Translate
quinta-feira, dezembro 11, 2008
sexta-feira, dezembro 05, 2008
A CANTORIA DE CÁTIA DE FRANÇA
por Cláudia Ferrari
Cátia de França e Banda
recebem Xangai no show “A Cantoria de Cátia de França”
um Brasil que canta o Brasil por dentro
Quem sobe ao palco do Teatro Rival Petrobras no próximo dia 16 de dezembro, terça-feira, a partir das 19h30 é a cantora, compositora e instrumentista Cátia de França e Banda (Marcelo Bernardes, sax e flauta; Sérgio Chiavazzoli, violão e viola de 12 cordas; Jakaré e Leonardo Hedim Palma, percussão). O show “A Cantoria de Cátia de França” tem participação super especial de Xangai.
Cátia de França é um dos ícones da música nordestina que, a partir da década de 1970, revelou para a Música Popular Brasileira nomes, entre outros, como os de Zé Ramalho (produtor do primeiro vinil de Cátia de França, “Vinte palavras girando ao redor do sol”, 1979), Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alceu Valença e Tânia Alves. Para Hermínio Bello de Carvalho, “quando Cátia surgiu, surgiu com ela também a estranheza. Da voz, do repertório, da coisa comportamental que ela trazia. Ou seja, ela não era uma artista de consumo, ela não era um produto, ela era uma artista genuína, que tinha uma proposta de trabalho muito interessante, uma voz absolutamente original.”
A paraibana de verve artística e presença de palco inconfundíveis, promete trazer para o público do Rio de Janeiro o suingue e força poética – bebe na fonte de Manoel de Barros, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego, Guimarães Rosa e Henry David Thoreau, para citar alguns dos - que permeiam sua obra. Um arsenal construído em décadas de letras viscerais e delicadeza impactante e, muito boa música, espalhado por palcos de todo o Brasil.
No repertório do show “Cantoria de Cátia de França”, além das composições consagradas na sua própria voz e por intérpretes do quilate de Elba Ramalho (Kukukaia – Jogo da asa da bruxa), Amelinha e Chico César (Coito das Araras), Clementina de Jesus (Meu boi surubim) e Xangai (Antoninha), a artista também apresenta músicas inéditas de “Hóspede da natureza”, seu mais novo CD, com lançamento previsto para 2009.
Prestes a completar 62 anos (em 13 de fevereiro de 2009), a artista de carreira ininterrupta por mais de 40 anos, foi recentemente agraciada com os prêmios “Mestre das Artes Canhoto da Paraíba”, pela sua cidade natal e com o “Itaú Cultural”, em São Paulo.
Xangai, amigo e parceiro musical de longa data
Nascido no sertão da Bahia e criado na zona da mata de Minas Gerais, o cantor, compositor e violeiro, Xangai aprendeu a cantar aboiando com os vaqueiros. Para a crítica especializada é considerado uma das mais belas vozes da música sertaneja de raiz. É primo do cultuado compositor Elomar, artista decisivo para a sua formação musical. Xangai gravou várias músicas de Cátia de França ao longo de sua carreira e, juntos, já realizaram shows pelos quatro cantos do país. Para a “Cantoria de Cátia de França” no Teatro Rival Petrobras, Xangai traz a multiplicidade da música do sertão, com toda a sua beleza, sofisticação e, acima de tudo, simplicidade.
Credenciais para imprensa e mais informações:
Cláudia Ferrari (jornalista – assessora de imprensa)
claudiajornalista@gmail.com ou claudia.ferrari@globo.com
sábado, novembro 08, 2008
Tsunâmi sistêmico com batida de umbu
ESCRITOR E JORNALISTA
Até mesmo no Pelourinho, sorvendo batida de umbu depois de uma palestra a convite da UNE na Universidade Católica de Salvador, foi impossível ignorar os estrépitos e as marolas do tsunâmi no coração do capitalismo, no "areópago do mercado mundial" do poema que Drummond dedicou ao FMI. Esse Mercado que, como Deus, mereceria inicial maiúscula, padece de moléstia grave e insidiosa, conseqüência da desenfreada cobiça que estimulou nos banqueiros e especuladores, sedentos de lucros fáceis, sem trabalho, a qualquer preço.
O diagnóstico que grassava entre os turistas das mesas próximas já era dos mais sombrios: crise sistêmica, isto é, bem mais ampla e generalizada do que as periféricas que acometeram alguns países e regiões nas últimas décadas, como a da Ásia em 1997. Na medicina, equivaleria a câncer com metástase. As células afetadas que migram, há ano e meio, da lesão inicial, no sistema de crédito imobiliário e hipotecário dos Estados Unidos, estão provocando a maior crise do sistema desde a Grande Depressão, que se seguiu ao crash da Bolsa de Nova York em 1929, com a derrota do capital financeiro e o "formidável enterro" de uma quimera, que não é a única nem a última – como a do Augusto dos Anjos – do capitalismo, mas, certamente, uma das mais resistentes: Ele, o Mercado, seria auto-regulável. Falácia promovida, no início dos anos 80, conforme o megainvestidor húngaro-americano George Soros, a "dogma ideológico", pelo presidente Ronald Reagan e pela primeira-ministra britânica Margareth Thatcher.
O candidato republicano John McCain perdeu logo alguns pontos na disputa com o democrata Barack Obama, por insistir na tese da solidez dos fundamentos da economia norte-americana, um dos sagrados mandamentos dos fundamentalistas do Mercado, os adoradores do Charging Bull, o touro de bronze que simboliza a força do capitalismo no distrito financeiro nova-iorquino. O que eles estarão pensando agora, depois da estatização de bancos e do pacotão antifalências, socorro governamental, à custa dos contribuintes (socialização dos prejuízos), de US$ 850 bilhões para a compra dos papéis podres das subprimes, que os economistas estão chamando de "lixo tóxico" – para Soros, um band-aid para quem está com hemorragia? E as receitas neoliberais que nos prescreviam? Será que os "irmãos do Norte", como eram chamados pelos revolucionários da ditadura, entendem de finanças tanto quanto de direitos humanos e respeitam os princípios da economia tanto quanto o Direito Internacional e a autodeterminação dos povos?
Sei que, lá do alto dos templos de Wall Street, Ele, que tudo vê, sabe, mercantiliza e coisifica, inclusive eu e o umbu, pode não gostar, mas quero mais uma batida. Que desce ainda mais redondo quando me lembro de que, antes de ACM, a Bahia viveu sob o reinado de Juraci Magalhães, também criador, em 1965, de um dogma ideológico, sacralizado pela ditadura e responsável por uma era de vassalagem em nossa política externa: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". Não era, como também não é, necessariamente mau para nós o que é ruim para eles.
Com a redução da nossa vulnerabilidade externa nos governos Lula, podemos, ao longo do maremoto, diminuir, com os três outros emergentes do Bric (Rússia, Índia e China), a distância que nos separa dos países ricos. Desde 2003, a dependência do Brasil em relação às exportações para os EUA caiu de mais de 23 para 15%; na China, é inferior a 3%. E é por isso que o vagalhão chega ao Pelô como marola, sem os redemoinhos em que se afogam os bancos norte-americanos. Aqui, o processo de submissão ao Consenso de Washington, iniciado com a atabalhoada abertura da economia no governo Collor e continuado com as privatizações e desnacionalizações de Fernando Henrique, ainda pôde ser contido.
Embora o colapso de Wall Street assinale a decadência do império norte-americano e a História já tenha demonstrado que hegemonias e sistemas não são eternos, ainda não é hora de comemorar o acerto das previsões de Marx quanto ao fim do capitalismo. Mesmo porque é impossível prever que sistema o sucederia. Para o cientista político norte-americano Imannuel Wallerstein, no momento, "a única alternativa no cardápio é o Fórum Social Mundial".
No que se refere à hegemonia, que ele define como "um fenômeno do sistema capitalista mundial", a China desponta como favorita, inclusive porque já vem promovendo a reconversão da sua economia para o mercado interno. A se confirmar o prognóstico, que o embaixador brasileiro Miguel Osório de Almeida já fazia, baseado em projeções econométricas, há algumas décadas, eu me permitirei uma profecia: a Grande Muralha desbancará a Disneylândia como supremo objetivo de consumo cultural da nossa classe média.
Nada mais havendo a festejar por enquanto, peço a saideira ao dono da Cantina da Lua, Clarindo Silva, que acumula a função de Rei Momo do Carnaval baiano. Os 70 anos do monarca não foram objeto de contestação, mas os seus 60 e poucos quilos, num físico que lembra os maratonistas etíopes e quenianos, causaram indignação entre os obesos candidatos soteropolitanos que derrotou na eleição. Será que, na essência, não é este o mal que acomete o Mercado: o excesso de gordura, sem sustentação muscular? Com a falta de lastro em bens reais, e também – e não menos importante – na ética ?
Artigo publicado no Jornal do Brasil
em 27 de outubro de 2008, pág. A10
MÚSICA NO MUSEU
convida professores/educadores para
REPÚBLICA DOS PROFESSORES - A REPÚBLICA NA MÚSICA BRASILEIRA
COM O GRUPO HISTÓRIA ATRAVÉS DA MÚSICA
no dia 12 de novembro (4ª feira), das 13:00 as 17:00 horas no ESPAÇO EDUCAÇÃO
Agendamento pelo email: encontrocomprofessores@museudarepublica.org.br
15 de novembro (sábado), das 15:00 as 16:30 horas nos Jardins do Museu da República
GRUPO HISTÓRIA ATRAVÉS DA MÚSICA
ENTRADA FRANCA
domingo, novembro 02, 2008
"O inimigo da nossa geração usava farda; o desta é virtual"
Ronney Argolo
Na semana passada, o escritor e jornalista Arthur Poerner deu uma palestra sobre os 40 anos de 1968 na Universidade Católica de Salvador, num evento promovido pela União Nacional dos Estudantes [UNE]. Poerner escreveu em 68 o livro O poder jovem: história da participação política dos estudantes brasileiros, que até hoje é referência na pesquisa sobre a participação política estudantil. A ditadura já havia então suspendido os seus direitos políticos por dez anos e ele foi obrigado a sair do Brasil e se exilar na Alemanha. Em entrevista para o repórter Ronney Argolo, o escritor conta o que pensa da UNE, da política e dos jovens.
A Tarde – Qual a luta do movimento estudantil hoje?
Arthur Poerner – O inimigo principal é o neoliberalismo, que, nos anos 60, ainda não existia na versão atual, de irrestrita liberdade do mercado. A gente lutava contra a ditadura e pelo socialismo. Nos inspiravam revoluções populares como a cubana, a vietnamita e a chinesa; queríamos trazê-las para o Brasil. Pretendíamos não apenas derrubar a ditadura, mas, também, mudar o mundo. Éramos idealistas e ousados. O inimigo da nossa geração usava farda; o desta é virtual. Pode ser, por exemplo, um banqueiro que rouba o país e, depois, conta com a presteza do Judiciário em sua defesa. Na nossa época, muito menos gente chegava a concluir o curso superior, o que garantia emprego a quase todos que obtivessem o diploma. Hoje, com o número bem maior de graduados, a concorrência no mercado de trabalho também disparou. E os estudantes têm que lutar pela melhoria da qualidade dos cursos e por uma política oficial de emprego.
AT – Para lutar contra o inimigo fardado, os estudantes dos anos 60 tinham ícones como Gandhi, Martin Luther King, Che Guevara. Em quem a juventude se inspira hoje?
AP – Um dos ícones atuais é Nelson Mandela, mas os antigos ainda se mantém. Não temos, no momento, grandes estadistas, nem de esquerda nem de direita. De Gaulle, por exemplo, era um presidente de direita, mas um estadista. É um absurdo patético que um país como os Estados Unidos esteja nas mãos de um boçal como o Bush.
AT – O que a falta de democracia nos ensinou?
AP – Que ela é o valor mais essencial em nossas vidas. Eu sempre falo dos bens de que só tomamos conhecimento quando nos faltam, como as mães. Quando elas estão por perto, para organizar nossas vidas, arrumar as coisas, nos dar atenção, às vezes nem as percebemos. Só depois que as perdemos é que sentimos como eram importantes. O mesmo ocorre com a democracia. Hoje, é normal os estudantes, como os demais setores da sociedade, protestarem, fazerem ouvir os seus anseios e reivindicações. Mas, nos tempos da ditadura, tive os meus direitos políticos suspensos, fui preso e tive que me exilar por pretender exercer o direito à liberdade de opinião e expressão.
AT – Como o senhor enxerga a luta do movimento estudantil no Brasil?
AP – Quando escrevi meu livro, tentei me opor à idéia de que estudante não devia se envolver em política. Eu era universitário, na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro. Pesquisando sobre a participação política estudantil, achei registros muito antigos. O mais velho deles, de 1710, quando corsários franceses invadiram o Rio e os estudantes seminaristas - porque ainda não havia universidade nem faculdades no país - resistiram ao ataque e prenderam o chefe dos invasores, Jean-François Duclerc. Assim como no Rio, encontrei histórias semelhantes em outros estados. Os estudantes da Faculdade de Medicina da Bahia, por exemplo, juntavam dinheiro para alforriar escravos. A diferença é que eram manifestações dispersas, transitórias e regionais. Somente a partir de 1937, com a fundação da União Nacional dos Estudantes [UNE], foram unificadas e se tornaram permanentes e nacionais.
AT – A UNE representa para os estudantes de hoje o mesmo que representava em 60?
AP – Tem o mesmo significado. A UNE tem mais de 70 anos e já participou de muitos movimentos históricos. A diferença é que hoje ela não é hegemônica. Na época do AI- 5, em 68, os sindicatos urbanos estavam sob intervenção, o incipiente sindicalismo rural fora esmagado no nascedouro e as manifestações populares eram coibidas. Por isto, a UNE centralizava a resistência. Agora, a realidade mudou, vivemos uma fase de construção e solidificação da democracia. Existem muito mais organizações sociais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores [CUT] e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST]. Participar de movimento estudantil deixou de ser um risco, porque o nosso governo é aberto a isso, aceita e estimula o diálogo. Não é mais preciso engrossar. Os tempos são outros e as lutas também. A UNE, por exemplo, se bate por mais verbas e vagas para a universidade pública.
AT – O Reuni, programa do governo que propõe essas mudanças, tem recebido muitas críticas. O senhor é a favor dele?
AP – Sim, sou a favor da reestruturação, como vem sendo feita. Às vezes, por serem imobilistas ou por encararem qualquer inovação com receio pessimista, as pessoas se precipitam na rejeição.
AT – E quanto aos movimentos estudantis locais, não ligados a UNE ou que discordam dela?
AP – Todos são importantes, mas a UNE engloba tudo. Participei, ano passado, do Congresso da UNE em Brasília, com a presença da juventude de vários partidos, todos opinando contra ou a favor, democraticamente, como nos anos 60.
AT – O senhor não acha os jovens de hoje muito individualistas para lutar por causas coletivas?
AP – Sim, é um fenômeno mundial. Na Alemanha, por exemplo, há muito que não existe cola nas provas escolares. Mais do que ética, a motivação é a concorrência exacerbada pelo sistema: desde cedo, os estudantes vêem os colegas como concorrentes. Mercantiliza-se tudo, inclusive as pessoas, o que fomenta o individualismo em todo o mundo ocidental. Para isto, contribui o talvez único aspecto negativo da internet, que faz muitas pessoas se isolarem ainda mais.
AT – O Brasil segue o mesmo caminho da Alemanha?
AP – O Brasil tem capitalismo, mas tem buscado um caminho próprio, não neoliberal. O presidente Lula vem promovendo melhoria na distribuição da renda, o que demonstra que a esquerda é parte do poder, com muitas das idéias que nos embalavam nos anos 60.
AT – Os estudantes de hoje são capazes de superar o individualismo?
AP – Sim, ainda temos muito o que realizar como nação e o sucesso dos esforços vai depender do trabalho grupal e comunitário . Temos que combater em muitas frentes: pelo resgate da secular dívida social, contra o desmatamento da Amazônia, contra a situação da saúde pública, contra a corrupção, a impunidade, a lentidão da Justiça, o corporativismo, o cartorialismo, o HIV, pela democracia em todos os níveis e setores básicos do nosso povo. Acho que a juventude sempre soube e saberá se unir nos momentos decisivos da nacionalidade. Os congressos da UNE continuam concorridos. E eu, particularmente, encontro público interessado nas palestras pelo país afora. Além do mais, a mesma internet que, em certos casos, favorece o isolamento e o individualismo, é nossa poderosa aliada na luta fundamental pela democratização da informação e pela mobilização em prol das grandes causas do nosso povo. Tudo depende da consciência e, nesse sentido, a internet é como a pólvora inventada pelos chineses: pode ser destrutiva ou muito útil para a humanidade.
sexta-feira, outubro 31, 2008
Cigarro
A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver meu bem
Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?
Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem...
Quem saberá a cura do meu coração senão eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu
O amor é pedra no abismo
A meio passo entre o mal e o bem
Com meus botões a noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?
Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem?
Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração senão eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu.
segunda-feira, outubro 27, 2008
Como eu sou ignorante
Cláudia Ferrari
Em 1989, não se deveria votar no Lula porque, entre outras "pérolas", ele não saberia resolver uma equação de segundo grau.
Em 2008, não se deveria votar no Gabeira porque, entre outras, ele é da Zona Sul, intelectual demais (sic), da elite e blá, blá, blá. É o mesmo preconceito, aquele que não abrimos mão. Aquele entranhado, aquele ranço de sociedade putrefata.
Tudo é tão tosco e, pior, alicerçado pela mídia. Que vergonha as manchetes de hoje estampadas em alguns jornais. A isenção desceu pelos ralos das universidades de Comunicação, foi poluir a Guanabara.
Sempre votei no Lula e ontem, votei no Gabeira.
Nada contra nem a favor do Paes, que não conheço. Mas sou Gabeira, pela trajetória ética que, no mínimo, deve servir como espelho de dignidade para a maioria dos que com isso se importam, esteio.
Quanto a Paes, tomara, de coração, que você faça um governo como o Rio de Janeiro jamais viu, como todos nós merecemos.
Parabéns pela vitória e que eu possa, num futuro breve, me orgulhar de ter você como prefeito de uma cidade que merece ser maravilhosa.
Cachorro doido
Zeca Baleiro
Essa é a noite do cachorro doido
Fina fera, magro bicho
Olho duro, espessa baba
Latindo pra lua o seu capricho
Essa é a noite do poeta torto
Flor de Lotus na sarjeta
Sem lua, musa ou Deus que o guarde
Pulando a janela do contexto
Só a noite é que sabe que a vida não tem jeito
Que pro escuro de um poema
Qualquer ganido é bom pretexto
Qualquer ganido é bom pretexto
Qualquer ganido é bom.
"Posso perder minha mulher, minha mãe
desde que eu tenha o meu Rock'n'Roll"
By Giuvannucci e K-Brito
terça-feira, outubro 21, 2008
segunda-feira, outubro 13, 2008
ASPECTOS
Sabor de linhaça
no primeiro suco
som agudo de vento
em folhas imaginárias.
O que são as memórias?
Um punhado de coisas que pegamos com as mãos?
Quem estava ali, quem estará adiante
em mim e no outro?
Também sou um lance de dados
Um balé solto de cartas no espaço
Sou o tempo
largo, generoso, Divino
com o olhar intacto
da vida que acontece
e da outra que me escapa.
quarta-feira, outubro 08, 2008
ESCREVER, HUMILDADE, TÉCNICA
Essa incapacidade de atingir, de entender, é que faz com que eu, por instinto de... de quê? procure um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento. Esse modo, esse "estilo" (!), já foi chamado de várias coisas, mas não do que realmente e apenas é: uma procura humilde. Nunca tive um só problema de expressão, meu problema é muito mais grave: é o de concepção. Quando falo em "humildade" refiro-me à humildade no sentido cristão (como ideal a poder ser alcançado ou não); refiro-me à humildade que vem da plena consciência de se ser realmente incapaz. E refiro-me à humildade como técnica. Virgem Maria, até eu mesma me assustei com minha falta de pudor; mas é que não é. Humildade com técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente. Descobri este tipo de humildade, o que não deixa de ser uma forma engraçada de orgulho. Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que erro dá à vida, faz perder muito tempo.
Texto extraído do livro "A Descoberta do Mundo", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1999.
segunda-feira, setembro 29, 2008
O OLHAR QUE A PALAVRA LIBERTA
O OLHAR QUE A PALAVRA LIBERTA
__________________________________
Exercício do olhar, de Tanussi Cardoso.
Editora Fivestar, 143 pgs.
___________________________________
Cacau Leal*
___________________________________
Sempre que se aproxima um momento especial entre pessoas amigas ou enamoradas, a primeira coisa que vem à cabeça tem raiz milenar: um presente. Por quê? Porque o presente é uma metáfora de como um vê, sente e deseja o outro. É um ato em que a razão é vencida pelo império dos sentidos.
Há os que dão roupas, perfumes, aparelhos de barbear, celulares. Outros, em cima da hora, dão flores, caixas de bombons, vinhos. E assim o ritual continua firme e forte, sem fronteiras. Mas há uma tribo, cada vez mais rara, que gosta de ler, de tentar entender o mundo, de conhecer as diferenças dentro da união, de ver e ser visto pelo outro. Para estes, por que não um livro? Se essa for a escolha, uma ótima opção é o livro de poesias “Exercício do olhar” (Editora Fivestar), do poeta, jornalista e crítico literário Tanussi Cardoso.
Em “Exercício do olhar”, o poeta não se envereda pelo romantismo idealizado, nem constrói os seus versos sobre a areia movediça do lirismo místico, nem cai no formalismo conservador. O seu esforço é no sentido de expor o que há de mais profundo no coração do homem, sem abandonar a força da linguagem. Chega lá através da lâmina do olhar, em versos como estes, pinçados da poesia que dá título ao livro: “o olho do sonho que se recorda / o olho da memória em movimento / o olho da esperança e da utopia / o olho dos girassóis.” E mais adiante: “o olho da carne dentro da pele / o olho entre os lençóis / o olho insuportável dos limites / o olho sem algemas.” É esse olho, nos olhos de quem o lê e vê e sente, que aproxima em vez de afastar. Olhos que se namoram.
Poeta reverenciado por nomes consagrados no meio literário, como Affonso Romano de Sant’Anna, Olga Savary, Antônio Carlos Secchin, Carlos Nejar e outros mais, Tanussi Cardoso faz valer os elogios recebidos ao longo de sua trajetória. “Exercício do olhar” é uma forma de dizer que tudo está em movimento, que o mundo, as pessoas e as suas falas são um mistério diante do futuro. Essa visão das coisas ganha luz no poema “Óvulo I”, que abre o livro: “meu poema larva: que bicho se abrirá em palavras?” Não é uma dúvida, é a certeza de que algo nascerá de suas entranhas, feito de carne, ossos e sonhos. Bichos, como os da artista plástica Lygia Clark, que são objetos para serem vistos, tocados, vividos. É preciso mergulhar nos poemas para sentir na pele os múltiplos bichos que nascem da lavra poética de Tanussi.
Por querer a renovação do movimento contra o mofo da paralisia, o poeta não pára e lança o seu olhar em múltiplas direções, sem a elas se prender. Ao longo de sua trilha poética, o leitor encontra, implícita ou explicitamente, fragmentos dos universos visionários de Guimarães Rosa, Moacyr Félix, Dalton Trevisan, Raduan Nassar, Dante Alighieri... Ou, conforme os seus próprios versos: “o olho na mão de Gullar / o olho das cinco raízes / Cecília Bandeira Murilo Cabral Drummond”.
E para melhor entender a estranheza causada pela visão do que não é convencional nem imitativo, o autor recorre a uma citação do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, na epígrafe que abre o livro: “Estamos cegos de nós mesmos porque estamos treinados para ver-nos com olhos alheios. Por eles o espelho nos devolve uma mancha confusa e nada mais que uma mancha.”
“Exercício do olhar” foi contemplado com prefácio do poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles, que coloca Tanussi Cardoso entre os grandes poetas do nosso tempo. Valeu-se nesse sentido de sua longa experiência literária – através de crítica imparcial – a fim de extrair dos poemas o que neles a construção estilística revelou em termos de técnicas e de conteúdo.
Sobre a técnica, Mendonça Teles diz: “A técnica da sintaxe nominal, ou seja, a construção de poemas sem verbos de ação dá ao poeta um poder de contenção admirável, como em “Certas respostas”, por exemplo, em que a estrutura do poema se faz anaforicamente (...). Só no final se introduzem três verbos, ‘acreditar’, ‘creio’ e ‘escrevo’, que servem de pedestal do poema, tal como era comum nos poetas medievais.”
Sobre o conteúdo, não é menos arguto: “A começar pelos títulos dos poemas, mencionem-se ‘Os olhos nos desvãos’, ‘Fotografia’, ‘Retoque no retrato’, ‘Exercício do olhar’ e ‘O olhar ao meio’. Mas, por dentro, no espaço dos textos, o pesquisador encontra imagens do olho/olhar misturadas com a de tempo, nome, cidade, Deus e metalinguagem (...).”
No poema “Exercício do olhar”, seus 61 versos recorrem à anáfora “o olho”. Apesar do uso dessa figura de linguagem – que se caracteriza pela repetição de um mesmo termo ao longo do texto – os versos não perdem a força de ação. O leitor é levado a conviver com palavras de forte impacto conteudístico e a refletir sobre as várias faces do ser no mundo. Ou como define o poema “Como se não fosse adeus”: “não quero escrever sobre paredes. paredes não sangram”.
Volto ao início: quem tem amigos pro que der e vier ou pessoas queridas, é hora de exercitar os sentidos, demonstrando, metaforicamente, os laços que unem corpos e mentes durante a vida. Sem dúvida nenhuma as opções são muitas e as ofertas cada vez mais diversificadas. Uma boa dica talvez esteja nos versos do poema “Embriagai-vos” de Charles Baudelaire: “Tudo está aí, eis a questão. (...) Embriagai-vos sem trégua. Mas de quê? De Vinho, de virtude ou de poesia: a escolha é vossa. (...)”.
*Cacau Leal é jornalista e poeta
sexta-feira, setembro 19, 2008
ELZA SOARES É TUDO
DURA NA QUEDA
Chico Buarque
Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural
Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas
Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir
Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas
O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas
domingo, setembro 14, 2008
Inacabado
É noite
e você sente, quando tudo conspira.
Há um lugar possível entre as coisas
há um qualquer
tempo e espaço em déjà vu
Eu não sei quando foi
não sei o que foi
(pra dizer a impossível verdade,
eu não sei de nada)
mas tudo está ali
entre o improvável
e a forma,
feito coisa.
quinta-feira, setembro 11, 2008
Do livro das pequenas mágicas
Onde o fóssil
estreito hábil
caverna feito verbo?
Onde largo, relógio
tangente, frágil
pequeno aflito que nos une?
Lugar de alquimia, desespero
ou miragem?
O que é quem em nós, além?
Quem de nós, em nós
nos ousa Milagres?
quinta-feira, setembro 04, 2008
domingo, agosto 17, 2008
Sobre a Escrita...
Clarice Lispector
Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atrave ssa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.
Texto extraído do site http://www.releituras.com
quarta-feira, agosto 13, 2008
Vertentes - Recital de poesia
Recital de Poesia com
Elaine Pauvolid, Márcio Catunda
Ricardo Alfaya, Tanussi Cardoso
participação especial de
Rosa Born, que lerá poemas de Marcio Carvalho
Eles darão uma palinha do que será o novo livro que lançarão juntos!!!
Em 2003, Elaine Pauvolid, Márcio Catunda, Ricardo Alfaya, Tanussi Cardoso e Thereza Christina Rocque da Motta lançaram Rios, pela Íbis Libris. Agora Elaine, Catunda, Alfaya e Tanussi se lançam num novo projeto, preparando outra coletânea, que contará também com a poesia de Marcio Carvalho (in memoriam).
A idéia dos quatro poetas de produzirem parcerias em poesia é antiga e pretende desenvolver-se cada vez mais, seja através de recitais ou publicações. O grande aglutinador é o poeta Márcio Catunda que, mesmo fora do Brasil, mantém a chama da poesia acesa. Ele virá exclusivamente para o recital.
Você não pode perder!
Os poetas mostrarão, pela primeira vez, poemas elaborados para uma nova antologia - Vertentes - a ser lançada em breve.
Após o recital, haverá palco aberto para você mostrar a sua poesia também.
Para quem não conhece o Barteliê, trata-se de um apartamento muito simpático, com cara de ateliê e bar. Ou é um bar muito simpático com cara de apartamento e ateliê? Você precisa conhecer.
Serviço:
Domingo, dia 17 de agosto a partir das 18h
O Barteliê fica na rua Vinícius de Moraes, 190, apto. 03, Ipanema
(esquina com Nascimento Silva).
Ingresso: R$ 5,00
terça-feira, agosto 12, 2008
sábado, agosto 09, 2008
A máquina invisível
Tudo o que me faz refém
de mim e do outro
o que me deixa aquém
e todas as uniformidades
tudo de padrão
de poréns
tudo o que me afasta e que retém
tudo que é rima e desafinados
todos os extremos e talvez
tudo de sensato e outro lado
tudo de uma vez
tudo que transborda e depois excede
me vira para onde o que se esgota
como se de repente
tudo fosse vida
inesgotável
de sentidos
formas
e não saber-se
para sempre
segunda-feira, agosto 04, 2008
IMPERDÍVEL
sexta-feira, agosto 01, 2008
A palavra da boca
segunda-feira, julho 28, 2008
Peter Gast
Caetano Veloso
Sou um homem comum
Qualquer um
Enganando entre a dor e o prazer
Hei de viver e morrer
Como um homem comum
Mas o meu coração de poeta
Projeta-me em tal solidão
Que às vezes assisto
A guerras e festas imensas
Sei voar e tenho as fibras tensas
E sou um
Ninguém é comum
E eu sou ninguém
No meio de tanta gente
De repente vem
Mesmo eu no meu automóvel
No trânsito vem
O profundo silêncio
Da música límpida de Peter Gast
Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Peter Gast
O hóspede do profeta sem morada
O menino bonito Peter Gast
Rosa do crepúsculo de Veneza
Mesmo aqui no samba-canção
Do meu rock'n'roll
Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Sou um homem comum
domingo, julho 27, 2008
tormenta
segunda-feira, julho 21, 2008
E lá se vai o Geraldo Casé...
domingo, julho 20, 2008
MOVIOLA, UMA REVISTA SUPERBACANA
Na praia deles, Teatro, Cinema e outros barulhos.
Entre os editores, a jornalista Elis Galvão.
Vale ler, ouvir, dançar:
http://www.revistamoviola.com/
4 x 4
Naomi Conte
Gotejava sobre o ar condicionado do lado de fora da janela, a cortina de um verde puído, Ana limpava as unhas esparramada entre travesseiros sobre a cama de solteiro. Chovia há seis horas, fazia quarenta graus dentro do quarto e no rádio tocava “o meu destino é ser star…”. Se tivesse dinheiro compraria um jipe, um quatro por quatro, chegaria na loja calçando chinelos de dedo, com o dinheiro em cash uma vez na vida. Seria mal atendida por dois ou três vendedores, mascaria chicletes nesse dia, entraria na loja como quem tem um cartão de crédito, com esse ar de felicidade dos comerciais de televisão. Ignoraria os dois ou três atendentes mal educados e invejosos, faria um teste drive com um jipe de cabine aberta e outro, japonês, de cabine fechada, compacto. No balcão, em frente ao vendedor assustado, retiraria da bolsa aberta maços de notas. E com as mãos abarrotadas faria parte da sociedade como uma cidadã respeitável. Saiu à noite durante um mês para concretizar seu objetivo: o jipe. Seu amigo policial J. trataria pessoalmente dos detalhes evitando inconvenientes, um acerto de cinco por cento no final. Impossível, tinha seus brios, gritava Ana com J., um casal de evangélicos era um exagero e soubera disso apenas dois meses depois do contrato assinado. Ele pastor, ela pastora, dinheiro não seria um problema nessa família, mas Ana matara os homens de deus aos dezessete anos com um aborto.
Frustrada a primeira tentativa, Ana foi relembrada por J. e pelas propagandas de acessórios que cor metálica e air bag são ítens opcionais e decidiu-se por um leilão. Foram muitos os interessados na mulher de boa saúde. Seguiu-se uma ficha a ser preenchida por possíveis compradores garantindo um mínimo de idoneidade. Enfim, definiu-se pelo casal na faixa dos quarenta, vegetarianos e ecologistas, trabalhavam numa grande empresa de computadores americana. Conheciam o Brasil de uma breve viagem ao Rio de Janeiro, haviam inclusive feito uma visita guiada às favelas. Via-se logo que tinham preocupações sociais, elocubrava Ana acariciando a barriga. Haviam lido Baumann e gostado muito. Planejavam comprar à prazo um terreno numa ilha artificial no Golfo Pérsico para ajudar a preservar o meio ambiente. Ela, operada de miomas, não podia mais engravidar. O contrato fechado por cinqüenta mil dólares incluía bancos de couro.
Seis meses depois, na sala da concessionária, Ana trocou seu bebê por um jipe tração nas quatro.
Você encontra Naomi Conte no http://www.contosinterditos.blogspot.com/
Muitos aplausos para Dercy Gonçalves!
Acho que Dercy merece um carnaval e outras grandes festas populares, daquelas que uma semana nos pareça pouco.
Ter dignidade, honestidade, respeito e coragem de se ser o que se é, fora ou dentro dos palcos, é para poucos. É para transgressores raros, como ela é e para sempre o será. As palavras de Dercy sempre caíram como bombas, ela própria, um campo minado: catucou, leva; ficou parado, leva um soco no estômago também. Longe dela os comerciais de margarina. Sempre sacudiu o plantão da moral e dos bons modos e outras ilhas da hipocrisia.
Aplausos para a sua irreverência que, entre outras, me faz crer que a vida é possível de valores humanos, daqueles que conjugam inteligência e generosidade. Um beijo para a sua alegria e outras admirações, que ao seguir a sua viagem você possa continuar a iluminar as nossas.
sexta-feira, julho 18, 2008
A verdadeira arte de viajar
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.\
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
(Quintana in “A cor do invisível”)
Foto: arquivo Google, s/ref.autor.
terça-feira, julho 15, 2008
SANDRA GREGO NO LEBLON
segunda-feira, julho 14, 2008
domingo, julho 13, 2008
Nathalie Loureiro
Diga-me, ó, Magnífica
Tu que és a trilha inexorável
A palavra escarrada
Última e primeira
Diga-me
Já que o vazio é jorrado
E és infinitude espalhada
Aos pés do visível
Diga-me, ó, Magnífica
Tu que és éter ácido e doce
O tempo-mor
Da minúscula alma
Tu que és a simplicidade
Que afronta a existência
Pois não posso tocar
O divino da semente
Diga-me, ó, Magnífica
Tu que és consciência
Das asas do saber
O odor do som primordial
Tu que estás no novo
E no antigo
Tu que dás nome
Ao inexistente
Diga-me, ó, Magnífica
Quem és tu?
Pois posso apenas tocar
A poeira ornada de ouro
Que meus pés largaram
Até agora num oceano
Vulgarmente chamado
Vida
Eu, fragmento de uma sensibilidade que produz um ritmo.
Eu, que vim ao mundo para participar
dessa missa louca com minha doida dança na derrocada dos valores que torturam a alma humana.
Eu, filho do sol.
Eu, forte, belo, irmão do poente.
Eu, dançando, nesses esparsos-espaços
palcos da vida.
Foto: Alex de Souza
sábado, julho 12, 2008
quarta-feira, julho 09, 2008
(por ele)
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
segunda-feira, julho 07, 2008
Acho que a briga é outra.
Gente,
tudo se transforma. Sabemos disso, desde o ventre (alguns, até antes).
Não dá mais para fingir que peneiras nos protegem do sol.
Estou falando dos downloads. Sou contra a pirataria, não compro nada pirata. MESMO (pelo menos, que eu saiba).
Porém, baixar alguma coisa que está disponível na Internet é outro assunto.
Não dá mais para negar as convergências, os diálogos que a tecnologia estabelece. É simples e inevitável.
Direito autoral no Brasil sempre foi um fiasco. Chiquinha Gonzaga, que o diga.
Desde o XIX, a arrecadação é boa para os cofres de alguns, menos para os dos artistas (compositores, autores etc.).
Os que se alimentaram e se alimentam com os "supostos direitos" são as grandes indústrias de discos, de livros... Um vampirismo pouca vezes questionado. E também, algumas entidades que se apropriaram das categorias e que, sinceramente, me engasgam de engodo. Pouco sobrou para os que fornecem a matéria-prima: para uns, glamour; para muitos, álcool, sexo, drogas e sargeta!
Só que isso agora está às claras. As indústrias culturais perderam o seu monopólio. E isso está doendo no bolso (deles!). Mas o artista continua perdendo, como sempre. Isso não é de agora. Isso é injusto, desde sempre. Isso é covarde.
Acho que o momento é propício para uma grande transformação. Se todos os provedores que disponibilizam uma banda larga, os que fabricam um computador, os que criam um software, um pen drive, que seja! Se todos os que produzem e vendem toda essa parafernalha que serve de esteio a internautas como eu. Se toda essa indústria das infovias destinar um percentual da sua arrecadação para o artista, o autor, o escritor, o desenhista, o que criou o que está sendo disponibilizado, e seja isso o quer que seja... Se houver um pouco mais de honestidade, dignidade e ética (e isso só será possível sem os atravessadores profissionais, por favor).
Talvez eu visite Clementina de Jesus lá na sua casa própria, talvez eu veja Rosinha de Valença rodeada de conforto, talvez Cartola me pague uma cerveja e a gente não precise mais botar a vida no prego.
sábado, julho 05, 2008
A minha casa
Gosto de saber quem me procura.
Como inspiração ou lampejo e outras coisas esquisitas.
Gosto daqueles que chutam a porta da geladeira
entre outras delicadezas.
Pode trazer música, flor, cerveja, vento, sashimi, sopa ou chuva (meus preferidos).
Mas intimidade tem autonomia, ela própria se estabelece.
Cabe a mim
morrer de amor, de susto ou de vazio.
05.07.2008