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domingo, dezembro 26, 2010

FELICIDADES



Que 2011 seja o ano da nossa coragem
de assumir definitivamente a nossa alegria
de deixar abertas as janelas dos nossos afetos.
Que a vida nos surpreenda com as esquinas das suas delicadezas
com aquela música que toca e a gente nem sabe de onde vem.
Que tudo seja belo e humano, que a ética nos conduza.
Que o amor transborde os nossos atos, e seja bússola para as nossas expectativas.


Um beijo, Feliz Natal e um 2011 maravilhoso!
Cláudia Ferrari

sábado, outubro 09, 2010

EU TAMBÉM SOU DILMA


Eu voto em Dilma

Estar por aqui

Dona Efe

Em sentido horário, Maurício, Cláudia Ferrari e Gabriela Leite
Bar da Fatinha, Santa Teresa, 07 outubro 2010


Não faz outro dia, de uns tempos pra cá, que passei a me sentir mais à vontade pra ficar quieta mesmo.

Sempre gostei do meu canto, meu paninho... mas, como bom viralata que sou, também faço meus estardalhaços e faço festa e morro de saudade e de alegria de tudo.

Gabriela ganhou uns mil e tantos votos nas urnas deste 2010, um foi meu e uns outros tantos de amigos que sei e outros dos que não sei.

O voto é uma forma de tentar mudar, mas é uma só e, mesmo assim, tão comprometida forma. Primeiro, de ser obrigatório, já é estranho e discordo. Depois... haja dinheiro pra fazer campanha, produzir tanto lixo, dissimular... 

Fico feliz pelo Freixo, que também votei.

Nasci em pleno golpe de 1964, e só lá pelos 15 me dei conta de onde estava... eu sou da Candelária e de tantas outras praças. 
Espero que possamos também nos mobilizar e contribuir em outras e tantas arenas... é por hoje.

domingo, setembro 19, 2010

MEU VOTO DECLARADO: GABRIELA LEITE, DEPUTADA FEDERAL, 4301

 Gabriela Leite, uma puta deputada


Gabriela Leite, 59 anos, é fundadora da grife Daspu e da ONG Davida. Prostituta nos anos 70 e 80, em São Paulo, Belo Horizonte e no Rio, atua desde então em defesa dos Direitos Humanos das Mulheres. Promoveu o primeiro encontro nacional de meretrizes, em 1987, contribuindo para que a categoria se organizasse em associações, hoje atuantes em 20 estados.

Nessa batalha por cidadania, conquistou importantes parcerias com o Ministério da Saúde e incorporou-se ao Movimento Nacional de Luta contra a Aids. O enfrentamento do estigma, do preconceito e da discriminação tornou-se central em sua vida. Nos jornais, nas rádios e nas TVs, nunca teve medo ou vergonha de falar de sua trajetória, que lhe rendeu reconhecimento nacional e internacional.

É condecorada com a Medalha Tiradentes e o Troféu Luiz Mott, enquanto a ONG Davida recebeu prêmios dos Ministérios da Saúde e da Cultura. Autora do livro "Filha, mãe, avó e puta", terá sua história adaptada para o teatro e o cinema. Candidata a deputada federal pelo PV do Rio, pretende ampliar, no Congresso Nacional, sua batalha em defesa dos direitos das mulheres, do aprimoramento do SUS e da Educação Pública, da regulamentação de profissões como a dos profissionais do sexo. Ativista política que sempre foi, quer contribuir, principalmente, para tornar realidade o desejo de toda a sociedade: um Parlamento ético e de qualidade.

www.gabrielaleite.com.br
gabrielaleite2010@gmail.com
contato@gabrielaleite.com.br

domingo, agosto 01, 2010

efe



o amor fica nas cartas
no pano de prato comprado na feira
na capa do disco
n'alguma música que toca por dentro
fica no cheiro
que quando quiser o vento passa
o amor aparece no segundo inverno
dentro da gaveta desarrumada
no desenho da parede
e pendurado nos quadros
segue valente nas panelas
nos tapetes, na cama
revê aquele filme
lê de novo o poema


16julho2010

quinta-feira, julho 15, 2010

socorro

efe

é pretensioso
não ter muita paciência com o mundo
pode se confundir com a vida
que nada tem a ver com isso
o mundo anda chato demais
gente chata demais
e
eu
vou ficando também
sem alegria
achando tudo repetitivo
sem paixão, tesão, banal
preciso me arrebatar
enxergar fundo minha ignorância, ficar vesga
me desconstruir, reinventar
rasgar, virar do avesso
sei lá

domingo, julho 11, 2010

Para o limite

cláudia efe




noite de inverno
e outros pertencimentos
uma caneta sem tinta, outra com
o santinho florido
a janela com plantas
o barulhinho do vento também é meu
empoderei os sentidos do despojamento
é aqui o território desmedido
sem ata e atrelamento
não espero
não esmoreço
nem lanço
respiro fundo
se me vem
o ar
e mais fundo
se me
falta
a teimosia

sábado, março 27, 2010

tinta fresca


imagem: arquivo google, sem referência autor


efe


tenho 320 páginas
resenhas críticas
e dúzias de fichamentos
mas hoje é sábado
e me acomete
a tinta fresca
o pincél banhado na cozinha
a deslizar paredes
e escrever história com cores
reinventar as páginas
com uma alegria sem pressa
encharcada de delicadeza
ando a ouvir o som do vento

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

desconhecidos

efe

talvez seja para se desentender
que o tempo passe
é claro que reside alguma alegria nisso
descobrir o hiato de si mesmo
como fato indecifrável
sem submissão ou rédeas
infeliz do que em mim, se resolve
pura empáfia
ou do outro mim que, covarde, nada entende
é duro o combate das próprias e intransferíveis ignorâncias
quando sou muito mais o que ignoro
quase nada sou do que percebo
apenas nuance
suposição
vulto
só resisto
quando o amor me redime

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

pertencimentos



(imagem: arquivo google, sem referência autor)

efe


Feliz do dia
que amanheceu seu rosto
e trouxe vertigem
para a minha coragem.
Desde então, tudo transborda
e há um relógio enferrujado na parede
do tempo que anda.
Nada mais tem pressa
é bom o sol e a chuva e é bom o vento
também é música a entranha
e estranheza dos detalhes.
Vez por outra me desolo
em outras, desespero
mas não convém assustar a vida
que faz coisas como orvalho.

domingo, janeiro 24, 2010

Domingo


Cláudia Efe

Foto: arquivo Google, sem ref. autor

hoje é dia de Iracema e Amélia
as donas da feira
donas daquelas coisas raras:
lenço na cabeça, panela no fogo e outras simpatias
Tenho que bater o ponto, a cabeça, e outros rituais
porque hoje é domingo
dia do Baixinho, lá do Vila, e do chope tirado na pressão
dia de vento do Aterro e das ruas da Glória
e daquele arzinho gostoso que desce e sobe de Santa Teresa.
Dia de comemorar quando os deuses me deram novas duas janelas
que me abriram o mundo, faz um ano
E, destemido e morrendo de medo,
aportei de tirolesa
no encontro dos seus plurais.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

por onde

Cláudia Efe



Ando longe das palavras
para ver as distâncias
ceguei
uns dizem que há dias de sol e longa viagem
que é preciso ser água para os meus navios
que a vida na terra é dura
e cheia de encantos
outros nada dizem
uns se foram e viraram tantos
outros coisificados
tanta gente
olho no escuro de não ver nada
e
ainda assim
sigo adiante

terça-feira, novembro 03, 2009

SÓ A MÚSICA FAZ...

A cantora e compositora Olívia esteve na rádio Cultura Brasil para divulgar seu sexto disco "Só a música faz..." e concedeu uma entrevista exclusiva a Vilmar Bittencourt para o programa Galeria.

Vale conferir:


http://www.radarcultura.com.br/node/38877

quarta-feira, outubro 07, 2009

quinta-feira, setembro 10, 2009

foto: arquivo Google, s/referência autor
texto: Cláudia Efe


O discurso é arco
(ai)
da flexa que não ouve o vento

sexta-feira, setembro 04, 2009

Que os deuses me livrem
das ignorâncias
próprias e alheias
daquelas que batem cabeça
nas paredes do invisível da vida
e que nos livrem da necessidade
de fazer catarse no quintal do vizinho
próximo ou distante
que cada um cuide do seu próprio lixo
o que um mundo melhor precisa
são de melhores pessoas
amém

domingo, agosto 02, 2009

Claudia Efe

Não entendi
o verso
a prosa
eu poderia até pensar numa sanfona
e nas suas possibilidades
mas reparei num dado instante
que era muito aquém do limitado
eu era um som
sem escalas
foi quando me dei conta
que a música

domingo, julho 19, 2009

Nathalie Loureiro e Cláudia Ferrari


Pelo instante
tráfego intenso
silhuetas transparentes
são baralhos, as luas?
Incabíveis solidões
entre o Divino e o Profano
apenas respiro
Idolatrada Manhã
o ar
e estonteante Madrugada
uma alma que se entregue
e o diabo...
que me agarre às estrelas.

quarta-feira, junho 24, 2009

A casa

Efe


Sobre esta noite
tenho a dizer
que me entram
ruídos de gente, como vozes sem endereço
os ventos são como engenho na janela e provocam luas de frases longas
tenho a dizer que tudo é pacato
como as aparências das ruas distantes, dos moinhos vazios
aqui está a minha casa e seus cheiros e lugares escondidos
nada pra ela é objeto, tudo se conta
os amores que tive, os que não tive, os que invento
Se apropria dos ruídos, dá endereço às vozes
Embaralha o silêncio, despedaça os moinhos
fica dona do tempo

domingo, junho 21, 2009

Quando isso é só hoje

Cláudia Efe



A maioria de tudo me escapa
Inclusive preciso escrever depressa
Antes que me desvaneça o segundo
Razoável que já me tomou o primeiro
É preciso urgência para a natureza das coisas
Dado que me foge a sabedoria
Como corredeira
Não basta o sol por um dia inteiro
Ou luas cravadas que se ostentam
Tudo será pouco
Dada a geografia parca do entendimento
Queria de volta meus quatro anos
Uns cinco, talvez
Eu olhava com os olhos
E comia com a boca
O caminho

21.06.2009

terça-feira, junho 09, 2009


Efe


Rua estreita
No caminho do poema
Ribeira, Amparo
Ladeira
Casas espremidas
Janelas miúdas, portas largas
O mar é o caminho
De quem olha
Por toda a parte o som do vento se vê
Meninos
Tiago Amorim molhado de barro

sábado, maio 30, 2009

segunda-feira, maio 25, 2009

Telegrama, outro

Efe



em algum instante
tudo avisa urgência
há uma grande viagem
é preciso que se façam malas
que se marquem bilhetes
que se embarquem

Telegrama

imagem, arquivo Google, s/ref. autor


Cláudia Efe





tudo avisa
viagem
é preciso que se façam malas
libertem bilhetes
que se embarquem

terça-feira, maio 19, 2009

OS CIGANOS AINDA ESTÃO NA ESTRADA

CRISTINA DA COSTA PEREIRA
LANÇA
NA LIVRARIA ARGUMENTO, LEBLON,
NO PRÓXIMO DIA 03 DE JUNHO, A PARTIR DAS 19h



sábado, maio 16, 2009

Oxalá


Efe


Que Deus me dê a noite
Esta lua que cai do céu
E segue adiante
Que tudo nos seja
Como costura
Que as horas permaneçam
e a música me percorra
que as veias pulsem
e tudo aconteça mais que a opinião
Que a vida seja vida
Em mim em tudo e no outro

para o talvez


Efe (arquivo Google, s/ref.autor)



estetas
mamas
retas
curvas
protuberâncias
pulsares
o quase
o quando

sábado, maio 09, 2009

quarta-feira, maio 06, 2009

Khrystal, o cão chupando manga

por Cláudia Ferrari


Tive a sorte de assistir ao show de Khrystal ontem à noite, no muito querido teatro Rival (Petrobras).
Impactante é pouco, foi Brasil pelos meus quatro cantos. De Jackson, Lenine e de outros cabras tão arretados que minha ignorância nunca ouviu falar.

(continuo mais tarde, hora de ir pro trabalho... até)

domingo, maio 03, 2009

Augusto Boal


"Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida"

(num discurso em Paris, no dia 27 de abril de 2009, Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, 1931- + 2009).

quarta-feira, abril 29, 2009

Khrystal no Teatro Rival , é "Coisa de Preto"


por Zé Dias (Produtor Cultural)


http://www.myspace.com/cantorakhrystal


Coisa de preto dá coco. E se dá coco é potiguar. É mais ou menos nessa batida que Khrystal lança o CD “Coisa de Preto” no Teatro Rival Petrobras, Rio de Janeiro.

Com 27 anos de vida e já com oito de carreira, a cantora Khrystal, como a maioria dos artistas brasileiros, começou a se apresentar na noite, cantando hits de sua geração, sem nunca perder a via da trajetória da Música Popular Brasileira.

Antenada com todos os sons e se dizendo intérprete da MPB do rock, nos últimos anos mergulhou em um trabalho de pesquisa no ritmo mais potiguar de todos (O CÔCO) e lançou em maio de 2008, seu primeiro trabalho que contempla canções de Lenine, Dominguinhos, Guinga e Jacinto Silva, para citar alguns dos bons compositores nacionais, e resgata Elino Julião, além dos novatos Galvão Filho e Romildo Soares, potiguares da melhor estirpe.

Paralelo ao trabalho de cantora e, sentindo necessidade de se expressar como compositora, uniu-se a quatro cantores/compositores, Luiz Gadelha, Angela Castro, Simona Talma e Valéria Oliveira. Juntos, criaram o Projeto Retrovisor, que nada mais é do que uma ode a canção autoral.

Como primeiro fruto do projeto, khrystal e Simona Talma vencem o MPBECO-Festival do Beco da Lama, com a canção “Volta”, consolidando a união e força da iniciativa que visitou os quatro cantos da cidade, além de Mossoró e Ribeirão Preto/SP, mostrando suas canções autorais e confirmando que nem tudo está perdido na canção popular do Brasil.


SERVIÇO

KHRYSTAL & BANDA
DIA 05 DE MAIO, TERÇA-FEIRA, ÀS 19h30
TEATRO RIVAL PETROBRAS
INTEIRA: R$ 30,
MEIA: R$ 15,


<$BlogMetaData$>

terça-feira, abril 21, 2009

proximidade




a vida anda de dizer:
vento, chuva, terra molhada
sussurra, grita, esperneia, cala
e me esfrega de sol o noturno
a vida é de silêncio e o som das coisas
por ali, tudo se expande
em susto e outras perplexidades
tenho preguiça e burrice
e outras patologias
e ela me dá o que me é distante
amém

quinta-feira, abril 09, 2009

foto: arquivo Google, s/referência autor

CláudiEfe



o poema vai dizer
que existe agora
um amor de saudade imensa
vai desenhar seu corpo
em cada linha
capturar o gesto, a forma
como um torto
vai me ver na madrugada
assim, desfiladeiro
vai jorrar água por todo poro
como um tolo
vai querer me arrancar de dentro

domingo, março 01, 2009

ACASOS LITERÁRIOS




A Editora Multifoco faz uma homenagem especial às mulheres
dia quatro de março, quarta-feira, a partir das 19h30


Debate com as autoras:
MARIA DE QUEIROZ (FLORES DE DENTRO) & TATHIANA TREUFFAR (ABRO O LIVRO QUE ME ESCREVO)

MPB e Samba:
MICHELINE CARDOSO

av. Mem de Sá, 126, Lapa, Rio de Janeiro
reservas: 2222 3034

sábado, fevereiro 28, 2009

Sobre perambulações no pequeno livro de mágicas


Cláudia Efe




O que é a memória?
Talvez, uma serpente
uma reta que me faz distância entre dois pontos?
Também sou um objeto primitivo
Dotado de cálculos, lóbulos, libidos
Ai de mim, em rima pobre
esta ascendente




Fotografia: arquivo Google, s/ref.autor

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Dona Do Raio: O Vento

Doryval Caymmi


Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento


"É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos, passa e vai em frente
Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento
Por isso me parece imagem e justa
Para quem vive e canta num mau tempo"

O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia (2x)

A minha voz é vento de maio
Cruzando os mares dos ares do chão
Meu olhar tem a força do raio que vem de dentro do meu coração

O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia

Eu não conheço rajada de vento mais poderosa que a minha paixão
Quando o amor relampeia aqui dentro, vira um corisco esse meu coração
Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão
Porque Iansã desde o meu nascimento, tornou-se a dona do meu coração

O raio de Iansã sou eu...

Sem ela não se anda
Ela é a menina dos olhos de Oxum
Flecha que mira o Sol
Olhar de mim.
desenho: António Sabão

Cláudia Efe






Pelos olhos alago
em outras vezes não vejo

terça-feira, fevereiro 17, 2009

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Não sei quantas almas tenho


Fernando Pessoa


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Tunico Ferreira & Banda




Dia 6 de fevereiro, sexta-feira, às seis e meia.
Dia 7 de fevereiro, sábado, às cinco da tarde.


CENTRO DE REFERÊNCIA DA MÚSICA CARIOCA
rua Conde de Bonfim, 824, Tijuca

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Das Vantagens de Ser Bobo


Clarice Lispector


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.

Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Por enquanto

Andy Warhol
Cláudia Efe



Tenho agora uns cabelos brancos
e mãos calejadas de mulher
Ah, não tenho mãos de cremes
que folheio em revistas
mas acho bonito o que é suave
que Deus me faça suave
com as minhas mãos calejadas

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada

Manoel de Barros

de "O Guardador de Águas"


I

Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.

III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

IV
Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!

V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.

VII
Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural

- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.

IX
Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.

Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho


Manoel de Barros
de "O Guardador de Águas", Ed. Civilização Brasileira.


1
Gravata de urubu não tem cor.
Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
Luar em cima de casa exorta cachorro.
Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam.
Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
No osso da fala dos loucos têm lírios.

3
Tem 4 teorias de árvore que eu conheço.
Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga.
Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.
Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.
Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.

7
Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro se umedeça em nosso corpo.

9
Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.

11
Que a palavra parede não seja símbolo
de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância,
etc. (essas coisas que acham os
reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdomen de uma casa.
Eu tenho um gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de paredes
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio cego.
Tal um verme que iluminasse.

12
Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.

13
Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por
morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas
a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a
dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos

domingo, janeiro 18, 2009

foto:arquivo google, s/referência autor
Cláudia Efe



Manoel
hoje não tem brisa
e também não achei Anarina
Foi um dia quente
e agora uma certa chuva
Adoro os telhados
e o som das calçadas e dos ventos
o que a gente mais precisa na vida?
Um tambor de dentro
um tambor de fora
e talvez uma exceção desmedida
que nos escorra por dentro

sexta-feira, dezembro 05, 2008

A CANTORIA DE CÁTIA DE FRANÇA


por Cláudia Ferrari


Cátia de França e Banda
recebem Xangai no show “A Cantoria de Cátia de França”



um Brasil que canta o Brasil por dentro



Quem sobe ao palco do Teatro Rival Petrobras no próximo dia 16 de dezembro, terça-feira, a partir das 19h30 é a cantora, compositora e instrumentista Cátia de França e Banda (Marcelo Bernardes, sax e flauta; Sérgio Chiavazzoli, violão e viola de 12 cordas; Jakaré e Leonardo Hedim Palma, percussão). O show “A Cantoria de Cátia de França” tem participação super especial de Xangai.

Cátia de França é um dos ícones da música nordestina que, a partir da década de 1970, revelou para a Música Popular Brasileira nomes, entre outros, como os de Zé Ramalho (produtor do primeiro vinil de Cátia de França, “Vinte palavras girando ao redor do sol”, 1979), Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alceu Valença e Tânia Alves. Para Hermínio Bello de Carvalho, “quando Cátia surgiu, surgiu com ela também a estranheza. Da voz, do repertório, da coisa comportamental que ela trazia. Ou seja, ela não era uma artista de consumo, ela não era um produto, ela era uma artista genuína, que tinha uma proposta de trabalho muito interessante, uma voz absolutamente original.”

A paraibana de verve artística e presença de palco inconfundíveis, promete trazer para o público do Rio de Janeiro o suingue e força poética – bebe na fonte de Manoel de Barros, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego, Guimarães Rosa e Henry David Thoreau, para citar alguns dos - que permeiam sua obra. Um arsenal construído em décadas de letras viscerais e delicadeza impactante e, muito boa música, espalhado por palcos de todo o Brasil.

No repertório do show “Cantoria de Cátia de França”, além das composições consagradas na sua própria voz e por intérpretes do quilate de Elba Ramalho (Kukukaia – Jogo da asa da bruxa), Amelinha e Chico César (Coito das Araras), Clementina de Jesus (Meu boi surubim) e Xangai (Antoninha), a artista também apresenta músicas inéditas de “Hóspede da natureza”, seu mais novo CD, com lançamento previsto para 2009.

Prestes a completar 62 anos (em 13 de fevereiro de 2009), a artista de carreira ininterrupta por mais de 40 anos, foi recentemente agraciada com os prêmios “Mestre das Artes Canhoto da Paraíba”, pela sua cidade natal e com o “Itaú Cultural”, em São Paulo.

Xangai, amigo e parceiro musical de longa data

Nascido no sertão da Bahia e criado na zona da mata de Minas Gerais, o cantor, compositor e violeiro, Xangai aprendeu a cantar aboiando com os vaqueiros. Para a crítica especializada é considerado uma das mais belas vozes da música sertaneja de raiz. É primo do cultuado compositor Elomar, artista decisivo para a sua formação musical. Xangai gravou várias músicas de Cátia de França ao longo de sua carreira e, juntos, já realizaram shows pelos quatro cantos do país. Para a “Cantoria de Cátia de França” no Teatro Rival Petrobras, Xangai traz a multiplicidade da música do sertão, com toda a sua beleza, sofisticação e, acima de tudo, simplicidade.


Credenciais para imprensa e mais informações:

Cláudia Ferrari (jornalista – assessora de imprensa)
claudiajornalista@gmail.com ou claudia.ferrari@globo.com

sábado, novembro 08, 2008

Tsunâmi sistêmico com batida de umbu

ARTHUR POERNER
ESCRITOR E JORNALISTA


Até mesmo no Pelourinho, sorvendo batida de umbu depois de uma palestra a convite da UNE na Universidade Católica de Salvador, foi impossível ignorar os estrépitos e as marolas do tsunâmi no coração do capitalismo, no "areópago do mercado mundial" do poema que Drummond dedicou ao FMI. Esse Mercado que, como Deus, mereceria inicial maiúscula, padece de moléstia grave e insidiosa, conseqüência da desenfreada cobiça que estimulou nos banqueiros e especuladores, sedentos de lucros fáceis, sem trabalho, a qualquer preço.

O diagnóstico que grassava entre os turistas das mesas próximas já era dos mais sombrios: crise sistêmica, isto é, bem mais ampla e generalizada do que as periféricas que acometeram alguns países e regiões nas últimas décadas, como a da Ásia em 1997. Na medicina, equivaleria a câncer com metástase. As células afetadas que migram, há ano e meio, da lesão inicial, no sistema de crédito imobiliário e hipotecário dos Estados Unidos, estão provocando a maior crise do sistema desde a Grande Depressão, que se seguiu ao crash da Bolsa de Nova York em 1929, com a derrota do capital financeiro e o "formidável enterro" de uma quimera, que não é a única nem a última – como a do Augusto dos Anjos – do capitalismo, mas, certamente, uma das mais resistentes: Ele, o Mercado, seria auto-regulável. Falácia promovida, no início dos anos 80, conforme o megainvestidor húngaro-americano George Soros, a "dogma ideológico", pelo presidente Ronald Reagan e pela primeira-ministra britânica Margareth Thatcher.

O candidato republicano John McCain perdeu logo alguns pontos na disputa com o democrata Barack Obama, por insistir na tese da solidez dos fundamentos da economia norte-americana, um dos sagrados mandamentos dos fundamentalistas do Mercado, os adoradores do Charging Bull, o touro de bronze que simboliza a força do capitalismo no distrito financeiro nova-iorquino. O que eles estarão pensando agora, depois da estatização de bancos e do pacotão antifalências, socorro governamental, à custa dos contribuintes (socialização dos prejuízos), de US$ 850 bilhões para a compra dos papéis podres das subprimes, que os economistas estão chamando de "lixo tóxico" – para Soros, um band-aid para quem está com hemorragia? E as receitas neoliberais que nos prescreviam? Será que os "irmãos do Norte", como eram chamados pelos revolucionários da ditadura, entendem de finanças tanto quanto de direitos humanos e respeitam os princípios da economia tanto quanto o Direito Internacional e a autodeterminação dos povos?

Sei que, lá do alto dos templos de Wall Street, Ele, que tudo vê, sabe, mercantiliza e coisifica, inclusive eu e o umbu, pode não gostar, mas quero mais uma batida. Que desce ainda mais redondo quando me lembro de que, antes de ACM, a Bahia viveu sob o reinado de Juraci Magalhães, também criador, em 1965, de um dogma ideológico, sacralizado pela ditadura e responsável por uma era de vassalagem em nossa política externa: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". Não era, como também não é, necessariamente mau para nós o que é ruim para eles.

Com a redução da nossa vulnerabilidade externa nos governos Lula, podemos, ao longo do maremoto, diminuir, com os três outros emergentes do Bric (Rússia, Índia e China), a distância que nos separa dos países ricos. Desde 2003, a dependência do Brasil em relação às exportações para os EUA caiu de mais de 23 para 15%; na China, é inferior a 3%. E é por isso que o vagalhão chega ao Pelô como marola, sem os redemoinhos em que se afogam os bancos norte-americanos. Aqui, o processo de submissão ao Consenso de Washington, iniciado com a atabalhoada abertura da economia no governo Collor e continuado com as privatizações e desnacionalizações de Fernando Henrique, ainda pôde ser contido.

Embora o colapso de Wall Street assinale a decadência do império norte-americano e a História já tenha demonstrado que hegemonias e sistemas não são eternos, ainda não é hora de comemorar o acerto das previsões de Marx quanto ao fim do capitalismo. Mesmo porque é impossível prever que sistema o sucederia. Para o cientista político norte-americano Imannuel Wallerstein, no momento, "a única alternativa no cardápio é o Fórum Social Mundial".

No que se refere à hegemonia, que ele define como "um fenômeno do sistema capitalista mundial", a China desponta como favorita, inclusive porque já vem promovendo a reconversão da sua economia para o mercado interno. A se confirmar o prognóstico, que o embaixador brasileiro Miguel Osório de Almeida já fazia, baseado em projeções econométricas, há algumas décadas, eu me permitirei uma profecia: a Grande Muralha desbancará a Disneylândia como supremo objetivo de consumo cultural da nossa classe média.

Nada mais havendo a festejar por enquanto, peço a saideira ao dono da Cantina da Lua, Clarindo Silva, que acumula a função de Rei Momo do Carnaval baiano. Os 70 anos do monarca não foram objeto de contestação, mas os seus 60 e poucos quilos, num físico que lembra os maratonistas etíopes e quenianos, causaram indignação entre os obesos candidatos soteropolitanos que derrotou na eleição. Será que, na essência, não é este o mal que acomete o Mercado: o excesso de gordura, sem sustentação muscular? Com a falta de lastro em bens reais, e também – e não menos importante – na ética ?

Artigo publicado no Jornal do Brasil
em 27 de outubro de 2008, pág. A10


MÚSICA NO MUSEU

A Coordenação de Educação do Museu da República

convida professores/educadores para




REPÚBLICA DOS PROFESSORES - A REPÚBLICA NA MÚSICA BRASILEIRA

COM O GRUPO HISTÓRIA ATRAVÉS DA MÚSICA


no dia 12 de novembro (4ª feira), das 13:00 as 17:00 horas no ESPAÇO EDUCAÇÃO

Agendamento pelo email: encontrocomprofessores@museudarepublica.org.br


15 de novembro (sábado), das 15:00 as 16:30 horas nos Jardins do Museu da República
GRUPO HISTÓRIA ATRAVÉS DA MÚSICA


ENTRADA FRANCA

domingo, novembro 02, 2008

"O inimigo da nossa geração usava farda; o desta é virtual"

Foto: arquivo Google, s/ref.autor



Ronney Argolo



Na semana passada, o escritor e jornalista Arthur Poerner deu uma palestra sobre os 40 anos de 1968 na Universidade Católica de Salvador, num evento promovido pela União Nacional dos Estudantes [UNE]. Poerner escreveu em 68 o livro O poder jovem: história da participação política dos estudantes brasileiros, que até hoje é referência na pesquisa sobre a participação política estudantil. A ditadura já havia então suspendido os seus direitos políticos por dez anos e ele foi obrigado a sair do Brasil e se exilar na Alemanha. Em entrevista para o repórter Ronney Argolo, o escritor conta o que pensa da UNE, da política e dos jovens.




A Tarde – Qual a luta do movimento estudantil hoje?

Arthur Poerner – O inimigo principal é o neoliberalismo, que, nos anos 60, ainda não existia na versão atual, de irrestrita liberdade do mercado. A gente lutava contra a ditadura e pelo socialismo. Nos inspiravam revoluções populares como a cubana, a vietnamita e a chinesa; queríamos trazê-las para o Brasil. Pretendíamos não apenas derrubar a ditadura, mas, também, mudar o mundo. Éramos idealistas e ousados. O inimigo da nossa geração usava farda; o desta é virtual. Pode ser, por exemplo, um banqueiro que rouba o país e, depois, conta com a presteza do Judiciário em sua defesa. Na nossa época, muito menos gente chegava a concluir o curso superior, o que garantia emprego a quase todos que obtivessem o diploma. Hoje, com o número bem maior de graduados, a concorrência no mercado de trabalho também disparou. E os estudantes têm que lutar pela melhoria da qualidade dos cursos e por uma política oficial de emprego.

AT – Para lutar contra o inimigo fardado, os estudantes dos anos 60 tinham ícones como Gandhi, Martin Luther King, Che Guevara. Em quem a juventude se inspira hoje?

AP – Um dos ícones atuais é Nelson Mandela, mas os antigos ainda se mantém. Não temos, no momento, grandes estadistas, nem de esquerda nem de direita. De Gaulle, por exemplo, era um presidente de direita, mas um estadista. É um absurdo patético que um país como os Estados Unidos esteja nas mãos de um boçal como o Bush.

AT – O que a falta de democracia nos ensinou?

AP – Que ela é o valor mais essencial em nossas vidas. Eu sempre falo dos bens de que só tomamos conhecimento quando nos faltam, como as mães. Quando elas estão por perto, para organizar nossas vidas, arrumar as coisas, nos dar atenção, às vezes nem as percebemos. Só depois que as perdemos é que sentimos como eram importantes. O mesmo ocorre com a democracia. Hoje, é normal os estudantes, como os demais setores da sociedade, protestarem, fazerem ouvir os seus anseios e reivindicações. Mas, nos tempos da ditadura, tive os meus direitos políticos suspensos, fui preso e tive que me exilar por pretender exercer o direito à liberdade de opinião e expressão.



AT – Como o senhor enxerga a luta do movimento estudantil no Brasil?

AP – Quando escrevi meu livro, tentei me opor à idéia de que estudante não devia se envolver em política. Eu era universitário, na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro. Pesquisando sobre a participação política estudantil, achei registros muito antigos. O mais velho deles, de 1710, quando corsários franceses invadiram o Rio e os estudantes seminaristas - porque ainda não havia universidade nem faculdades no país - resistiram ao ataque e prenderam o chefe dos invasores, Jean-François Duclerc. Assim como no Rio, encontrei histórias semelhantes em outros estados. Os estudantes da Faculdade de Medicina da Bahia, por exemplo, juntavam dinheiro para alforriar escravos. A diferença é que eram manifestações dispersas, transitórias e regionais. Somente a partir de 1937, com a fundação da União Nacional dos Estudantes [UNE], foram unificadas e se tornaram permanentes e nacionais.

AT – A UNE representa para os estudantes de hoje o mesmo que representava em 60?

AP – Tem o mesmo significado. A UNE tem mais de 70 anos e já participou de muitos movimentos históricos. A diferença é que hoje ela não é hegemônica. Na época do AI- 5, em 68, os sindicatos urbanos estavam sob intervenção, o incipiente sindicalismo rural fora esmagado no nascedouro e as manifestações populares eram coibidas. Por isto, a UNE centralizava a resistência. Agora, a realidade mudou, vivemos uma fase de construção e solidificação da democracia. Existem muito mais organizações sociais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores [CUT] e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST]. Participar de movimento estudantil deixou de ser um risco, porque o nosso governo é aberto a isso, aceita e estimula o diálogo. Não é mais preciso engrossar. Os tempos são outros e as lutas também. A UNE, por exemplo, se bate por mais verbas e vagas para a universidade pública.

AT – O Reuni, programa do governo que propõe essas mudanças, tem recebido muitas críticas. O senhor é a favor dele?

AP – Sim, sou a favor da reestruturação, como vem sendo feita. Às vezes, por serem imobilistas ou por encararem qualquer inovação com receio pessimista, as pessoas se precipitam na rejeição.

AT – E quanto aos movimentos estudantis locais, não ligados a UNE ou que discordam dela?

AP – Todos são importantes, mas a UNE engloba tudo. Participei, ano passado, do Congresso da UNE em Brasília, com a presença da juventude de vários partidos, todos opinando contra ou a favor, democraticamente, como nos anos 60.



AT – O senhor não acha os jovens de hoje muito individualistas para lutar por causas coletivas?

AP – Sim, é um fenômeno mundial. Na Alemanha, por exemplo, há muito que não existe cola nas provas escolares. Mais do que ética, a motivação é a concorrência exacerbada pelo sistema: desde cedo, os estudantes vêem os colegas como concorrentes. Mercantiliza-se tudo, inclusive as pessoas, o que fomenta o individualismo em todo o mundo ocidental. Para isto, contribui o talvez único aspecto negativo da internet, que faz muitas pessoas se isolarem ainda mais.

AT – O Brasil segue o mesmo caminho da Alemanha?

AP – O Brasil tem capitalismo, mas tem buscado um caminho próprio, não neoliberal. O presidente Lula vem promovendo melhoria na distribuição da renda, o que demonstra que a esquerda é parte do poder, com muitas das idéias que nos embalavam nos anos 60.

AT – Os estudantes de hoje são capazes de superar o individualismo?

AP – Sim, ainda temos muito o que realizar como nação e o sucesso dos esforços vai depender do trabalho grupal e comunitário . Temos que combater em muitas frentes: pelo resgate da secular dívida social, contra o desmatamento da Amazônia, contra a situação da saúde pública, contra a corrupção, a impunidade, a lentidão da Justiça, o corporativismo, o cartorialismo, o HIV, pela democracia em todos os níveis e setores básicos do nosso povo. Acho que a juventude sempre soube e saberá se unir nos momentos decisivos da nacionalidade. Os congressos da UNE continuam concorridos. E eu, particularmente, encontro público interessado nas palestras pelo país afora. Além do mais, a mesma internet que, em certos casos, favorece o isolamento e o individualismo, é nossa poderosa aliada na luta fundamental pela democratização da informação e pela mobilização em prol das grandes causas do nosso povo. Tudo depende da consciência e, nesse sentido, a internet é como a pólvora inventada pelos chineses: pode ser destrutiva ou muito útil para a humanidade.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Cigarro

Zeca Baleiro


A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver meu bem
Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?
Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem...
Quem saberá a cura do meu coração senão eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu
O amor é pedra no abismo
A meio passo entre o mal e o bem
Com meus botões a noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?
Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem?
Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração senão eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Como eu sou ignorante


Cláudia Ferrari

Em 1989, não se deveria votar no Lula porque, entre outras "pérolas", ele não saberia resolver uma equação de segundo grau.
Em 2008, não se deveria votar no Gabeira porque, entre outras, ele é da Zona Sul, intelectual demais (sic), da elite e blá, blá, blá. É o mesmo preconceito, aquele que não abrimos mão. Aquele entranhado, aquele ranço de sociedade putrefata.

Tudo é tão tosco e, pior, alicerçado pela mídia. Que vergonha as manchetes de hoje estampadas em alguns jornais. A isenção desceu pelos ralos das universidades de Comunicação, foi poluir a Guanabara.

Sempre votei no Lula e ontem, votei no Gabeira.

Nada contra nem a favor do Paes, que não conheço. Mas sou Gabeira, pela trajetória ética que, no mínimo, deve servir como espelho de dignidade para a maioria dos que com isso se importam, esteio.
Quanto a Paes, tomara, de coração, que você faça um governo como o Rio de Janeiro jamais viu, como todos nós merecemos.

Parabéns pela vitória e que eu possa, num futuro breve, me orgulhar de ter você como prefeito de uma cidade que merece ser maravilhosa.

Cachorro doido


Zeca Baleiro



Essa é a noite do cachorro doido
Fina fera, magro bicho
Olho duro, espessa baba
Latindo pra lua o seu capricho
Essa é a noite do poeta torto
Flor de Lotus na sarjeta
Sem lua, musa ou Deus que o guarde
Pulando a janela do contexto
Só a noite é que sabe que a vida não tem jeito
Que pro escuro de um poema
Qualquer ganido é bom pretexto
Qualquer ganido é bom pretexto
Qualquer ganido é bom.

"Posso perder minha mulher, minha mãe
desde que eu tenha o meu Rock'n'Roll"

By Giuvannucci e K-Brito

segunda-feira, outubro 13, 2008

ASPECTOS

Cláudia Ferrari



Sabor de linhaça
no primeiro suco
som agudo de vento
em folhas imaginárias.
O que são as memórias?
Um punhado de coisas que pegamos com as mãos?
Quem estava ali, quem estará adiante
em mim e no outro?
Também sou um lance de dados
Um balé solto de cartas no espaço
Sou o tempo
largo, generoso, Divino
com o olhar intacto
da vida que acontece
e da outra que me escapa.

quarta-feira, outubro 08, 2008

ESCREVER, HUMILDADE, TÉCNICA

Clarice Lispector


Essa incapacidade de atingir, de entender, é que faz com que eu, por instinto de... de quê? procure um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento. Esse modo, esse "estilo" (!), já foi chamado de várias coisas, mas não do que realmente e apenas é: uma procura humilde. Nunca tive um só problema de expressão, meu problema é muito mais grave: é o de concepção. Quando falo em "humildade" refiro-me à humildade no sentido cristão (como ideal a poder ser alcançado ou não); refiro-me à humildade que vem da plena consciência de se ser realmente incapaz. E refiro-me à humildade como técnica. Virgem Maria, até eu mesma me assustei com minha falta de pudor; mas é que não é. Humildade com técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente. Descobri este tipo de humildade, o que não deixa de ser uma forma engraçada de orgulho. Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que erro dá à vida, faz perder muito tempo.


Texto extraído do livro "A Descoberta do Mundo", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1999.

segunda-feira, setembro 29, 2008

O OLHAR QUE A PALAVRA LIBERTA

POESIA

O OLHAR QUE A PALAVRA LIBERTA
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Exercício do olhar, de Tanussi Cardoso.
Editora Fivestar, 143 pgs.
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Cacau Leal*
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Sempre que se aproxima um momento especial entre pessoas amigas ou enamoradas, a primeira coisa que vem à cabeça tem raiz milenar: um presente. Por quê? Porque o presente é uma metáfora de como um vê, sente e deseja o outro. É um ato em que a razão é vencida pelo império dos sentidos.

Há os que dão roupas, perfumes, aparelhos de barbear, celulares. Outros, em cima da hora, dão flores, caixas de bombons, vinhos. E assim o ritual continua firme e forte, sem fronteiras. Mas há uma tribo, cada vez mais rara, que gosta de ler, de tentar entender o mundo, de conhecer as diferenças dentro da união, de ver e ser visto pelo outro. Para estes, por que não um livro? Se essa for a escolha, uma ótima opção é o livro de poesias “Exercício do olhar” (Editora Fivestar), do poeta, jornalista e crítico literário Tanussi Cardoso.

Em “Exercício do olhar”, o poeta não se envereda pelo romantismo idealizado, nem constrói os seus versos sobre a areia movediça do lirismo místico, nem cai no formalismo conservador. O seu esforço é no sentido de expor o que há de mais profundo no coração do homem, sem abandonar a força da linguagem. Chega lá através da lâmina do olhar, em versos como estes, pinçados da poesia que dá título ao livro: “o olho do sonho que se recorda / o olho da memória em movimento / o olho da esperança e da utopia / o olho dos girassóis.” E mais adiante: “o olho da carne dentro da pele / o olho entre os lençóis / o olho insuportável dos limites / o olho sem algemas.” É esse olho, nos olhos de quem o lê e vê e sente, que aproxima em vez de afastar. Olhos que se namoram.

Poeta reverenciado por nomes consagrados no meio literário, como Affonso Romano de Sant’Anna, Olga Savary, Antônio Carlos Secchin, Carlos Nejar e outros mais, Tanussi Cardoso faz valer os elogios recebidos ao longo de sua trajetória. “Exercício do olhar” é uma forma de dizer que tudo está em movimento, que o mundo, as pessoas e as suas falas são um mistério diante do futuro. Essa visão das coisas ganha luz no poema “Óvulo I”, que abre o livro: “meu poema larva: que bicho se abrirá em palavras?” Não é uma dúvida, é a certeza de que algo nascerá de suas entranhas, feito de carne, ossos e sonhos. Bichos, como os da artista plástica Lygia Clark, que são objetos para serem vistos, tocados, vividos. É preciso mergulhar nos poemas para sentir na pele os múltiplos bichos que nascem da lavra poética de Tanussi.

Por querer a renovação do movimento contra o mofo da paralisia, o poeta não pára e lança o seu olhar em múltiplas direções, sem a elas se prender. Ao longo de sua trilha poética, o leitor encontra, implícita ou explicitamente, fragmentos dos universos visionários de Guimarães Rosa, Moacyr Félix, Dalton Trevisan, Raduan Nassar, Dante Alighieri... Ou, conforme os seus próprios versos: “o olho na mão de Gullar / o olho das cinco raízes / Cecília Bandeira Murilo Cabral Drummond”.

E para melhor entender a estranheza causada pela visão do que não é convencional nem imitativo, o autor recorre a uma citação do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, na epígrafe que abre o livro: “Estamos cegos de nós mesmos porque estamos treinados para ver-nos com olhos alheios. Por eles o espelho nos devolve uma mancha confusa e nada mais que uma mancha.”

“Exercício do olhar” foi contemplado com prefácio do poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles, que coloca Tanussi Cardoso entre os grandes poetas do nosso tempo. Valeu-se nesse sentido de sua longa experiência literária – através de crítica imparcial – a fim de extrair dos poemas o que neles a construção estilística revelou em termos de técnicas e de conteúdo.

Sobre a técnica, Mendonça Teles diz: “A técnica da sintaxe nominal, ou seja, a construção de poemas sem verbos de ação dá ao poeta um poder de contenção admirável, como em “Certas respostas”, por exemplo, em que a estrutura do poema se faz anaforicamente (...). Só no final se introduzem três verbos, ‘acreditar’, ‘creio’ e ‘escrevo’, que servem de pedestal do poema, tal como era comum nos poetas medievais.”

Sobre o conteúdo, não é menos arguto: “A começar pelos títulos dos poemas, mencionem-se ‘Os olhos nos desvãos’, ‘Fotografia’, ‘Retoque no retrato’, ‘Exercício do olhar’ e ‘O olhar ao meio’. Mas, por dentro, no espaço dos textos, o pesquisador encontra imagens do olho/olhar misturadas com a de tempo, nome, cidade, Deus e metalinguagem (...).”

No poema “Exercício do olhar”, seus 61 versos recorrem à anáfora “o olho”. Apesar do uso dessa figura de linguagem – que se caracteriza pela repetição de um mesmo termo ao longo do texto – os versos não perdem a força de ação. O leitor é levado a conviver com palavras de forte impacto conteudístico e a refletir sobre as várias faces do ser no mundo. Ou como define o poema “Como se não fosse adeus”: “não quero escrever sobre paredes. paredes não sangram”.

Volto ao início: quem tem amigos pro que der e vier ou pessoas queridas, é hora de exercitar os sentidos, demonstrando, metaforicamente, os laços que unem corpos e mentes durante a vida. Sem dúvida nenhuma as opções são muitas e as ofertas cada vez mais diversificadas. Uma boa dica talvez esteja nos versos do poema “Embriagai-vos” de Charles Baudelaire: “Tudo está aí, eis a questão. (...) Embriagai-vos sem trégua. Mas de quê? De Vinho, de virtude ou de poesia: a escolha é vossa. (...)”.

*Cacau Leal é jornalista e poeta

sexta-feira, setembro 19, 2008

ELZA SOARES É TUDO

Foto: arquivo Google, s/ref.autor



DURA NA QUEDA

Chico Buarque




Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

domingo, setembro 14, 2008

Inacabado

Cláudia Efe



É noite
e você sente, quando tudo conspira.
Há um lugar possível entre as coisas
há um qualquer
tempo e espaço em déjà vu
Eu não sei quando foi
não sei o que foi
(pra dizer a impossível verdade,
eu não sei de nada)
mas tudo está ali
entre o improvável
e a forma,
feito coisa.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Do livro das pequenas mágicas

Cláudia Efe

Onde o fóssil
estreito hábil
caverna feito verbo?
Onde largo, relógio
tangente, frágil
pequeno aflito que nos une?
Lugar de alquimia, desespero
ou miragem?
O que é quem em nós, além?
Quem de nós, em nós
nos ousa Milagres?

quinta-feira, setembro 04, 2008

Passamento

Cláudia Efe


Quem em mim o que dorme

A alma que acorde?