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domingo, agosto 17, 2008

Sobre a Escrita...


Clarice Lispector




Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atrave ssa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.


Texto extraído do site http://www.releituras.com

quarta-feira, agosto 13, 2008

Vertentes - Recital de poesia

Tanussi Cardoso




Recital de Poesia com

Elaine Pauvolid, Márcio Catunda
Ricardo Alfaya, Tanussi Cardoso

participação especial de
Rosa Born, que lerá poemas de Marcio Carvalho

Eles darão uma palinha do que será o novo livro que lançarão juntos!!!

Em 2003, Elaine Pauvolid, Márcio Catunda, Ricardo Alfaya, Tanussi Cardoso e Thereza Christina Rocque da Motta lançaram Rios, pela Íbis Libris. Agora Elaine, Catunda, Alfaya e Tanussi se lançam num novo projeto, preparando outra coletânea, que contará também com a poesia de Marcio Carvalho (in memoriam).

A idéia dos quatro poetas de produzirem parcerias em poesia é antiga e pretende desenvolver-se cada vez mais, seja através de recitais ou publicações. O grande aglutinador é o poeta Márcio Catunda que, mesmo fora do Brasil, mantém a chama da poesia acesa. Ele virá exclusivamente para o recital.

Você não pode perder!

Os poetas mostrarão, pela primeira vez, poemas elaborados para uma nova antologia - Vertentes - a ser lançada em breve.

Após o recital, haverá palco aberto para você mostrar a sua poesia também.

Para quem não conhece o Barteliê, trata-se de um apartamento muito simpático, com cara de ateliê e bar. Ou é um bar muito simpático com cara de apartamento e ateliê? Você precisa conhecer.

Serviço:
Domingo, dia 17 de agosto a partir das 18h
O Barteliê fica na rua Vinícius de Moraes, 190, apto. 03, Ipanema
(esquina com Nascimento Silva).
Ingresso: R$ 5,00

terça-feira, agosto 12, 2008

Clarice Lispector




Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.

sábado, agosto 09, 2008

A máquina invisível


Cláudia Efe



Tudo o que me faz refém
de mim e do outro
o que me deixa aquém
e todas as uniformidades
tudo de padrão
de poréns
tudo o que me afasta e que retém
tudo que é rima e desafinados
todos os extremos e talvez
tudo de sensato e outro lado
tudo de uma vez
tudo que transborda e depois excede
me vira para onde o que se esgota
como se de repente
tudo fosse vida
inesgotável
de sentidos
formas
e não saber-se
para sempre

segunda-feira, agosto 04, 2008

IMPERDÍVEL




SANDRA
GREGO E OS TROIANOS


no Cine Lapa

Dia seis de agosto, quarta-feira, a partir das 8h da noite.


Envie um e-mail para sandragrego@sangragrego.com.br
participe da lista amiga e pague apenas R$ 10,00.

O Cine Lapa fica na Av. Mem de Sá, n° 23, Lapa, RJ

sexta-feira, agosto 01, 2008

A palavra da boca


Cláudia Efe



Circunstância
cálculo exato:
entre a farsa e o efêmero
língua, saliva, dentes.
Progressão geométrica:
o sentimento desvairado
entre o antes e o outro
nem razão, ou proporção.






Paul Gauguin - Vairumati, 1896, Museu de Orsay, Paris