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sábado, dezembro 30, 2006
O INÍCIO DO ANO GALÁCTICO
Data estelar: Plutão, o anão invocado, se alinha com o centro da Galáxia. Lua continua crescendo em Touro.
Enquanto isso, aqui na nave Terra tudo vai muito além do que nossa humanidade alguma vez se atreveu a imaginar, pelo que se torna propício abdicar de tradições e padrões preestabelecidos, abrindo os braços para a chegada de uma dimensão muito maior de experiência. Esse mundo cultural nosso, conservador pela sua própria natureza, não está devidamente preparado para a transfiguração, e de sua resistência resulta o sofrimento. Por isso, não se deve confundir esse sofrimento com a natureza do momento atual, pois o alinhamento de Plutão com a Galáxia, que marca o início de ano galáctico, vem para libertar, e sofre tudo o que em nosso mundo teime em andar no sentido contrário, o que não é pouco, pois virtualmente tudo se submete ao confinamento.
Diário de Bordo
30 de dezembro de 2006.
http://www.astrologiareal.com.br/
sexta-feira, dezembro 29, 2006
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Plutão, o anão invocado
Oscar Quiroga
Data estelar: Plutão inicia seu alinhamento com o centro da Galáxia, Lua é quarto crescente em Áries.
Enquanto isso, aqui na nave Terra nossa humanidade comprovará que, a despeito das denominações cozinhadas em obscuras reuniões acadêmicas, Plutão demonstrará que não apenas é um planeta, mas que, mesmo sendo chamado de anão, se manifesta como um baixinho invocado. Quanta vaidade se acumula no coração de nossa humanidade! E quanta dor e miséria se disseminam por causa dessa! 2007 é o ano galáctico de construção de nossa cultura, onde se decide a orientação por uma estrela maior, bem maior da que foi imaginada até agora. Nossa humanidade vê a sua folga diminuída dramaticamente, pelo que não é de se admirar o sentimento de desespero que circula silenciosamente por aí. É hora de se fazer o melhor com o que de pior estiver acontecendo. Menos queixas e mais espírito!
dezembro 2006
quarta-feira, dezembro 27, 2006
ainda sobre águas
das intensidades
você até pede às nuvens
para que não chova
mas você não pede
pra chuva deixar de ser chuva
sexta-feira, dezembro 22, 2006
CRISTINA DA COSTA PEREIRA
A escritora Cristina da Costa Pereira tem 56 anos. Carioca do bairro do Méier, graduada em Português e Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, lecionou durante dez anos. Além de professora, Cristina reúne em seu extenso curriculum, as profissões de produtora cultural e copidesque, entre outras.
Seu fôlego, parece incansável. Em entrevista exclusiva, Cristina relata sua vivência como mulher, militante cultural e escritora. Começou a escrever poemas na adolescência, ainda estudante, mas a retomada que lhe abriu as portas para a profissionalização, só aconteceu em 1984, quando escreveu o seu primeiro livro, “Povo Cigano”, publicado no ano seguinte.
Atualmente, a escritora tem nove títulos editados. Destacam-se os Ensaios: “Trilogia cigana”; “A Inspiração espiritual na criação artística”, finalista do Prêmio Jabuti, na Categoria Religião, em 2000 e “Povos de Rua”, edição cultuada no meio artístico e intelectual, principalmente, do Rio de Janeiro e da Bahia, cidades retratadas pela autora.
Cristina, nos revela seu processo criativo, sua relação intrínseca com a palavra. Para a artista, inspiração e vocação são sagradas no seu dicionário. Ainda acredita em coisas simples e raras, como o convívio entre os seres humanos.
Apaixonada pelo bairro de Santa Teresa, onde residiu por 30 anos, Cristina é uma mulher, meio menina, que se mistura, que se envolve, com o Rio, sua arte e sua gente.
Cláudia Ferrari (CF) – Cristina, qual a sua formação?
Cristina da Costa Pereira (CCP) – Sou graduada em Letras, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. E fui professora de Literatura durante dez anos, na rede estadual e em inúmeros colégios particulares do Rio e sou escritora.
CF – Como você começou a escrever?
CCP – A Literatura ajudou muito porque eu sempre escrevia poesias. Na época de estudante, o chamado “poema mimeógrafo”, já existia. Mas eu não comecei, estranhamente, pela poesia, isso ficou lá, na época de estudante. Eu comecei a escrever em 1984 , publiquei o meu primeiro livro, “Povo Cigano” que é um Ensaio sobre a etnia cigana, uma minoria étnica. Começou a me vir uma idéia de escrever um conto sobre a etnia cigana. Eu não sou descendente de ciganos, eu não teria nenhuma ligação afetiva, eu não conhecia... talvez, quando eu comecei a ter a idéia desse conto eu comecei a pesquisar sobre a cultura. Eu vi que não tinha nada no Brasil, uma literatura, uma bibliografia séria sobre o tema...
CF – Que ano foi esse?
CCP – Foi 1984. Publicado em 1985, meu livro.
CF – Ainda não tinha nenhum apelo da mídia com relação a essa etnia?
CCP – Foi anterior, porque só existia um livro no Brasil, “Os ciganos do Brasil”, de 1886, de Melo Moraes Filho. E nem era vendido em livraria, estava na Biblioteca Nacional. Foi o livro a que eu tive acesso, o resto eu tive que consultar a bibliografia de Portugal e da Espanha, as línguas onde eu conseguia ler.
Esse movimento a que você se refere já foi posterior, tanto que eu fui chamada pra ser assessora de uma novela chamada “Pedra sobre pedra” e meu livro já estava há um ano para ser editado e aí, já era o segundo livro, inclusive, já era o “Lendas e histórias ciganas”, já 1990. Terceiro livro, aliás, sobre ciganos, 1990. Aí a novela da Globo começou a me chamar pra dar uma assessoria para o “núcleo cigano”.
CF – Mas esse seu primeiro livro, ele já tinha uma editora ou você foi “produção independente” mesmo?
CCP – O primeiro, 1984, foi o único livro meu “edição do autor”.
CF – A sua relação com a mídia propiciou um impulso na sua carreira como escritora?
CCP – Bom, esse livro, talvez pelo ineditismo do tema no país, chamou a atenção.
CF – Quantos livros você tem ao todo publicados?
CCP – Publicados, nove livros.
CF – Qual o ritmo da sua produção literária?
CCP – O “Ainda é tempo de sonhos”, um livro infanto-juvenil, adotado pela rede pública de ensino, foi lançado em 1992, pela Imago. Depois disso, eu fiz um hiato na minha carreira até 1998, quando o bairro de Santa Teresa, onde eu morei de 70 a 2000, me inspirou pra eu fazer o meu primeiro livro de poesia, chamado “Revisitando o bairro de Santa Teresa e outros caminhos”. Depois, lancei outros livros de poesia, até chegar ao “A inspiração espiritual na criação artística”, em 1999, que foi finalista do Prêmio Jabuti, categoria “Religião”, e no ano 2003 eu lancei “Povos de rua”, que é um ensaio sobre a Lapa, Santa Teresa e Pelourinho, cuja musa é a rua. Então, minha Literatura, é essa aí.
CF– “Povos de rua” é um livro bastante divulgado, bastante difundido num meio artístico, intelectual, a que você atribui toda essa repercussão?
CCP - Ele é um livro cult, eu diria assim, a feitura estética, o tema é muito interessante, uma especulação sobre a rua, que não tem um viés acadêmico. O livro especula que quê é a rua e a partir daí, os segmentos que moram ou que usam a rua como fonte de inspiração. Você vê os mendigos, as prostitutas, os meninos de rua, os artistas que usam a rua como a sua fonte de inspiração. Os boêmios que estão ali na rua por outros motivos, não é isso? E também a umbanda com o seu segmento “povo de rua”. Então, o livro também tem uma coisa da religiosidade eminentemente brasileira. Então, é um livro de brasilidade, sem dúvida nenhuma, de cultura negra brasileira.
CF –Você sofreu algum preconceito pra conseguir as entrevistas para o livro, como é a sua relação com a rua?
CCP – Quem mora em Santa Teresa freqüenta um bocado as ruas de Santa Teresa e a Lapa tá logo ali. Eu tinha uma certa familiaridade com a rua. A rua não me assustava, a rua não me impressionava assim, de eu ficar observando e não me envolvendo. Eu não tinha assim, tanta dificuldade de contato não. Claro que o difícil foi eu escrever o livro. Porque todas as entrevistas, a maioria, foram feitas em bar, bebendo muita cerveja. Eu tinha que ir pra casa lembrar, escrever e tudo mais, à mão. Na Bahia, então, tudo se deu assim, não tinha gravador.
CF – Cristina, como alguém se torna um escritor?
CCP – Bom, eu acho que isso aí é uma coisa que vem com a pessoa, já tá impregnado no nosso espírito. Um escritor, veja bem, vocação, então vamos à etimologia da palavra: invocare vem do latim chamamento, vocação. Vocação vem de chamamento, chamamento interior que é a vocação. Eu acho que eu tenho a vocação como todo mundo, o artista plástico tem a vocação, o outro músico tem sua vocação, então você obedece a um chamamento. Eu obedeci a esse chamamento, de escrever, que não me garantia absolutamente nada, como hoje não garante absolutamente nada, nem do ponto de vista econômico, nem do ponto de vista de prestígio. Você simplesmente tem que obedecer a esse chamado interior e quando você se vê, você está escrevendo, envolvida com o tema tresloucadamente, que você não faz mais outra coisa da vida. Aquilo parece que toma, quer dizer, estou falando do meu processo. Porque eu só escrevo assim, quando alguma coisa... quando baixa o santo. Então, assim, vem aquele tema na minha cabeça e eu saio que nem uma louca atrás daquele tema. Até agora eu estou assim, digamos assim, sem nenhuma inspiração pra escrever mais alguma coisa por enquanto.
CF – Como é a sua relação interior com a palavra?
CCP –É claro que a Literatura, o conhecimento da Teoria Literária, dos estilos de época, os autores que eu li, que eu estudei e tudo o mais, é obvio que isso me ajudou na minha relação com a palavra, não tenha dúvida. Por outro lado, se isso tudo me ajuda, eu não deixo que me atrapalhe. Então, por exemplo, Teoria Literária me deu um instrumental pra conhecer, lidar com a palavra, lidar com as metáforas, no caso da Literatura também, mas eu não fico bitolada àquilo que eu aprendi da teoria. O meu processo é... o poema vem e eu depois vou cuidando daquilo, claro que o conhecimento ajuda por causa disso. Vou cuidando, arestando daqui, arestando dali, fazendo um trabalho com a palavra, depurando. Mas o que vem primeiro é aquela inspiração e escrevo quase que num fluxo, depois aí, pelo menos a maioria, principalmente dos poemas e também os livros são criados assim. A minha relação com a palavra é inspiracional, eu diria que é mais que isso, é devocional.
CF – Como uma mulher se torna mulher?
CCP – Olha, será? Eu acho que ainda sou criança (risos)... apesar dos 56, quase 57, eu acho que eu ainda não passo de uma adolescente. Eu não sei se... eu às vezes vejo, me flagro fazendo coisas de criança, fazendo coisas de adolescente com essa idade que eu tenho. Então eu não sei se já me tornei uma mulher.
CF – Em que você está concentrada nesse momento atual?
CCP – Eu sempre gostei de fazer coisas que levassem à reflexão, levassem ao debate e, no fundo, é pra resgatar esse convívio, que é essa palavra tão bonita mas que as pessoas perderam. A partir dos anos 90 eu comecei a idealizar e coordenar eventos culturais.
Atualmente, faço dois eventos, “Ciranda Literária”, em Santa Teresa, no Bar do Marcô e o “Conversas Casadas”, nas Casas Casadas, em Laranjeiras. São eventos que envolvem poesia, música, contos, crônicas e esquetes teatrais e pequenas palestras sobre temas interessantes.
CF – Como é a sua relação com o bairro de Santa Teresa?
CCP - Santa Teresa me deu esse convívio com essa diversidade cultural, foi o caldo cultural que me formou, afinal de contas, foi de 1970 a 2000. Quer dizer, foram 30 anos da minha existência, boa parte da minha juventude e maturidade foi estruturada aqui, convivendo com essa diversidade cultural e com esses artistas de várias modalidades. Eu tive a oportunidade de conviver com esses artistas, com esse ambiente de Santa Teresa, muito libertário, muito agradável, junta ao mesmo tempo a tradição e essa liberdade.
Santa Teresa tem toda uma, digamos assim, uma coisa de cidade do interior, apesar de também estar muito antenada com as linguagens novas, com a vanguarda, com a mistura da tradição e da vanguarda.
CF – A vida tem saída?
CCP – Eu sou uma pessoa espiritualista, eu acho que isso aqui, essa passagem que a gente tem pela Terra, não é o ponto final, é apenas um ponto parágrafo. Não existe um ponto final, porque eu, como espiritualista, acredito na eternidade do espírito. Então, claro que tem saída porque nós estamos aqui pra caminhar e aprender e evoluir.
quarta-feira, dezembro 20, 2006
COMPASSO
Angela Rô Rô e Ricardo MacCord
Tom: Gm
Gm
É o que pulsa o meu sangue quente
Cm Cm7
É o que faz meu animal ser gente
D7 Gm
É o meu compasso mais civilizado e controlado
Gm
Estou deixando o ar me respirar
Cm Cm7
Bebendo água pra lubrificar
D7
Mirando a mente em algo producente
Gm
Meu alvo é a paz!
Gm
Vou carregar de tudo vida afora
A
Marcas de amor, de luto e espora
D7 Gm
Deixo alegria e dor ao ir embora
Gm
Amo a vida a cada segundo
A D7
Pois para viver eu transformei meu mundo
Gm
Abro feliz o peito, é meu direito!
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segunda-feira, dezembro 18, 2006
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
sábado, dezembro 16, 2006
sexta-feira, dezembro 15, 2006
Cruz na porta da tabacaria!
Álvaro de Campos
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.
(14-10-1930)
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Infinita preguiça
Acordei com a certeza de que Deus não existe, e dada a vacância da posição assumi de todo pronto o posto, porque o mundo, ou pelo menos a cidade onde moro, ou só a minha quadra mesmo, não sobreviveriam mais que poucas horas à esta ausência. Na cama ainda me encontrava quando pensei em fazer uma revolução, trocar mandantes por mandados, queimar shoppings, igrejas e carros importados, com raios e trovões vindos do céu, a justiça divina de uma mente atordoada de ressaca. Tão logo me veio à mente a visão final desse vazio, me veio à lembrança a “revolução dos bichos” e virei de lado. Talvez aproveitasse somente pra cuidar do eu, de mim, então pensei em comida, bebida, mulheres, conforto, porém fosse qual fosse o trivial gozo de corpo e alma prometido, teria que me levantar, lavar o rosto e dar prosseguimento à mandos e desmandos, virei de lado novamente, a cama quente, o quarto escuro, estirei o braço debaixo das cobertas, cutuquei Deus no ombro, e mandei-o reassumir o posto com urgência.
quarta-feira, dezembro 13, 2006
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Testamento
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!...
Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
(29 de janeiro de 1943)
Do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
domingo, dezembro 03, 2006
lugar-comum
bastou arrancar plumas, pompas
pesadelos
pelos
pele
arquitetura de esqueletos
fazendo fogo
com o roçar dos ossos
bastou cravar no desalinho
o fio tênue e reto do compasso
delineou-se um outro tecido
cravado pela distância
o que se perde é o que não se é
Os cegos do castelo (fragmento)
sábado, dezembro 02, 2006
sexta-feira, dezembro 01, 2006
Olhos
quinta-feira, novembro 30, 2006
Leminskiana
estar por cima?
estar por baixo?
conheço o processo
sucesso/fracasso
estar à beça
aberto ao abraço
estar inteiro no pedaço
é o que interessa
mesmo no bagaço
na lama na fossa
possa o fundo do poço
ser um primeiro passo
quarta-feira, novembro 29, 2006
Igual-desigual
Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.
terça-feira, novembro 28, 2006
domingo, novembro 19, 2006
sábado, novembro 18, 2006
INCRÉDULO
Nos labirintos da terra que se abrem para a raiz
e tudo é livre e cumpriu seu itinerário torto de estar
Na fecundidade do riso
Esse sim, o que rega e está vivo
Eu acredito na cópula
Na língua quente do beijo
Na saliva que se troca por outra troca
E desliza pelo fluxo implacável dos sentidos
Eu acredito nessa manhã que me rasga
Nesse amor que me desorienta
E me escreve de destino
E me tece
Eu acredito no silêncio e no estrondo
Da tarde que virá e outra noite
Nas luas que se sucedem e multiplicam
No invisível dos tempos, sobre a contundência das horas
quinta-feira, novembro 16, 2006
Soneto
Luís de Camões
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Amor é brando, é doce e é piedoso;
Se males faz Amor, em mi se vêem;
Mas todas suas iras são de amor;
quarta-feira, novembro 15, 2006
Memória (fragmento)
Robertinho dos Anjos
O enterro será no dia de hoje, 15 de novembro de 2006, às 14h, no cemitério do Catumbi.
Evoé, Robertinho!
domingo, novembro 12, 2006
sábado, novembro 11, 2006
dos poemas desnecessários
ventania de areia para olhos míopes
um deserto que acontece quântico
A vida anda manca
tropeça nas próprias pernas
não faz um quatro, não faz sentido
é puro estardalhaço
A vida me põe de bandeja
me veste, me deixa nua
esfrega o meu ridículo
de tantos outros cúmulos
do alto da montanha ao precipício
O choque entre o passado e o futuro
quinta-feira, novembro 02, 2006
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade
bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos
cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!
domingo, outubro 29, 2006
quarta-feira, outubro 18, 2006
Nu com a minha música
Caetano Veloso
Penso em ficar quieto um pouquinho
Lá no meio do som
Peço salamaleikum, carinho, bênção, axé, shalom
Passo devagarinho o caminho
Que vai de tom a tom
Posso ficar pensando no que é bom
Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor
Vertigem visionária que não carece de seguidor
Nu com a minha música, afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou
Nu com meu violão, madrugada
Nesse quarto de hotel
Logo mais sai o ônibus pela estrada, embaixo do céu
O estado de São Paulo é bonito
Penso em você e eu
Cheio dessa esperança que Deus deu
Quando eu cantar pra turba de Araçatuba, verei você
Já em Barretos eu só via os operários do ABC
Quando chegar em Americana, não sei o que vai ser
Ás vezes é solitário viver
Deixo fluir tranqüilo
Naquilo tudo que não tem fim
Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim
Vaca, manacá, nuvem, saudade
Cana, café, capim
Coragem grande é poder dizer sim
A sabedoria do Oriente - Meditação, reflexões e próvérbios
segunda-feira, outubro 16, 2006
sexta-feira, outubro 13, 2006
Dos poemas desnecessários
Mando meus desmantelos
meu coração intranqüilo
minhas faltas de data
minha pouca memória
e o melhor de mim
mando o que me navega
e os outros tráfegos
mando o que foi escrito com pressa
e outras urgências
mando o louco, o torto, o cético, o romântico
mando o explícito e desvairado
mando a música, a mais bonita
mando a orquestra, a banda
e uma voz rouca e outra ainda silenciosa
digo que você me atravessa
como uma lança
e se aloja nos meus sentidos
quarta-feira, outubro 11, 2006
sábado, outubro 07, 2006
TEMPO AFORA (no CD "Vagabundo" com Ney Matogrosso, Pedro Luís e a Parede
quinta-feira, outubro 05, 2006
dos inéditos (ou quase)
ENCHANTAGEM
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei tarde demais
como uma lágrima
de tanto fazer tudo parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
quarta-feira, outubro 04, 2006
Devolução
a noite de hoje me sugere que eu devolva
por imensos motivos
tão ásperas palavras.
Não mais nos atordoem
as horas
nós
desvairados, sem motivo, sem razão.
Não quero para o instante único
a racionalidade da lâmina
o corte ácido do tecido morto
Prisão, eu as tenho: engendradas
Constituída da própria carne e do próprio osso
A alma é outra coisa
terça-feira, outubro 03, 2006
POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
domingo, outubro 01, 2006
Dos poemas desnecessários
nesse instanste
são seus
e são meus
derramados
sou terra. sou pele.
não te direi:
o poema é esse lugar desnecessário
uns lugares por onde e andarei
aqui, estás comigo
terça-feira, setembro 26, 2006
Quando o amor bate as botas
quarta-feira, setembro 20, 2006
GUILHERME MANDARO
dos fragmentos
do trio elétrico
dos vapores em que andei
te dou o mapa colorido da capa do caderno
o brinco de metal
o termômetro que marcava minha febre
minha febre
o laço que prendia meu cabelo
domingo, setembro 17, 2006
Cantares de Perda e Predileção
Eu amo Aquele que caminha
Antes do meu passo
É Deus e resiste.
Eu amo a minha morada
A Terra triste.
É sofrida e finita
E sobrevive.
Eu amo o Homem-luz
Que há em mim.
É poeira e paixão
E acredita.
Amo-te, meu ódio-amor
Animal-Vida.
És caça e perseguidor
E recriaste a Poesia
Na minha Casa.
(XXIII)
* * *
Vida da minha alma:
Um dia nossas sombras
Serão lagos, águas
Beirando antiqüíssimos telhados.
De argila e luz
Fosforescentes, magos,
Um tempo no depois
Seremos um só corpo adolescente.
Eu estarei em ti
Transfixiada. Em mim
Teu corpo. Duas almas
Nômades, perenes
Texturadas de mútua sedução.
(LXVII)
(Cantares de Perda e Predileção - São Paulo: Massao Ohno & M. Lydia Pires e Albuquerque Editores, 1983)
O Poeta Inventa Viagem, Retorno e Morre de Saudade
Hilda Hilst
Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - O Poeta Inventa Viagem, Retorno e Morre de Saudade - I )
(Poesia: 1959 - 1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)
DO DESEJO
Hilda Hilst
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo - 1992)
MANOEL DE BARROS
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
Texto extraído do livro "Tratado geral das grandezas do ínfimo", Editora Record - Rio de Janeiro, 2001, pág. 17.
quarta-feira, setembro 13, 2006
Relógio
As coisas vão
terça-feira, setembro 12, 2006
palavra de Pagu
“Pagú veio ao Rio com Tarsila (...) a gente quando vê Pagú repete pra dentro aquilo que o Bopp escreveu: - dói – porque é bom de fazer doer!
- Que é que você pensa, Pagú, da antropofagia?
- Eu não penso: eu gosto.
- Tem algum livro a publicar?
- Tenho: a não publicar: os “60 poemas censurados” que eu dediquei ao Dr. Fenolino Amado, diretor da censura cinematográfica. E o Álbum de Pagú – vida paixão e morte – em mãos de Tarsila, que é quem toma conta dele. As ilustrações dos poemas são também feitas por mim.
- Quais as suas admirações?
- Tarsila, Padre Cícero, Lampeão e Oswald. Com Tarsila fico romântica. Dou por ela a última gota do meu sangue. Como artista só admiro a superioridade dela.
(...)
(Informações: - Pagú é a criatura mais bonita do mundo – depois de Tarsila, diz ela. Olhos verdes. Cabelos castanhos. 18 anos. E uma voz que só mesmo a gente ouvindo).”
Geraldo, ela é INFINITOS
Geraldo Ferraz, A Tribuna, 16/12/1962
sobre águas
eu queria agora um mar imenso
diante de mim
um mar solar
e uma lua esparramada
daquelas que nos
ilumina
o ventre
que nos dilata narinas
com a fartura do silêncio
com o imenso som do vento
eis o infinito
segunda-feira, setembro 11, 2006
terça-feira, setembro 05, 2006
sábado, setembro 02, 2006
Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.
Fragmentos de "Bagagem"
sábado, agosto 26, 2006
Uma certa Dona
quinta-feira, agosto 24, 2006
onomatopéia
Hei de buscar
a etimologia
da pedra bruta
E me perder
depois
e antes
e através dela
escorrer
entre dedos
e feras
navegar sem rumo
sem nau, sem mar
quarta-feira, agosto 23, 2006
Perfil
domingo, agosto 20, 2006
WALLY SALOMÃO
Palestra com o professor Flávio Boaventura
(gravada em 14 de dezembro de 2004).
Flávio Boaventura é
Graduado em Filosofia pela PUC Minas;
Mestre em Filosofia pela UNICAMP;
Doutorando em Literatura Brasileira pela PUC Minas;
Poeta, ensaísta;
Professor na Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas.
"Flávio Boaventura fala sobre a formação, a trajetória e companheiros do compositor e poeta baiano Wally Salomão (1943 – 2003). Filho de pai sírio e mãe sertaneja baiana, Wally teve uma formação cultural sincrética e multicultural. Dentre os vários poetas e artistas, com quem ele possuía afinidades, estavam Oswald de Andrade, Gregório de Matos, Hélio Oiticica e Lygia Clark. Wally foi um participante ativo do movimento tropicalista brasileiro, no final da década de 1960. Organizou, junto com o compositor Torquato Neto, a revista pós- tropicalista Navilouca, que contava com a participação de Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Hélio Oiticica, Ligia Clark, Caetano Veloso, Jorge Salomão, entre outros. Sua carreira de compositor foi marcada pela interpretação de várias de suas letras por artistas como Maria Bethânia, Gal Costa, Paralamas do Sucesso, João Bosco, Caetano Veloso, Lulu Santos, Cazuza e Adriana Calcanhoto.
Nessa videoconferência, Boaventura analisa a obra de Wally Salomão; demonstra como ele destrói os cânones da criação; explica a simbologia nos seus poemas e letras; fala da substituição da dialética pela diferença e o sentido do trágico no trabalho do poeta baiano."
teleconferencia@virtual.pucminas.br.
www.institutoembratel21.org.br/pontocomunidade
Pode? Que país é esse, meu Deus?
Internautas, o mundo globalizado foi totalmente retribalizado através da informação. Basta apertar um sinal e novas aparecem e tudo é possível. Até pode ser que uma bomba exploda. Tudo ficou numa grande urgência, então é preciso ficar forte e atento. Tenho horror a pessoas que saem por aí jogando coisas pelo chão das cidades bem em frente as latas de lixo. Vamos exercer nossa cidadania, nossa liberdade com carinho. Se você cuida bem de si, você cuida bem do seu amor, da sua família, da sua casa, da sua rua, do seu bairro, da sua cidade, do seu estado, do seu país, do mundo etc. e aí tudo melhora. Vamos colaborar, só os cretinos não querem participar de ajudar o mundo a não se afundar mais. Faça amor, não faça guerra. Por exemplo: as nossas estradas estão num estado lamentável. Crateras enormes no asfalto que engolem até um carro e ninguém faz nada. Fica difícil se movimentar de uma cidade para outra, de um estado para outro. O cidadão que paga altos impostos não pode ficar tão acomodado vendo um quadro de deteriorização cada hora se acentuar mais e mais.
sexta-feira, agosto 18, 2006
Marina Lima
"Eles dois não cantam, eles não são cantores [Cicero e Jorge Salomão], então eu queria entender porque que eles ficam tão encantados e sempre em volta de pessoas que cantam. Eu sei que é difícil se afastar de pessoas que cantam, porque eu mesmo sou cantora e não saio de perto de gente que canta... da sereia sai um peixe, do peixe sai um símbolo fálico, a sereia seduz, sabe, tudo isso eu acho esse conto da sereia a coisa mais certa..."
Fragmento de Texto-Poema de Jorge Salomão
Para um projeto hoje
É tarefa árdua.
Num mundo cada hora mais áspero,
Duro, sem utopias.
Mas não é impossível.
Tempo de sonhos?
Nem tanto...
Tempo de espalhar sementes,
Espalhar-se. (...)
Arte é assumir riscos?
Vencer desafios?
Clarear o escuro?
Para Hölderlin a essência da beleza
É a identidade na diferença.
Cabeças viajam nos seus universos.
Difícil viver sem sonhar.
Diferentes pontos luminosos se interligam.
Sem muros.
Jorge Salomão
Hotel Mauá Bela Vista / Santa TeresaRio de Janeiro / Brasil
Texto publicado na Revista da 15a. edição do Arte de Portas Abertas / julho de 2005
quinta-feira, agosto 17, 2006
PALAVRA DITA
Por nós (letra e música Cláudia F.)
Vou me aventurar
e ler
as tuas páginas
ou quem sabe
até fazer
uma canção de amor
derramar por aí
notas e lágrimas
e beber do teu sexo
tua voz e tua dor.
Tenho tantos planos
tantos lugares
todas as esquinas
toda solidão.
Eu sei,
rasgo a máscara
deixo a fantasia e viro
o jogo
do meu coração
E o tempo
negro como um blues
será por nós.
sexta-feira, agosto 11, 2006
PALAVRA DITA
domingo, julho 30, 2006
ARTE MODERNA, ALGUMAS PINCELADAS
por Cláudia Ferrari
Alguns historiadores afirmam que o século XX transformou-se e multiplicou-se em diferenças mais rapidamente do que em qualquer época anterior à sua e todas essas mudanças e experimentos, nas mais variadas vertentes, refletiram-se na arte. A Revolução Francesa, em 1789, é o marco do primeiro grande rompimento com a tradição. A partir daí, a história, a religião e a mitologia, não seriam, necessariamente, os únicos temas revelados nos trabalhos de pintores, escultores e arquitetos. Para a escritora Rosemary Lambert (1) essa atitude “constitui, realmente, o início da Arte Moderna”.
Dentro de todas essas possibilidades trazidas pelo novo século, e de movimentos artísticos que se sucediam e também se influenciavam – afirmando, negando ou tranformando -, surge o Abstracionismo que, traduzido através de artistas como, Vassíli Kandinsky, Jackson Pollock, Piet Mondrian, Bárbara Hepworth e muitos outros, abandona o paradigma da representação, o “tema reconhecível”, o objeto exterior. O espírito do Abstracionismo é a emoção, a “paisagem de sensações”, o sentimento interior, o instinto dando autonomia às cores e formas: esse o equilíbrio, o ritmo dessa pintura, a verve, o novo olhar.
Muitos desses artistas eram contestadores e, declaradamente, oponentes da sociedade em que viviam. A maioria desses movimentos, à medida que surgiam, eram rejeitados pelos convencionalismos acadêmicos e seus “júris oficiais”, recebiam ferrenhas críticas e seus artistas tornavam-se alvos do ostracismo, da hostilidade, da chacota, do escândalo e outras incompreensões. Com o Abstracionismo, não foi diferente. No final do século XIX, August Endell, pintor alemão art nouveau, afirmava que: “uma arte totalmente nova estava prestes a desenvolver-se, uma arte com formas que nada significavam, nada representavam e nada recordavam, mas que teria o mesmo efeito emocional da música. A música, que sai da mente do compositor e só se torna “real” quando é tocada, cria um estado de espírito ou uma atmosfera, ou até sugere formas e cores em nossas mentes..." Então, por que as formas e cores na mente do artista, que podem não representar qualquer objeto reconhecível, não estariam também completas quando pintadas numa tela?”
Atribui-se a Kandinsky (1866/1944), pintor russo, a “invenção” da Pintura Abstrata. Em 1931 é fundado o “Criação Abstrata”, um movimento internacional de artistas abstratos. Entre seus membros, Ben Nicholson, Arp, Mondrian e Kandinsky. O “Criação Abstrata” projeta e torna mundialmente reconhecida essa tendência.
Na década de 30, era crescente o medo de uma nova guerra. A instabilidade política fez com que muitos artistas e intelectuais europeus se refugiassem em Nova York. Entre eles, Hans Hofmann, Max Ernst, Salvador Dali, Joan Miró, Piet Mondrian, Arshile Gorky, que já residia nos Estados Unidos desde 1920, e muitos outros expoentes. Tal migração colaborou para o declínio de Paris e elegeu Nova York como o novo centro das artes. Nesse período, alguns artistas estabelecem um forte elo entre a América e os movimentos europeus.O Museum of Modern Art, em Nova York, expõe vários artistas europeus; Guggenheim inaugura um museu de arte não-objetiva, principalmente, a abstrata, levando a público importante coleção das obras de Kandinsky.
Sua fonte de arte era o inconsciente, além das idéias propagadas pelos surrealistas. Seu trabalho era considerado como “pintura de confrontação”. Para o escritor E.H.Gombrich (2), Pollock, “tornando-se impaciente com os métodos convencionais, colocou suas telas no chão e pingou, derramou ou projetou suas tintas de modo a formarem configurações surpreendentes”. Criador de um novo estilo, o artista foi um dos precursores da Action Painting ou “pintura de ação”.
LICENÇA POÉTICA
está em mim
a sua avassaladora presença.
vontade de você
no interminável espaço
das minhas horas.
estou invadida
de possibilidades.
MARGENS (letra e música Cláudia F.)
mas é que eu ando tão desafinado
também não fico procurando um tom
não se preocupe se eu estou errado.
não caiba dentro dos meus olhos
corra todos os perigos ou saia desse filme!
o poeta é um bandido sem eira nem beira
misto de louco e mendigo.
o poeta não cabe no próprio poema
o poeta é um subversivo.
o poeta é um anjo de línguas
a verve do próprio desejo.
o poeta é a festa, o carnaval do poema.
o poeta é o crime atravessando a palavra
o poeta e seus ismos, atímicos delírios.
o poeta engendrando amarras e gemas
pra depois explodir com todas as margens.
o poeta é a puta ocupando as esquinas
o poeta é a fama, o lado sacana, o bobo da corte
o poeta conspira um sonho pro mundo em seus calabouços.
quarta-feira, julho 19, 2006
Perdas e outros desaparecimentos
e nunca mais confiarei num agadê.
tudo bem.
era um poema que não traduzia o santo
não tinha a emoção, a dose, o quê.
talvez não fosse assim, tão devido, tão poema.
mas eu Perdi o Poema de Jorge
sei lá em que lua,
sei lá em que vento ou barranco cibernético
mas quando Jorge encontro
ELE E SEU CAVALO E SUA LANÇA.
terça-feira, julho 18, 2006
BLINDADO
palavras de arame farpado
cercam o impossível poema
trapézio, salto, circo
sou um intermediário.
e a palavra agora é pulso
a palavra é partida
a palavra é undida
a palavra é fudida.
uso e abuso
da palavra
sem tocá-la
sem vê-la
por puro prazer
de menosprezá-la
e se eu marco mais um x
a palavra é mortalha
a palavra é cicatriz.
sou a palavra bandida
sou a palavra do jornal
a palavra do porão
a palavra palavrão
sou o vilão
o filão
o desclassificado.
e nos encontramos
eu e a puta palavra
e pactuamos o poema fatal
o poema lascivo
o poema letal
o poema veneno.
e agora somos
apenas a palavra e eu
a palavra dita
a palavra maldita
um caco de vidro
no subúrbio do poema.