DO VENTO"Edição de 1998

domingo, fevereiro 25, 2007

PASSAGEM DAS HORAS

Álvaro de Campos

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde,
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente
Yat-iô--ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô ... Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade
A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol
Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
Tempestades em torno ao Guardaful...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...

Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?
Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico...
Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...
Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e solícito.
Só humanitariamente é que se pode viver.
Só amando os homens, as ações, a banalidade dos trabalhos,
Só assim - ai de mim! -, só assim se pode viver.
Só assim, o noite, e eu nunca poderei ser assim!
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.

Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida...

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Uma razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.
Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila...
Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,
Tu que não existes, que és só a ausência da luz,
Tu que não és uma coisa, um lugar, uma essência, uma vida,
Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão,
Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,
Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,
E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte...
'Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva...
Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem...
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos

Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens.
Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.
Estreito ao meu peito arfante, num abraço comovido,
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria,
E o matricida, o fratricida, o incestuoso, o violador de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras, a sombra que espera nas vielas —
Todos são a minha amante predileta pelo menos um momento na vida.
Beijo na boca todas as prostitutas,
Beijo sobre os olhos todos os souteneurs,
A minha passividade jaz aos pés de todos os assassinos
E a minha capa à espanhola esconde a retirada a todos os ladrões.

Tudo é a razão de ser da minha vida.
Cometi todos os crimes,
Vivi dentro de todos os crimes
(Eu próprio fui, não um nem o outro no vicio,
Mas o próprio vício-pessoa praticado entre eles,
E dessas são as horas mais arco-de-triunfo da minha vida).
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
Os braços de todos os atletas apertaram-me subitamente feminino,
E eu só de pensar nisso desmaiei entre músculos supostos.
Foram dados na minha boca os beijos de todos os encontros,
Acenaram no meu coração os lenços de todas as despedidas,
Todos os chamamentos obscenos de gesto e olhares
Batem-me em cheio em todo o corpo com sede nos centros sexuais.
Fui todos os ascetas, todos os postos-de-parte, todos os como que esquecidos,
E todos os pederastas - absolutamente todos (não faltou nenhum).
Rendez-vous a vermelho e negro no fundo-inferno da minha alma!
(Freddie, eu chamava-te Baby, porque tu eras louro, branco e eu amava-te,
Quantas imperatrizes por reinar e princesas destronadas tu foste para mim!)
Mary, com quem eu lia Burns em dias tristes como sentir-se viver,
Mary, mal tu sabes quantos casais honestos, quantas famílias felizes,
Viveram em ti os meus olhos e o meu braço cingido e a minha consciência incerta,
A sua vida pacata, as suas casas suburbanas com jardim,
Os seus half-holidays inesperados...
Mary, eu sou infeliz...
Freddie, eu sou infeliz...
Oh, vós todos, todos vós, casuais, demorados,
Quantas vezes tereis pensado em pensar em mim, sem que o fósseis,
Ah, quão pouco eu fui no que sois, quão pouco, quão pouco —
Sim, e o que tenho eu sido, o meu subjetivo universo,
Ó meu sol, meu luar, minhas estrelas, meu momento,
Ó parte externa de mim perdida em labirintos de Deus!
Passa tudo, todas as coisas num desfile por mim dentro,
E todas as cidades do mundo, rumorejam-se dentro de mim ...
Meu coração tribunal, meu coração mercado,
Meu coração sala da Bolsa, meu coração balcão de Banco,
Meu coração rendez-vous de toda a humanidade,
Meu coração banco de jardim público, hospedaria,
Estalagem, calabouço número qualquer cousa
(Aqui estuvo el Manolo en vísperas de ir al patíbulo)
Meu coração clube, sala, platéia, capacho, guichet, portaló,
Ponte, cancela, excursão, marcha, viagem, leilão, feira, arraial,
Meu coração postigo,
Meu coração encomenda,
Meu coração carta, bagagem, satisfação, entrega,
Meu coração a margem, o lirrite, a súmula, o índice,
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, bazar o meu coração.

Todos os amantes beijaram-se na minh'alma,
Todos os vadios dormiram um momento em cima de mim,
Todos os desprezados encostaram-se um momento ao meu ombro,
Atravessaram a rua, ao meu braço, todos os velhos e os doentes,
E houve um segredo que me disseram todos os assassinos.
(Aquela cujo sorriso sugere a paz que eu não tenho,
Em cujo baixar-de-olhos há uma paisagem da Holanda,
Com as cabeças femininas coiffées de lin
E todo o esforço quotidiano de um povo pacífico e limpo...
Aquela que é o anel deixado em cima da cômoda,
E a fita entalada com o fechar da gaveta,
Fita cor-de-rosa, não gosto da cor mas da fita entalada,
Assim como não gosto da vida, mas gosto de senti-la ...
Dormir como um cão corrido no caminho, ao sol,
Definitivamente para todo o resto do Universo,
E que os carros me passem por cima.)
Fui para a cama com todos os sentimentos,
Fui souteneur de todas ás emoções,
Pagaram-me bebidas todos os acasos das sensações,
Troquei olhares com todos os motivos de agir,
Estive mão em mão com todos os impulsos para partir,
Febre imensa das horas!
Angústia da forja das emoções!
Raiva, espuma, a imensidão que não cabe no meu lenço,
A cadela a uivar de noite,
O tanque da quinta a passear à roda da minha insônia,
O bosque como foi à tarde, quando lá passeamos, a rosa,
A madeixa indiferente, o musgo, os pinheiros,
Toda a raiva de não conter isto tudo, de não deter isto tudo,
Ó fome abstrata das coisas, cio impotente dos momentos,
Orgia intelectual de sentir a vida!
Obter tudo por suficiência divina —
As vésperas, os consentimentos, os avisos,
As cousas belas da vida — O talento, a virtude, a impunidade,
A tendência para acompanhar os outros a casa,
A situação de passageiro,
A conveniência em embarcar já para ter lugar,
E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,
E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa.
Poder rir, rir, rir despejadamente,
Rir como um copo entornado,
Absolutamente doido só por sentir,
Absolutamente roto por me roçar contra as coisas,
Ferido na boca por morder coisas,
Com as unhas em sangue por me agarrar a coisas,
E depois dêem-me a cela que quiserem que eu me lembrarei da vida.

Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.
Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário,
Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia
Que a dor real das crianças em quem batem
(Ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em quem batem —
E por que é que as minhas sensações se revezam tão depressa?)
Eu, enfim, que sou um diálogo continuo,
Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre,
Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque
E faz pena saber que há vida que viver amanhã.
Eu, enfim, literalmente eu,
E eu metaforicamente também,
Eu, o poeta sensacionista, enviado do Acaso
As leis irrepreensíveis da Vida,
Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada,
O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim,
Prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo
E acha mais seu olhar para o absinto a beber que bebê-lo...
Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma,
Sem personalidade com valor declarado,
Eu, o investigador solene das coisas fúteis,
Que era capaz de ir viver na Sibéria só por embirrar com isso,
E que acho que não faz mal não ligar importâricia à pátria
Porque não tenho raiz, como uma árvore, e portanto não tenho raiz
Eu, que tantas vezes me sinto tão real como uma metáfora,
Como uma frase escrita por um doente no livro da rapariga que encontrou no terraço,
Ou uma partida de xadrez no convés dum transatlântico,
Eu, a ama que empurra os perambulators em todos os jardins públicos,
Eu, o policia que a olha, parado para trás na álea,
Eu, a criança no carro, que acena à sua inconsciência lúcida com um coral com guizos.
Eu, a paisagem por detrás disto tudo, a paz citadina
Coada através das árvores do jardim público,
Eu, o que os espera a todos em casa,
Eu, o que eles encontram na rua,
Eu, o que eles não sabem de si próprios,
Eu, aquela coisa em que estás pensando e te marca esse sorriso,
Eu, o contraditório, o fictício, o aranzel, a espuma,
O cartaz posto agora, as ancas da francesa, o olhar do padre,
O largo onde se encontram as suas ruas e os chauffeurs dormem contra os carros,
A cicatriz do sargento mal encarado,
O sebo na gola do explicador doente que volta para casa,
A chávena que era por onde o pequenito que morreu bebia sempre,
E tem uma falha na asa (e tudo isto cabe num coração de mãe e enche-o)...
Eu, o ditado de francês da pequenita que mexe nas ligas,
Eu, os pés que se tocam por baixo do bridge sob o lustre,
Eu, a carta escondida, o calor do lenço, a sacada com a janela entreaberta,
O portão de serviço onde a criada fala com os desejos do primo,
O sacana do José que prometeu vir e não veio
E a gente tinha uma partida para lhe fazer...
Eu, tudo isto, e além disto o resto do mundo...
Tanta coisa, as portas que se abrem, e a razão por que elas se abrem,
E as coisas que já fizeram as mãos que abrem as portas...
Eu, a infelicidade-nata de todas as expressões,
A impossibilidade de exprimir todos os sentimentos,
Sem que haja uma lápida no cemitério para o irmão de tudo isto,
E o que parece não querer dizer nada sempre quer dizer qualquer cousa...
Sim, eu, o engenheiro naval que sou supersticioso como uma camponesa madrinha,
E uso monóculo para não parecer igual à idéia real que faço de mim,
Que levo às vezes três horas a vestir-me e nem por isso acho isso natu
ral, Mas acho-o metafísico e se me batem à porta zango-me, Não tanto por me interromperem a gravata como por ficar sabendo que há a vida... Sim, enfim, eu o destinatário das cartas lacradas, O baú das iniciais gastas, A entonação das vozes que nunca ouviremos mais - Deus guarda isso tudo no Mistério, e às vezes sentimo-lo E a vida pesa de repente e faz muito frio mais perto que o corpo. A Brígida prima da minha tia, O general em que elas falavam - general quando elas eram pequenas, E a vida era guerra civil a todas as esquinas... Vive le mélodrame oú Margot a pleuré! Caem as folhas secas no chão irregularmente, Mas o fato é que sempre é outono no outono, E o inverno vem depois fatalmente, há só um caminho para a vida, que é a vida...
Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu os românticos, Esse opúsculo político do tempo das revoluções constitucionais, E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a razão Nem haja para chorar tudo mais razão que senti-lo.
Viro todos os dias todas as esquinas de todas as ruas, E sempre que estou pensando numa coisa, estou pensando noutra. Não me subordino senão por atavisnio, E há sempre razões para emigrar para quem não está de cama.
Das serrasses de todos os cafés de todas as cidades Acessíveis à imaginação Reparo para a vida que passa, sigo-a sem me mexer, Pertenço-lhe sem tirar um gesto da algibeira, Nem tomar nota do que vi para depois fingir que o vi.
No automóvel amarelo a mulher definitiva de alguém passa, Vou ao lado dela sem ela saber. No trottoir imediato eles encontram-se por um acaso combinado, Mas antes de o encontro deles lá estar já eu estava com eles lá. Não há maneira de se esquivarem a encontrar-me, Não há modo de eu não estar em toda a parte. O meu privilégio é tudo (Brevetée, Sans Garantie de Dieu, a minh'Alma).
Assisto a tudo e definitivamente. Não há jóia para mulher que não seja comprada por mim e para mim, Não há intenção de estar esperando que não seja minha de qualquer maneira, Não há resultado de conversa que não seja meu por acaso, Não há toque de sino em Lisboa há trinta anos, noite de S. Carlos há cinqüenta Que não seja para mim por uma galantaria deposta.
Fui educado pela Imaginação, Viajei pela mão dela sempre, Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso, E todos os dias têm essa janela por diante, E todas as horas parecem minhas dessa maneira.
Cavalgada explosiva, explodida, como uma bomba que rebenta, Cavalgada rebentando para todos os lados ao mesmo tempo, Cavalgada por cima do espaço, salto por cima do tempo, Galga, cavalo eléctron-íon, sistema solar resumido Por dentro da ação dos êmbolos, por fora do giro dos volantes. Dentro dos êmbolos, tornado velocidade abstrata e louca, Ajo a ferro e velocidade, vaivém, loucura, raiva contida, Atado ao rasto de todos os volantes giro assombrosas horas, E todo o universo range, estraleja e estropia-se em mim.
Ho-ho-ho-ho-ho!... Cada vez mais depressa, cada vez mais com o espírito adiante do corpo Adiante da própria idéia veloz do corpo projetado, Com o espírito atrás adiante do corpo, sombra, chispa, He-la-ho-ho ... Helahoho ...
Toda a energia é a mesma e toda a natureza é o mesmo... A seiva da seiva das árvores é a mesma energia que mexe As rodas da locomotiva, as rodas do elétrico, os volantes dos Diesel, E um carro puxado a mulas ou a gasolina é puxado pela mesma coisa.
Raiva panteísta de sentir em mim formidandamente, Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos os meus poros em fumo, Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma só divina linha De si para si, parada a ciciar violências de velocidade louca... Ho ----
Ave, salve, viva a unidade veloz de tudo! Ave, salve, viva a igualdade de tudo em seta! Ave, salve, viva a grande máquina universo! Ave, que sois o mesmo, árvores, máquinas, leis! Ave, que sois o mesmo, vermes, êmbolos, idéias abstratas, A mesma seiva vos enche, a mesma seiva vos torna, A mesma coisa sois, e o resto é por fora e falso, O resto, o estático resto que fica nos olhos que param, Mas não nos meus nervos motor de explosão a óleos pesados ou leves, Não nos meus nervos todas as máquinas, todos os sistemas de engrenagem, Nos meus nervos locomotiva, carro elétrico, automóvel, debulhadora a vapor
Nos meus nervos máquina marítima, Diesel, semi-Diesel, Campbell, Nos meus nervos instalação absoluta a vapor, a gás, a óleo e a eletricidade, Máquina universal movida por correias de todos os momentos!
Todas as madrugadas são a madrugada e a vida. Todas as auroras raiam no mesmo lugar: Infinito... Todas as alegrias de ave vêm da mesma garganta, Todos os estremecimentos de folhas são da mesma árvore, E todos os que se levantam cedo para ir trabalhar Vão da mesma casa para a mesma fábrica por o mesmo caminho...
Rola, bola grande, formigueiro de consciências, terra, Rola, auroreada, entardecida, a prumo sob sóis, noturna, Rola no espaço abstrato, na noite mal iluminada realmente Rola ...
Sinto na minha cabeça a velocidade de giro da terra, E todos os países e todas as pessoas giram dentro de mim, Centrífuga ânsia, raiva de ir por os ares até aos astros Bate pancadas de encontro ao interior do meu crânio, Põe-me alfinetes vendados por toda a consciência do meu corpo, Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para Abstrato, Para inencontrável, Ali sem restrições nenhumas, A Meta invisível — todos os pontos onde eu não estou — e ao mesmo tempo ...
Ah, não estar parado nem a andar, Não estar deitado nem de pé, Nem acordado nem a dormir, Nem aqui nem noutro ponto qualquer, Resol,,,er a equação desta inquietação prolixa, Saber onde estar para poder estar em toda a parte, Saber onde deitar-me para estar passeando por todas as ruas ... Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho
Cavalgada alada de mim por cima de todas as coisas, Cavalgada estalada de mim por baixo de todas as coisas, Cavalgada alada e estalada de mim por causa de todas as coisas ...
Hup-la por cima das árvores, hup-la por baixo dos tanques, Hup-la contra as paredes, hup-la raspando nos troncos, Hup-la no ar, hup-la no vento, hup-la, hup-la nas praias, Numa velocidade crescente, insistente, violenta, Hup-la hup-la hup-la hup-la ...
Cavalgada panteísta de mim por dentro de todas as coisas, Cavalgada energética por dentro de todas as energias, Cavalgada de mim por dentro do carvão que se queima, da lâmpada que arde, Clarim claro da manhã ao fundo Do semicírculo frio do horizonte, Tênue clarim longínquo como bandeiras incertas Desfraldadas para além de onde as cores são visíveis ...
Clarim trêmulo, poeira parada, onde a noite cessa, Poeira de ouro parada no fundo da visibilidade ...
Carro que chia limpidamente, vapor que apita, Guindaste que começa a girar no meu ouvido, Tosse seca, nova do que sai de casa, Leve arrepio matutino na alegria de viver, Gargalhada súbita velada pela bruma exterior não sei como, Costureira fadada para pior que a manhã que sente, Operário tísico desfeito para feliz nesta hora Inevitavelmente vital, Em que o relevo das coisas é suave, certo e simpático, Em que os muros são frescos ao contacto da mão, e as casas Abrem aqu; e ali os olhos cortinados a branco...
Toda a madrugada é uma colina que oscila, ...................................................................... e caminha tudo Para a hora cheia de luz em que as lojas baixam as pálpebras E rumor tráfego carroça comboio eu sinto sol estruge Vertigem do meio-dia emoldurada a vertigens — Sol dos vértices e nos... da minha visão estriada, Do rodopio parado da minha retentiva seca, Do abrumado clarão fixo da minha consciência de viver. Rumor tráfego carroça comboio carros eu sinto sol rua, Aros caixotes trolley loja rua i,itrines saia olhos Rapidamente calhas carroças caixotes rua atravessar rua Passeio lojistas "perdão" rua Rua a passear por mim a passear pela rua por mim Tudo espelhos as lojas de cá dentro das lojas de lá A velocidade dos carros ao contrário nos espelhos oblíquos das montras, O chão no ar o sol por baixo dos pés rua regas flores no cesto rua O meu passado rua estremece camion rua não me recordo rua Eu de cabeça pra baixo no centro da minha consciência de mim Rua sem poder encontrar uma sensação só de cada vez rua Rua pra trás e pra diante debaixo dos meus pés Rua em X em Y em Z por dentro dos meus braços Rua pelo meu monóculo em círculos de cinematógrafo pequeno, Caleidoscópio em curvas iriadas nítidas rua. Bebedeira da rua e de sentir ver ouvir tudo ao mesmo tempo. Bater das fontes de estar vindo para cá ao mesmo tempo que vou para lá. Comboio parte-te de encontro ao resguardo da linha de desvio! Vapor navega direito ao cais e racha-te contra ele! Automóvel guiado pela loucura de todo o universo precipita-te Por todos os precipícios abaixo E choca-te, trz!, esfrangalha-te no fundo do meu coração!
À moi, todos os objetos projéteis! À moi, todos os objetos direções! À moi, todos os objetos invisíveis de velozes! Batam-me, trespassem-me, ultrapassem-me! Sou eu que me bato, que me trespasso, que me ultrapasso! A raiva de todos os ímpetos fecha em círculo-mim! Hela-hoho comboio, automóvel, aeroplano minhas ânsias, Velocidade entra por todas as idéias dentro, Choca de encontro a todos os sonhos e parte-os, Chamusca todos os ideais humanitários e úteis, Atropela todos os sentimentos normais, decentes, concordantes, Colhe no giro do teu volante vertiginoso e pesado Os corpos de todas as filosofias, os tropos de todos os poemas, Esfrangalha-os e fica só tu, volante abstrato nos ares, Senhor supremo da hora européia, metálico a cio. Vamos, que a cavalgada não tenha fim nem em Deus! ............................................................... ...............................................................
Dói-me a imaginação não sei como, mas é ela que dói, Dec4ina dentro de mim o sol no alto do céu. Começa a tender a entardecer no azul e nos meus nervos. Vamos ó cavalgada, quem mais me consegues tornar? Eu que, veloz, voraz, comilão da energia abstrata, Queria comer, beber, esfolar e arranhar o mundo, Eu, que só me contentaria com calcar o universo aos pés, Calcar, calcar, calcar até não sentir. Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que quis, Que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou.
Cavalgada desmantelada por cima de todos os cimos, Cavalgada desarticulada por baixo de todos os poços, Cavalgada vôo, cavalgada seta, cavalgada pensamento-relâmpago, Cavalgada eu, cavalgada eu, cavalgada o universo — eu. Helahoho-o-o-o-o-o-o-o ...
Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação ...

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

contemplação

(ilustração: arquivo Google, s/referência autor)

Cláudia Efe


Tem dias que eu acordo
Com a cor da bola de gude que eu mais gostava
Com o cheiro do plástico da boneca nova
Com a fruta que eu colhi no pé
Com os desenhos do livro que eu ainda não lia
Com a bicicleta sem rodinhas
Com a primeira caneta que, até então, era um lápis

Tem dias que me acontecem
o pudim da minha avó
a casa cheia pro almoço do domingo
e aquele zigue-zague de pratos e canelas de meninos
aí eu vejo que não há passado
e que tudo está ali, de algum jeito
do seu próprio jeito
a vida escreve uns versos
pela vida inteira

domingo, fevereiro 18, 2007

EVOÉ


ADNKRONOS.Pierrot in abito bianco a pois neri per il numero"Pierrot e la luna" dallo spettacolo "Varietà" del1924-25. (foto Sandra Onofri/adnkronos. Fonte: arquivo Google)




Cláudia F.

Para o amor torto
Para o amor farto
Para o amor largo
Para o amor perdido
e todos os encontros:
afinal,
é carnaval

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Missa de 7º dia

Amigos,

primeiramente, quero agradecer comovido a todos que acompanharam, fisica ou espiritualmente,
a luta do meu amigo e companheiro Marcio Carvalho pela vida. Infelizmente, essa luta terminou
dia 9 de fevereiro, sexta-feira passada. Deus o levou para perto, Ser de grandiosa Luz que ele
era (é).
Obrigado, de coração, aos amigos que ajudaram com palavras de fé, orações, um abraço carinhoso, um "alô" solidário e, mesmo, financeiramente. Não posso nominá-los - foram centenas, cada qual
com um gesto de solidariedade.
Na certa, o Marcio, onde estiver, estará com um sorriso de paz e gratidão por tanta generosidade.
Agradeço, ainda, a quem compareceu ao velório e ao enterro, para dar seu último adeus ao meu amigo.
Ele foi a pessoa mais generosa, honesta e solidária que pude conhecer até hoje. Acho que, por isso, Deus o chamou, aos 39 anos, para colaborar com Ele, junto às outras almas de Luz.
Ainda comovido, deixo o aviso da missa de Sétimo Dia de seu passamento:
Dia 15 de fevereiro (quinta-feira), às 11h,
Igreja de São José
-Av. Presidente Antonio Carlos, esq. c/ São José-
(perto do Forum e da Câmara).
Praça XV
Desde já, obrigado aos que puderem comparecer.
Abraços fraternos, Tanussi Cardoso

HIERÓGLIFO

a poesia
despe-me
de saberes
pré-histórico
rumino
em cavernas
a ossatura
do homem

MARCIO CARVALHO
(do seu livro NAVALHAS VOADORAS PARA CORTAR A TARDE, ed. SEERJ)

MARCIO CARVALHO era jornalista, poeta, ensaísta e arte-educador.
Diretor de Comunicação do SEERJ e membro do Grupo Poesia Simplesmente.
Em 2006, representou o Brasil no Segundo Festival Latinoamericano de Poesia "ser al fin una palabra", dentro do Dia Mundial da Poesia, no México.
Nasceu em 12/04/67 e se elevou a outro plano em 09/02/2007, aos 39 anos

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

FHERNANDA CANTA MINAS


Amanhã, sábado, dia 10 de Fevereiro, a partir das 21h30 a cantora, compositora e instrumentista FHERNANDA se apresenta no Bar Palácio, rua Buarque de Macedo, n° 87, Catete. O Show "Fhernanda canta Minas" tem participação especial de José Luiz, voz e violão.


O novo Bar Palácio promete ser o reduto da boa música produzida no Rio de Janeiro. Vale conferir.


Serviço:
Reservas: 2556 6020 ou 2558 6242 - Couvert R$13,00
Endereço: Rua Buarque de Macedo nº 87 - Catete.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

SIMPLICIDADE

foto: arquivo google s/referência autor
Jorge L. Borges

Abre-se a grade no jardim
com a docilidade da página
que a devoção freqüente interroga
e lá dentro o olhar
não precisa se fixar nos objetos,
que já estão firmemente na memória.
Conheço os costumes e conheço as almas
e esse dialeto de alusões
que todo grupo humano vai urdindo.
Não preciso falar
nem fingir privilégios;
os que me rodeiam me conhecem bem,
e as minhas mágoas e fragilidades.
Isto, sim, é chegar ao ponto mais alto,
o que talvez nos traga o Céu:
não as admirações ou as vitórias,
mas simplesmente sermos recebidos
como parte de uma Realidade inegável
como as pedras e as árvores.

(O poema de JORGE é um presente de JANAíNA MESQUITA)

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

PIRATA

foto: arquivo google s/referência autor
Sophia de Mello Breyner

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.