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terça-feira, dezembro 03, 2013

Céu de ontem

(Cláudia Efe)

Será que ainda existe o céu de ontem?
Ou tudo é feito água?
Não faço ideia de quando se vive ou de quando se morre
(aliás, não sei bem que coisa é uma ou que coisa é outra)
Dei de inventar as coisas quando misturei os sentimentos com as palavras
Eu não sei nada, quase nada, muito pouco
eu só imagino no presente do indicativo
e basta

sábado, outubro 26, 2013

Perceba


(Cláudia Efe. Anotações para o pequeno livro de mágicas)


A palavra amanhece
se ilumina, faz noites
fogueiras, faz luas.
Chega com o tempo
no desenho das horas
A palavra pulsa
lateja
tem veias, vertentes
A palavra escorre
é líquida
Tem rios
tem ritos, tambores
tem ritmo
a palavra é música
a palavra me navega,
tem naus
tem mares
a palavra tem palavra
e me cega
me alcança
me tinge
de palavra



sábado, agosto 03, 2013

Maria

                                                                       Cláudia Ferrari (03 agosto 2013)


Mando flores para Maria
Para Maria mando o bálsamo que guardei na gaveta
Segue também o sol que entra pela fresta
E outros pedidos
Vai em paz, Maria
Que tudo te abençoe, te acolha

E nos liberte

sexta-feira, agosto 02, 2013

A CASA


                                                                  (Cláudia Efe, 01 de agosto de 2013)



Não por acaso
quis o destino a casa
deu endereço, ergueu paredes
abriu portas, iluminou de sol as janelas
foi luas e noites de chuva.
Não por acaso.
A casa escreve por dentro
Por isso a gente enfeita, perfuma
Derrama, brinda, faz festa
Dá lugar, canto e se espalha.
Depois recolhe, dobra, lava, enxuga
Só se parte o que é parte 
não o que não é inteiro










domingo, julho 07, 2013

Anotações (para o pequeno livro de mágicas)

                                                                                                                                               (Cláudia Efe)





A vida serve para isso
Mudar um quadro de lugar
Olhar a janela
Ouvir o som das ruas que não vejo
A vida respira nas páginas que folheio
nos mares que a invenção navega
faz e desfaz
desenha e apaga
giz de cera
no meu caderno amarrotado
vou procurar a lua
e acender vagalumes

domingo, junho 30, 2013

Nau

                                                                         Letra e música*: Cláudia Efe (* dia desses posto o áudio...)




Vaza pela noite a fotografia
vez por outra é assim
Vaza pelos olhos, me transborda
e quando vejo, é madrugada
(e os dias vão)

Quem em mim ousou ser nós?
Quem de mim?

Mar, palavra seca, sal
sem terra à vista ou miragem
Náufrago na ventania
dentro a sede
insiste em seus lugares

Quem ...


(Rio, 29 de junho 2013)




domingo, maio 26, 2013

Funeral Blues ( W.H. Auden / Tradução: Maria de Lourdes Guimarães)


Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os policiais de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.






Stop all the clocks, cut off the telephone, 
Prevent the dog from barking with a juicy bone, 
Silence the pianos and with muffled drum 
Bring out the coffin, let the mourners come. 

Let aeroplanes circle moaning overhead 
Scribbling on the sky the message 'He is Dead'. 
Put crepe bows round the white necks of the public doves, 
Let the traffic policemen wear black cotton gloves. 

He was my North, my South, my East and West, 
My working week and my Sunday rest, 
My noon, my midnight, my talk, my song; 
I thought that love would last forever: I was wrong. 

The stars are not wanted now; put out every one, 
Pack up the moon and dismantle the sun, 
Pour away the ocean and sweep up the woods; 
For nothing now can ever come to any good. 

April 1936


quarta-feira, maio 15, 2013

Do outro lado

                                                                                                                                               (Cláudia Efe)


Sempre haverá o outro
do outro lado
o outro do outro lado
está distante junto disperso dentro
são e louco, como um avesso


podemos ser um ou outro
ou sem réguas ou compassos 
perder-se desmedidos
um ao outro



sexta-feira, maio 03, 2013

Enquanto espero

                                                                                                                                              Cláudia Efe




Enquanto espero
o tempo passa
a lua cresce
muda inteira
enquanto espero
tudo é movimento
tudo expande
e contrai
a água desce da montanha
sol no horizonte ou vezes chuva
implacável o tempo o tempo todo muda
me diz do limite ao mesmo tempo o tempo me navega
eu infinito e tolo
sou suas noites e dias
sou sua

segunda-feira, abril 29, 2013

                                                                Clarice Lispector


"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


sábado, abril 27, 2013

Sobre o inteiro

                                                                                                                                                 Cláudia Efe








Amor não é meta
nem metade

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Dizeres

                                                                                                                cláudia efe



Fale por si só, a noite
ostente seus silêncios
luas minguantes
estrelas subtraídas
calor absurdo
ruídos estardalhaços
e outros medos

eu falo da outra noite
falo o que eu quiser da outra noite
da noite dentro da noite dentro da noite
da noite escondida
deliciosamente perdida em noite
da noite escandalosamente noite
da puta noite
da puta que pariu a noite!

eu posso dizer da noite que rasga o vento
de uma chuva absurda de raios que caiu sobre a noite
eu hoje posso ir para todos os seus lados
me por e sair do seu lugar sem ir a lugar algum