A cantora e compositora Olívia esteve na rádio Cultura Brasil para divulgar seu sexto disco "Só a música faz..." e concedeu uma entrevista exclusiva a Vilmar Bittencourt para o programa Galeria.
Vale conferir:
http://www.radarcultura.com.br/node/38877
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sexta-feira, outubro 23, 2009
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domingo, julho 19, 2009
quarta-feira, junho 24, 2009
A casa
Efe
Sobre esta noite
tenho a dizer
que me entram
ruídos de gente, como vozes sem endereço
os ventos são como engenho na janela e provocam luas de frases longas
tenho a dizer que tudo é pacato
como as aparências das ruas distantes, dos moinhos vazios
aqui está a minha casa e seus cheiros e lugares escondidos
nada pra ela é objeto, tudo se conta
os amores que tive, os que não tive, os que invento
Se apropria dos ruídos, dá endereço às vozes
Embaralha o silêncio, despedaça os moinhos
fica dona do tempo
Sobre esta noite
tenho a dizer
que me entram
ruídos de gente, como vozes sem endereço
os ventos são como engenho na janela e provocam luas de frases longas
tenho a dizer que tudo é pacato
como as aparências das ruas distantes, dos moinhos vazios
aqui está a minha casa e seus cheiros e lugares escondidos
nada pra ela é objeto, tudo se conta
os amores que tive, os que não tive, os que invento
Se apropria dos ruídos, dá endereço às vozes
Embaralha o silêncio, despedaça os moinhos
fica dona do tempo
domingo, junho 21, 2009
Quando isso é só hoje
Cláudia Efe
A maioria de tudo me escapa
Inclusive preciso escrever depressa
Antes que me desvaneça o segundo
Razoável que já me tomou o primeiro
É preciso urgência para a natureza das coisas
Dado que me foge a sabedoria
Como corredeira
Não basta o sol por um dia inteiro
Ou luas cravadas que se ostentam
Tudo será pouco
Dada a geografia parca do entendimento
Queria de volta meus quatro anos
Uns cinco, talvez
Eu olhava com os olhos
E comia com a boca
O caminho
21.06.2009
A maioria de tudo me escapa
Inclusive preciso escrever depressa
Antes que me desvaneça o segundo
Razoável que já me tomou o primeiro
É preciso urgência para a natureza das coisas
Dado que me foge a sabedoria
Como corredeira
Não basta o sol por um dia inteiro
Ou luas cravadas que se ostentam
Tudo será pouco
Dada a geografia parca do entendimento
Queria de volta meus quatro anos
Uns cinco, talvez
Eu olhava com os olhos
E comia com a boca
O caminho
21.06.2009
terça-feira, junho 09, 2009
sábado, maio 30, 2009
segunda-feira, maio 25, 2009
Telegrama, outro
Efe
em algum instante
tudo avisa urgência
há uma grande viagem
é preciso que se façam malas
que se marquem bilhetes
que se embarquem
em algum instante
tudo avisa urgência
há uma grande viagem
é preciso que se façam malas
que se marquem bilhetes
que se embarquem
Telegrama
terça-feira, maio 19, 2009
OS CIGANOS AINDA ESTÃO NA ESTRADA
sábado, maio 16, 2009
Oxalá
quarta-feira, maio 06, 2009
Khrystal, o cão chupando manga
por Cláudia Ferrari
Tive a sorte de assistir ao show de Khrystal ontem à noite, no muito querido teatro Rival (Petrobras).
Impactante é pouco, foi Brasil pelos meus quatro cantos. De Jackson, Lenine e de outros cabras tão arretados que minha ignorância nunca ouviu falar.
(continuo mais tarde, hora de ir pro trabalho... até)
Tive a sorte de assistir ao show de Khrystal ontem à noite, no muito querido teatro Rival (Petrobras).
Impactante é pouco, foi Brasil pelos meus quatro cantos. De Jackson, Lenine e de outros cabras tão arretados que minha ignorância nunca ouviu falar.
(continuo mais tarde, hora de ir pro trabalho... até)
domingo, maio 03, 2009
Augusto Boal
"Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida"
(num discurso em Paris, no dia 27 de abril de 2009, Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, 1931- + 2009).
quarta-feira, abril 29, 2009
Khrystal no Teatro Rival , é "Coisa de Preto"
por Zé Dias (Produtor Cultural)
http://www.myspace.com/cantorakhrystal
Coisa de preto dá coco. E se dá coco é potiguar. É mais ou menos nessa batida que Khrystal lança o CD “Coisa de Preto” no Teatro Rival Petrobras, Rio de Janeiro.
Com 27 anos de vida e já com oito de carreira, a cantora Khrystal, como a maioria dos artistas brasileiros, começou a se apresentar na noite, cantando hits de sua geração, sem nunca perder a via da trajetória da Música Popular Brasileira.
Antenada com todos os sons e se dizendo intérprete da MPB do rock, nos últimos anos mergulhou em um trabalho de pesquisa no ritmo mais potiguar de todos (O CÔCO) e lançou em maio de 2008, seu primeiro trabalho que contempla canções de Lenine, Dominguinhos, Guinga e Jacinto Silva, para citar alguns dos bons compositores nacionais, e resgata Elino Julião, além dos novatos Galvão Filho e Romildo Soares, potiguares da melhor estirpe.
Paralelo ao trabalho de cantora e, sentindo necessidade de se expressar como compositora, uniu-se a quatro cantores/compositores, Luiz Gadelha, Angela Castro, Simona Talma e Valéria Oliveira. Juntos, criaram o Projeto Retrovisor, que nada mais é do que uma ode a canção autoral.
Como primeiro fruto do projeto, khrystal e Simona Talma vencem o MPBECO-Festival do Beco da Lama, com a canção “Volta”, consolidando a união e força da iniciativa que visitou os quatro cantos da cidade, além de Mossoró e Ribeirão Preto/SP, mostrando suas canções autorais e confirmando que nem tudo está perdido na canção popular do Brasil.
SERVIÇO
KHRYSTAL & BANDA
DIA 05 DE MAIO, TERÇA-FEIRA, ÀS 19h30
TEATRO RIVAL PETROBRAS
INTEIRA: R$ 30,
MEIA: R$ 15,
terça-feira, abril 21, 2009
proximidade
quinta-feira, abril 09, 2009
domingo, março 01, 2009
ACASOS LITERÁRIOS
A Editora Multifoco faz uma homenagem especial às mulheres
dia quatro de março, quarta-feira, a partir das 19h30
Debate com as autoras:
MARIA DE QUEIROZ (FLORES DE DENTRO) & TATHIANA TREUFFAR (ABRO O LIVRO QUE ME ESCREVO)
MPB e Samba:
MICHELINE CARDOSO
av. Mem de Sá, 126, Lapa, Rio de Janeiro
reservas: 2222 3034
sábado, fevereiro 28, 2009
Sobre perambulações no pequeno livro de mágicas
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
Dona Do Raio: O Vento
Doryval Caymmi
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
"É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos, passa e vai em frente
Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento
Por isso me parece imagem e justa
Para quem vive e canta num mau tempo"
O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia (2x)
A minha voz é vento de maio
Cruzando os mares dos ares do chão
Meu olhar tem a força do raio que vem de dentro do meu coração
O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia
Eu não conheço rajada de vento mais poderosa que a minha paixão
Quando o amor relampeia aqui dentro, vira um corisco esse meu coração
Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão
Porque Iansã desde o meu nascimento, tornou-se a dona do meu coração
O raio de Iansã sou eu...
Sem ela não se anda
Ela é a menina dos olhos de Oxum
Flecha que mira o Sol
Olhar de mim.
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
"É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos, passa e vai em frente
Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento
Por isso me parece imagem e justa
Para quem vive e canta num mau tempo"
O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia (2x)
A minha voz é vento de maio
Cruzando os mares dos ares do chão
Meu olhar tem a força do raio que vem de dentro do meu coração
O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia
Eu não conheço rajada de vento mais poderosa que a minha paixão
Quando o amor relampeia aqui dentro, vira um corisco esse meu coração
Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão
Porque Iansã desde o meu nascimento, tornou-se a dona do meu coração
O raio de Iansã sou eu...
Sem ela não se anda
Ela é a menina dos olhos de Oxum
Flecha que mira o Sol
Olhar de mim.
terça-feira, fevereiro 17, 2009
terça-feira, fevereiro 10, 2009
sábado, fevereiro 07, 2009
terça-feira, fevereiro 03, 2009
Não sei quantas almas tenho
Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
terça-feira, janeiro 27, 2009
Tunico Ferreira & Banda
segunda-feira, janeiro 26, 2009
Das Vantagens de Ser Bobo
Clarice Lispector
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
sexta-feira, janeiro 23, 2009
Por enquanto
segunda-feira, janeiro 19, 2009
Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
Manoel de Barros
de "O Guardador de Águas"
I
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.
III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.
Baratas passeiam nas formas de bolo...
A casa tem um dono em letras.
Agora ele está pensando -
no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...
Um tordo avisou que é março.
IV
Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!
V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.
VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.
VII
Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural
- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.
IX
Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.
de "O Guardador de Águas"
I
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.
III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.
Baratas passeiam nas formas de bolo...
A casa tem um dono em letras.
Agora ele está pensando -
no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...
Um tordo avisou que é março.
IV
Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!
V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.
VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.
VII
Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural
- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.
IX
Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.
Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho
Manoel de Barros
de "O Guardador de Águas", Ed. Civilização Brasileira.
1
Gravata de urubu não tem cor.
Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
Luar em cima de casa exorta cachorro.
Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam.
Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
No osso da fala dos loucos têm lírios.
3
Tem 4 teorias de árvore que eu conheço.
Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga.
Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.
Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.
Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.
7
Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro se umedeça em nosso corpo.
9
Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.
11
Que a palavra parede não seja símbolo
de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância,
etc. (essas coisas que acham os
reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdomen de uma casa.
Eu tenho um gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de paredes
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio cego.
Tal um verme que iluminasse.
12
Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.
13
Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por
morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas
a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a
dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos
domingo, janeiro 18, 2009
foto:arquivo google, s/referência autor
Cláudia Efe
Manoel
hoje não tem brisa
e também não achei Anarina
Foi um dia quente
e agora uma certa chuva
Adoro os telhados
e o som das calçadas e dos ventos
o que a gente mais precisa na vida?
Um tambor de dentro
um tambor de fora
e talvez uma exceção desmedida
que nos escorra por dentro
Cláudia Efe
Manoel
hoje não tem brisa
e também não achei Anarina
Foi um dia quente
e agora uma certa chuva
Adoro os telhados
e o som das calçadas e dos ventos
o que a gente mais precisa na vida?
Um tambor de dentro
um tambor de fora
e talvez uma exceção desmedida
que nos escorra por dentro
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