Adélia Prado
A muda de olhos azuis que morava com as freiras
dava equilíbrio ao mundo
porque era muda e eu não.
Sobre cigarras sabe-se:
seus desespero cíclico é esperança.
Que vida estranha a minha,
me fingindo de pobre na abundância,
me fingindo de muda entre falantes,
imitando cigarra às escondidas,
as que quando morrem
viram fóssil de ar,
lâminas de cristal nos troncos
desidratadas de excessos.
Eu não sabia que era objeto de amor.
Provocações de outubro,
este desconforto na felicidade
de quem a vida toda renegou sua herança
pensando agradar a deus não sendo abrupta.
O sapato é tão novo,
ou são meus pés recriados que latejam?
como o grunhido da muda
a fala é bruta,
estou feliz e dói.
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