por Cláudia Ferrari
Alguns historiadores afirmam que o século XX transformou-se e multiplicou-se em diferenças mais rapidamente do que em qualquer época anterior à sua e todas essas mudanças e experimentos, nas mais variadas vertentes, refletiram-se na arte. A Revolução Francesa, em 1789, é o marco do primeiro grande rompimento com a tradição. A partir daí, a história, a religião e a mitologia, não seriam, necessariamente, os únicos temas revelados nos trabalhos de pintores, escultores e arquitetos. Para a escritora Rosemary Lambert (1) essa atitude “constitui, realmente, o início da Arte Moderna”.
Dentro de todas essas possibilidades trazidas pelo novo século, e de movimentos artísticos que se sucediam e também se influenciavam – afirmando, negando ou tranformando -, surge o Abstracionismo que, traduzido através de artistas como, Vassíli Kandinsky, Jackson Pollock, Piet Mondrian, Bárbara Hepworth e muitos outros, abandona o paradigma da representação, o “tema reconhecível”, o objeto exterior. O espírito do Abstracionismo é a emoção, a “paisagem de sensações”, o sentimento interior, o instinto dando autonomia às cores e formas: esse o equilíbrio, o ritmo dessa pintura, a verve, o novo olhar.
Muitos desses artistas eram contestadores e, declaradamente, oponentes da sociedade em que viviam. A maioria desses movimentos, à medida que surgiam, eram rejeitados pelos convencionalismos acadêmicos e seus “júris oficiais”, recebiam ferrenhas críticas e seus artistas tornavam-se alvos do ostracismo, da hostilidade, da chacota, do escândalo e outras incompreensões. Com o Abstracionismo, não foi diferente. No final do século XIX, August Endell, pintor alemão art nouveau, afirmava que: “uma arte totalmente nova estava prestes a desenvolver-se, uma arte com formas que nada significavam, nada representavam e nada recordavam, mas que teria o mesmo efeito emocional da música. A música, que sai da mente do compositor e só se torna “real” quando é tocada, cria um estado de espírito ou uma atmosfera, ou até sugere formas e cores em nossas mentes..." Então, por que as formas e cores na mente do artista, que podem não representar qualquer objeto reconhecível, não estariam também completas quando pintadas numa tela?”
Atribui-se a Kandinsky (1866/1944), pintor russo, a “invenção” da Pintura Abstrata. Em 1931 é fundado o “Criação Abstrata”, um movimento internacional de artistas abstratos. Entre seus membros, Ben Nicholson, Arp, Mondrian e Kandinsky. O “Criação Abstrata” projeta e torna mundialmente reconhecida essa tendência.
Pós-Guerra: da Europa para os Estados Unidos.
Na década de 30, era crescente o medo de uma nova guerra. A instabilidade política fez com que muitos artistas e intelectuais europeus se refugiassem em Nova York. Entre eles, Hans Hofmann, Max Ernst, Salvador Dali, Joan Miró, Piet Mondrian, Arshile Gorky, que já residia nos Estados Unidos desde 1920, e muitos outros expoentes. Tal migração colaborou para o declínio de Paris e elegeu Nova York como o novo centro das artes. Nesse período, alguns artistas estabelecem um forte elo entre a América e os movimentos europeus.O Museum of Modern Art, em Nova York, expõe vários artistas europeus; Guggenheim inaugura um museu de arte não-objetiva, principalmente, a abstrata, levando a público importante coleção das obras de Kandinsky.
Jackson Pollock
Jackson Pollock (1912/56), artista americano, foi aluno da escola de belas-artes em Los Angeles e estudou pintura com Thomas Hart Benton, em Nova York. Cézanne, Picasso, Kandinsky, Diego Rivera e, principalmente, Albert Pinkham Ryder, foram suas maiores influências.
Sua fonte de arte era o inconsciente, além das idéias propagadas pelos surrealistas. Seu trabalho era considerado como “pintura de confrontação”. Para o escritor E.H.Gombrich (2), Pollock, “tornando-se impaciente com os métodos convencionais, colocou suas telas no chão e pingou, derramou ou projetou suas tintas de modo a formarem configurações surpreendentes”. Criador de um novo estilo, o artista foi um dos precursores da Action Painting ou “pintura de ação”.
Fontes:
1 – Lambert, Rosemary. A Arte do Século XX, Introdução à História da arte da Universidade de Cambridge. RJ, Zahar, 1984.
2 – Gombrich, E.H. A História da Arte. RJ, Editora Guanabara, 1988.